Crítica: Cães Selvagens (Dog Eat Dog)

A comédia de humor-negro Cães Selvagens (Dog Eat DogEUA, 2016) não se salvou por muito pouco. Já chegando condenada aos olhos do público, que não confia (e nem tem como confiar) na praticamente terminada carreira de Nicolas Cage, a produção começa contrariando esta impressão por parte do público, graças a uma narrativa ligeira e exagerada, mas de ar original e pungente. Principalmente levando-se em conta a ótima sequência inicial do filme, protagonizada pelo sempre ótimo (e cada vez mais esquisito) Willem Dafoe. O filme ainda se segura assim por dois terços de sua duração, até sucumbir à falta de inspiração e uma desnecessária necessidade de ser cult, que literalmente acaba com a produção.

No filme, Cage, Dafoe e o truculento Christopher Matthew Cook (de Dose Dupla, 2013), interpretam um trio de ex-presidiários que mesmo após duas condenações em suas fichas criminais, continuam a insistir na vida do crime. Cansado de se arriscar em golpes que pagam uma mixaria, Troy (Cage), o líder do trio, decide aceitar em seu nome e dos parceiros, o comando do sequestro do bebê de um dos devedores de seu contratante, mesmo que nunca tenha participado de um sequestro antes em sua carreira criminosa. É claro que as coisas não saem como planejado para o trio, e logo os companheiros terão não só que enfrentar os problemas decorrentes do sequestro, como também terão de suportar um ao outro.

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Cães Selvagens marca a reunião de Nicolas Cage com o diretor Paul Schrader, depois do fraco Vingança ao Anoitecer (Dying of the Light, 2014), filme que teria sido mutilado pelo estúdio, contra a vontade de Schrader e Cage. Schrader é um dos nomes de grande importância na história do cinema, com créditos como roteirista de clássicos do calibre de Taxi Driver (1976) e Touro Indomável (Raging Bull, 1981), ambos dirigidos por Martin Scorsese. Como diretor, Schrader também dirigiu sólidas produções, como Hardcore: No Submundo do Sexo (1979) e Gigolô Americano (American Gigolo, 1980), protagonizado por Richard Gere.

Nos últimos anos, entretanto, Schrader não tem encontrado a visceralidade que fez de seu cinema, referência no início dos anos 80. Juntar-se a Nicolas Cage também não parece ajudar muito sua carreira, já que Cage praticamente arruinou sua trajetória em Hollywood, com uma sequência absurda de péssimas escolhas de projetos. Em Cães Selvagens, Schrader abre mão do roteiro, que ficou à cargo de Matthew Wilder, do obscuro Your Name Here (2008). Flertando com o estilo acelerado e violento de diretores como Danny Boyle e Guy Ritchie, Schrader e Wilder até conseguem segurar o nível da produção por um bom tempo, apoiados na boa performance de Cage e Dafoe. Dafoe é inclusive, a melhor coisa do filme, disparado. Com uma performance que beira o insano, Dafoe está sensacional como um criminoso completamente facínora e descontrolado.

Infelizmente, a produção escorrega feio em seu terço final, abandonando a originalidade e mergulhando em uma sequência desconexa e apressada de acontecimentos. Chega a dar a impressão de que Schrader e Wilder passaram o roteiro para um terceiro terminá-lo, tamanha a disparidade de nível entre a conclusão da obra e o restante de sua duração. Prova disso é a absolutamente medíocre imitação de Humphrey Bogart impersonada por Cage nos minutos finais do filme. Chega a dar pena. Não sei se tal passagem existe no livro no qual o filme é baseado, do falecido autor e também ator Edward Bunker, que atuou em filmes como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) e Fábrica de Animais (Animal Factory, 2000), também baseado em sua obra. Mas se existe, tenho quase certeza de que seu contexto não é tão desconexo como aqui.

Como era de se esperar, Cães Selvagens não altera em nada o desprezível rumo da carreira de Nicolas Cage e tampouco faz algo pela carreira de Schrader. Deixando ileso apenas Dafoe, dono do filme. O mais triste é que o filme chegou bem perto de conseguir ao menos ser relevante, mas faltou cuidado com o roteiro e principalmente, um pouco de humildade em reconhecer que nem todo filme pode ser cult.

Cães Selvagens estreia nos cinemas brasileiros no dia 06 de Abril.

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