Crítica: Brawl in Cell Block 99 (2017)

Um dos melhores filmes lançados em 2015, até hoje muita gente desconhece. Estou falando do violento western Rastro de Maldade (Bone Tomahawk), produção que chegou ao circuito completamente fora do radar dos grandes lançamentos, protagonizada por nomes como Kurt Russell e Patrick Wilson, e dirigida com mão firme e pesada por um estreante, o jovem Z. Craig Zahler. Em minha crítica para o referido western, isso em 2015, mencionei que o nome de Zahler merecia um lugar no radar do público, pois o cineasta parecia realmente ter algo a dizer com seu cinema. Hoje, depois de conferir este ultraviolento Brawl in Cell Block 99 (EUA, 2017), seu segundo filme, eu posso afirmar com um sorriso no rosto: eu estava certo.

Desta vez, Zahler (responsável também pelo roteiro da produção), conta a história de Bradley Thomas (Vince Vaughn), que após perder seu emprego como motorista de um guincho e descobrir que sua esposa Lauren (Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose) o está traindo, decide esquecer tudo e recomeçar sua vida. Ele perdoa sua esposa, e juntos eles planejam construir uma família. Para isso, entretanto, Bradley teria de trabalhar por um curto período como um contrabandista de drogas, o que acaba funcionando bem por um tempo. Porém, quando uma negociação com um cartel acaba dando errado, Bradley é pego no flagra e encarcerado em um presídio de média segurança.

Sua situação piora ainda mais quando Lauren é sequestrada pelo chefão do cartel, que ordena a Bradley que encontre uma maneira de ir parar no presídio de segurança máxima Redleaf, e uma vez lá, Bradley teria de matar um dos detentos, para assim pagar sua dívida com o cartel. Caso Bradley não cumpra as ordens do chefão, o bebê que sua mulher está esperando será arrancado de sua barriga por um abortista (sim, é isso mesmo). A história então acaba se tornando uma espécie de “filme de fuga de prisão ao contrário”, com Bradley tentando ir parar em Redleaf para assassinar o detento da cela 99.

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Sempre fui fã do ator Vince Vaughn, mesmo reconhecendo que na grande maioria das vezes ele repete o tipo de personagem falastrão e folgado que o fez famoso em várias comédias. Entretanto, Vaughn tem mudado bastante seu escopo de atuação atualmente, como pôde ser visto na segunda temporada da série True Detective, por exemplo. Neste Brawl in Cell Block 99 contudo, Vaughn eleva seu nível de atuação a patamares que nunca havia chegado antes na carreira. O filme vive e morre com Vaughn, que entrega uma performance física, bruta e visceral, no papel de um homem que fala sussurrando, mas cuja verdadeira voz é a violência.

Não dá para negar que Brawl in Cell Block 99 tem uma vibe daqueles filmes de cadeia fuleiros exibidos na TV Bandeirantes. Contudo, o drama exposto no filme nunca soa barato, e se Zahler quisesse, ele poderia ter partido direto para a ação. Ao invés disso, ele toma seu tempo, sempre pausando a narrativa para que o público possa analisar a bússola moral do protagonista, que sempre que tenta fazer algo de bom, acaba tendo que enfrentar consequências ruins. Bradley não é um sociopata que procura pela violência, mas é na violência que ele se destaca. Ele parece ser um homem que não sente realmente nenhum tipo de dor física, mas também não é indestrutível. O protagonista é o tipo de homem que quando toma uma decisão, nunca volta atrás. Ele não barganha, não apela, e não despista. Ele escolhe um caminho e massacra quem estiver à sua frente.

Para Vaughn, sua performance em Brawl in Cell Block 99 não poderia ser mais diferente do que seus outros papéis. O ator não precisa que o público goste de Bradley, mas ele quer que o espectador entenda suas decisões. Ao invés de se apoiar no diálogo, Vaughn se apoia no físico, usando seu tamanho e estatura para controlar o tempo da cena, compondo um personagem que deve ser temido e respeitado, e cujas manifestações de violência expressam sua verdadeira e demolidora personalidade.

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A violência que ele impõe é aterrorizante, e Zahler caminha sobre uma linha tênue ao mostrar como esta violência carrega o que há de melhor e pior em Bradley. Sua habilidade em castigar pessoas é o que o colocou em sua difícil situação, mas é também a única coisa que pode salvar Lauren e seu bebê que está por vir. Resta então ao público torcer pela fúria destrutiva de seu protagonista, à medida em que Zahler a retrata com tanta brutalidade, que é impossível o filme ganhar uma censura inferior à dezoito anos. O filme exalta cada um de seus sangrentos momentos, e eles são tantos e tão brutais, que faz o filme anterior de Zahler, o citado e violento Rastro de Maldade, parecer um passeio no parque.

Brawl in Cell Block 99 pode não ser o filme que você espera, mas ainda assim é um filme surpreendentemente rico e poderoso, apesar de sua “impressão” de filme B. Ao invés de jogar a plateia no meio da porrada desde o começo, Zahler e seu filme querem que o público invista em Bradley e se importe com suas decisões, independente do fato do espectador saber que ele é um homem capaz de transformar um indivíduo em suco de carne. Graças à performance colossal de Vaughn e a direção sem concessões de Zahler, Brawl in Cell Block 99 consegue escapar ileso da corda bamba de ser um filme grindhouse, para ser um drama contundente que genuinamente se importa com seu trágico protagonista.

Brawl in Cell Block 99 ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através do serviço de streaming e VOD.

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