Crítica: Doutor Estranho (Doctor Strange)

Apesar de Doutor Estranho (Doctor Strange, EUA, 2016) oferecer poucos insights sobre a infância de seu personagem principal, imagino que não deve ter sido fácil crescer com um nome como Stephen Strange. Talvez isto explique o complexo que motivou Strange a se tornar um cirurgião tão arrogante da cidade de Nova York, exibindo suas habilidades no trabalho, e seu Lamborghini fora do escritório.

Nos mesmos moldes dos playboys Tony Stark e Bruce Wayne, Strange é um dos super-heróis menos sofridos do planeta. Entretanto, é exatamente esta questão – a determinação deste profundamente inseguro personagem em provar a si mesmo – que faz de Doutor Estranho um dos melhores exemplares do universo cinematográfico Marvel, que remete ao espetacular Corpo Fechado (Unbreakable), filme dirigido por M. Night Shyamalan em 2000, e que até hoje, é um perfeito exemplo do filme de super-herói em crise de identidade, e à procura de sua verdadeira alma. Um herói mais humano.

Sim, este novo projeto compartilha da mesma vibe visual e textura das outras produções Marvel, derivadas de sua obra central, Os Vingadores, mas ao mesmo tempo, apresenta uma bem-vinda camada de originalidade, que traz um frescor poucas vezes sentido nas últimas obras do estúdio, com exceção talvez, de Guardiões da Galáxia. Através deste personagem não tão conhecido do público, o estúdio criou um empolgante dilema existencial em que a busca de seu herói nada perfeito por um propósito, flerta de maneira interessante com o oculto, com a magia e feitiçaria, onde o Doutor Estranho finalmente encontra seu chamado.

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Nos últimos tempos, tenho percebido que há cada vez menos espaço para os diretores inovarem quando apresentam algum novo super-herói nas telonas. E as produções Marvel acabam ficando inconvenientemente parecidas umas com as outras. No entanto, como sua existência consiste um tanto à parte do núcleo do universo Marvel nos cinemas, Doutor Estranho permitiu a seu diretor, o correto Scott Derrickson (de A Entidade e Livrai-nos do Mal), uma certa liberdade criativa, já que a dimensão sobrenatural dos poderes do herói permitem que Derrickson quebre um pouco as regras da física, demonstrando inovação no segmento de produções Marvel. Derrickson também co-escreveu o roteiro ao lado de Jon Spaihts (Prometheus, 2012) e C. Robert Cargill (do citado A Entidade), que apesar de apresentar alguns furos e alguns diálogos bem fuleiros, não faz tanto estrago uma vez que suas situações são interpretadas por um elenco classe A, onde é claro, brilha mais uma vez a presença do ótimo protagonista Benedict Cumberbatch, completamente à vontade.

Após sofrer um grave acidente, em que perde o controle de suas competentes mãos de cirurgião, o doutor Stephen Strange procura aconselhamento com um homem chamado Pangborn (Benjamin Bratt, de Miss Simpatia), que teria quebrado sua coluna, mas que de algum modo, conseguiu curar a si mesmo. Apesar do ceticismo inicial, Strange segue o conselho do homem e viaja para Kathmandu, onde conhece o guerreiro Mordo (Chiwetel Ejiofor, de 12 Anos de Escravidão) e seu mestre, The Ancient One (Tilda Swinton, de Constantine), que serão os responsáveis pelo treinamento a la Matrix e pela transformação do personagem central em herói, que é claro, encontrará vilões em seu caminho (especialmente Kaecilius, interpretado pelo sempre ótimo Mads Mikkelsen, de A Caça), e também um interesse romântico na figura de Christine Palmer, interpretada pela bela Rachel McAdams, de Diário de uma Paixão.

Como não poderia deixar de ser em uma produção Marvel, as qualidades técnicas do filme são impecáveis, onde vertentes sci-fi como dobrar matéria e controlar o tempo, são apresentadas com efeitos-visuais de tirar o fôlego. Uma das sequências, em que Kaecilius utiliza tais vertentes com propósitos nefários, trazem ao filme uma inacreditável inovação visual, em que a modalidade dos “prédios que se dobram” vistos em A Origem, de Christopher Nolan, é levada à um hipnotizante extremo capaz de explodir a mente do espectador. Ciente do que tem em mãos, Derrickson impressiona visualmente com uma sequência psicodélica atrás da outra, usando e abusando de elaborados efeitos caleidoscópicos e elementos multidimensionais.

Tais sequências envolvendo enormes batalhas místicas e inovadores efeitos especiais são ótimas para o espetáculo, entretanto, a batalha mais fascinante de Doutor Estranho é a que ele trava dentro de si mesmo, à medida em que ele luta primeiro para retomar o controle de suas mãos, e depois para superar tudo o que aprendeu – não somente as leis da física, mas também o fato de que todo seu conhecimento e trabalho como cirurgião, não mais é aplicável em sua vida. No filme, o protagonista está literalmente lutando por sua vida, e Cumberbatch captura todas suas nuances, principalmente a recuperação de sua humildade e confiança, qualidades insubstituíveis em um herói. E heróis, inegavelmente, a Marvel conhece melhor do que ninguém.

Doutor Estranho estreia nos cinemas brasileiros no dia 03 de Novembro.

5 respostas

  1. Muito bom!!! hj mesmo estive aqui lendo a crítica do Estado de Librdade, e agora tem essa surpresa boa com a critica do Doc Strange. Excelente texto! abs..

  2. Excelente crítica! Benedict Cumberbatch sempre é tão versátil e atua tão bem! Eu adoro pesquisar e ver filmes tudo sobre a carreira dos atores e, quando vi na programação hbo a estreia desse filme, fiquei encantada. Adoro filmes que são baseados em fatos reais, ainda mais de política e de um assunto tão atual que preocupa a todos. Tem tudo pra ser mais um ótimo papel feito por Benedict. Super recomendo, é demais.

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