Crítica: Castelo de Areia (Sand Castle)

É sempre interessante acompanhar o trabalho de um diretor brasileiro em terras estrangeiras. Fernando Meirelles, Walter Salles e José Padilha são os nomes mais fortes do cinema brasileiro que se arriscaram nesta empreitada, onde após bons trabalhos em território nacional, decidiram se aventurar no cinemão americano.

Este ano marca uma nova incursão brasileira em Hollywood, na pele do diretor Fernando Coimbra, cineasta que ganhou bastante notoriedade graças a seu trabalho no suspense O Lobo Atrás da Porta (2013), onde dirigiu a excelente Leandra Leal, que interpreta uma personagem de gelar a espinha do espectador. Sucesso de público e crítica no Brasil, o filme também foi muito bem recebido lá fora, tendo sido premiado em diversos festivais. Tal resultado positivo e surpreendente do filme, abriu as portas do cinema estrangeiro para Coimbra.

Mas assim como o citado Walter Salles, que não se deu muito bem lá fora – seu terror Água Negra foi um fracasso de público e crítica em 2005 – Coimbra também derrapa um pouco neste Castelo de Areia (Sand Castle, EUA, 2017), sua estreia internacional no âmbito cinematográfico. Lembrando que Coimbra dirigiu também os episódios 07 e 08 da primeira temporada da ótima série Narcos, para a nova gigante do entretenimento, Netflix.

E foi para a própria Netflix que Coimbra dirigiu este Castelo de Areia. E apesar de eu ter utilizado o termo “derrapada” acima, o filme está longe de ser ruim. Na realidade, é um olhar até interessante sobre as mazelas da guerra, mais precisamente, sobre a Guerra do Golfo, que apesar de não ter sido tão violenta e destrutiva quanto a Segunda Guerra Mundial ou a Guerra do Vietnã, também deixou (e continua a deixar) suas tristes marcas em todos os envolvidos.

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Ambientado no ano de 2003, durante os momentos finais da ocupação do Iraque, um grupo de soldados americanos às vésperas de obter a tão sonhada dispensa do serviço militar para poderem voltar aos EUA, acabam sendo recrutados para uma última missão: Restabelecer o sistema de abastecimento de água de um pequeno vilarejo do país. Mas o que parecia uma missão simples e de rápida execução, acaba se complicando cada vez mais, levando cada um dos homens do esquadrão à enfrentar seus limites físicos e psicológicos.

O problema de Castelo de Areia consiste primordialmente de seu roteiro excessivamente estático, à cargo do estreante Chris Roessner, ele próprio um veterano da Guerra do Golfo. É evidente a mão firme de Coimbra na direção, tanto de seu bom elenco como nas sequências de ação do filme. Contudo, o roteiro de Roessner apenas recicla inúmeras situações já vistas em outras diversas produções do gênero, o que tira boa parte da visceralidade narrativa que este gênero tanto exige. Ainda assim, graças aos esforços e talento de Coimbra e seu elenco, Castelo de Areia ainda consegue se segurar, principalmente em seu sólido terço final. A produção ainda é pontuada por dois ou três momentos realmente fortes, que propelem este boost no clímax do filme.

O grande chamariz da produção, contudo, é mesmo seu elenco. Além do jovem e carismático protagonista Nicholas Hoult (o Fera do universo X-Men nos cinemas), Castelo de Areia conta ainda com o excelente Logan Marshall-Green (que arrebentou no excelente suspense The Invitation, lançado em 2015, e na estupenda série Quarry, a qual protagonizou em 2016), e também com o “Superman” Henry Cavill, que aqui continua a mostrar forte presença em cena, em um papel menor mas de vital importância para a trama.

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Apesar de carregar alguns problemas, Castelo de Areia marca a transição de mais um talento do cinema tupiniquim para as terras estrangeiras, comandando uma produção de difícil execução. Mesmo com seus desvios narrativos, trata-se de um filme válido, nem que seja por seu elenco bem acima da média, ou principalmente, por seu tema, que sempre rende um momento ou dois de reflexão por parte do espectador.

Castelo de Areia está disponível no catálogo da Netflix.

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