Crítica: Dívida Perigosa (The Outsider) | 2018

É curioso observar a trajetória da carreira do ator Jared Leto, hoje já no alto de seus 47 anos de idade. Leto começou a aparecer para o público ainda no final dos anos noventa, em papéis em filmes como Prefontaine, Lenda Urbana e Clube da Luta. Em 2000, o perturbador drama Réquiem Para um Sonho (Darren Aronofsky, 2000), colocou definitivamente o nome do ator no mapa, e desde então, Leto sempre esteve envolvido em diversos projetos, que transitavam desde produções mais “cabeça”, como o enigmático Sr. Ninguém (Mr. Nobody, 2009), até produções para o grande público, como O Quarto do Pânico (David Fincher, 2002) e O Senhor das Armas (Andrew Niccol, 2005). Vale lembrar que Leto é também o líder e o vocalista da banda de rock alternativo 30 Seconds to Mars, fundada em 1998 e ativa até hoje.

Mas foi em 2013 que Leto realmente surpreendeu a todos, público e crítica, com sua magnífica interpretação no drama Clube de Compras Dallas (The Dallas Buyers Club), drama dirigido por Jean-Marc Vallée (da série da HBO, Big Little Lies). Pelo papel do sensível travesti soropositivo Rayon, Jared levou para casa o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, assim como seu companheiro de cena na produção, Matthew McConaughey, levou o Oscar de Melhor Ator naquele mesmo ano.

2016 tinha tudo para ser o ano em que Leto entraria definitivamente para o rol dos astros de superproduções, quando foi escalado para interpretar o vilão Coringa na aventura de super-heróis da DC, Esquadrão Suicida (Suicide Squad), dirigido pelo irregular David Ayer (da superprodução da Netflix, Bright, cuja crítica você também encontra aqui no Portal do Andreoli). Entretanto, apesar do sucesso de público, Esquadrão Suicida foi um fracasso junto à crítica, e a performance do ator foi eleita de maneira unânime como a pior coisa do filme (ao lado, é claro, da “interpretação” medíocre da bonitinha mas ordinária Cara Delevigne, que como atriz é uma ótima sei lá o quê).

Tal fracasso na carreira pode ter colocado um freio no ator, que talvez por isso tenha optado por atuar novamente em filmes menores, como é o caso desta modesta produção original Netflix, Dívida Perigosa (The Outsider, EUA, 2018), que nem sequer chegará a ganhar um lançamento nos cinemas americanos. Ambientado em um Japão pós Segunda Guerra Mundial, Dívida Perigosa traz Leto no papel de um soldado americano aprisionado, que é solto com a ajuda de seu companheiro de cela que pertence à Yakuza, que para quem não sabe, consiste na temida Máfia japonesa. Uma vez fora da prisão, ele decide ganhar o respeito da cúpula da organização criminosa e também pagar sua dívida de honra, enquanto navega pelo perigoso submundo do crime do Japão.

Assim como aconteceu com outra recente produção com o selo Netflix, a excelente sci-fi Aniquilação (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), Dívida Perigosa sofreu com o mimimi da representatividade na internet antes de seu lançamento. Desta vez, a queixa dos frustrados e vitimistas de plantão é a de que o personagem de Leto deveria ser de origem nipônica, já que trata-se de uma produção ambientada no país e que aborda a Máfia local.

Mais uma vez, pura idiotice de quem não tem o que fazer. Oras, muito do filme gira em torno justamente deste choque cultural entre o ex-soldado americano e seu novo meio de vida, que não só o coloca do outro lado da lei, como o mergulha em uma nova e desconhecida cultura. Reclamar deste aspecto de Dívida Perigosa é a mesma coisa que dizer que O Último Samurai é racista porque Tom Cruise não é japonês. Por Deus, me poupem.

Falando do filme em si, Dívida Perigosa nem parece uma produção estrelada por um astro pop de Hollywood ganhador do Oscar. Extremamente discreto, Dívida Perigosa é um daqueles filmes tão comuns que fica difícil escrever algo sobre o mesmo que já não tenha sido escrito sobre inúmeros outros filmes do gênero. A direção, à cargo de Martin Zandvliet (do excelente Terra de Minas, 2015), apesar de correta, carece de uma identidade própria, e o filme carrega um feel de filme para a TV (sim, o filme é da Netflix, então só poderia ser feito para a TV, mas vocês entendem o que eu quero dizer). O roteiro de Andrew Baldwin (do fraco Atentado em Paris, 2016), transcorre sem maiores surpresas e/ou substância, e é mesmo Leto e seu esforço, e o bom elenco de apoio nipônico de nomes como Tadanobu Asano (de 47 Ronins, 2013), os principais motivos que justificam uma sessão do filme.

Apesar de trazer um nome de peso do time A de Hollywood como protagonista, este Dívida Perigosa segue um caminho discreto, tanto narrativamente quanto visualmente. O filme tem algumas breves mas boas sequências de ação, que valorizam o resultado final, mas acaba sendo pouco para transformar o filme em algo que não seja esquecido pelo espectador assim que chegam seus créditos finais.

Dívida Perigosa estreia nesta sexta-feira, 09 de Março, no catálogo da Netflix.

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