Crítica: Imperium (2016)

Este correto thriller policial provavelmente passaria batido pela maioria esmagadora do público, não fosse a presença do eterno Harry Potter Daniel Radcliffe, cuja mera presença no pôster do filme, já é suficiente para atiçar a curiosidade do espectador, em ver o ator se desvencilhando da figura do mago de Hogwarts. Com a cabeça raspada e olhar ameaçador, Radcliffe acaba sendo bem mais do que uma mera presença de apelo no material promocional da produção, e entrega uma performance nervosa, em linha com a pungente proposta do filme.

Imperium (EUA, 2016), traz Radcliffe como Nate Foster, um solitário e introspectivo agente corporativo do FBI, que sonha em um dia ter seu trabalho reconhecido. A grande chance de sua carreira, surge quando, à pedido da experiente agente Zamparo (Toni Collette, de O Sexto Sentido), Nate tem a oportunidade de atuar como agente de campo, infiltrado em um organizado grupo fundamentalista neo-nazista, que pode estar preparando um ataque terrorista à cidade de Washington D.C.

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O tema do tira/agente infiltrado sempre rende exemplares interessantes do cinema. Me lembro bastante de um ótimo filme, já um tanto antigo, lançado em 1992, de nome I.D.: Fúria nas Arquibancadas, onde um grupo de policiais ingleses se infiltra no mundo dos Hooligans, torcidas organizadas do futebol inglês que promoviam (e ainda promovem, mas em menor intensidade), verdadeiros massacres nas arquibancadas e arredores dos estádios. Neste Imperium, o diretor e roteirista estreante Daniel Ragussis utiliza muito da mesma atmosfera urbana e underground do filme citado, mas insere mais urgência ao tema, adequando-o a um dos grandes medos dos dias atuais: o terrorismo. Entretanto, é quando chafurda mais fundo na vertente do neo-nazismo e seus tentáculos, que Imperium realmente diz a que veio.

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O filme retrata com veracidade a inserção do protagonista em um mundo à parte, onde seus integrantes sobrevivem de acordo com suas próprias leis e códigos deturpados, espalhando ódio e violência por onde passam. Alguns dos diálogos da produção são inspirados, especialmente quando envolvem o momento em que o protagonista está sendo “sondado” pelo grupo de neo-nazistas. E alguns dos argumentos apresentados nas discussões envolvendo os personagens centrais, realmente levam à reflexão, a ao confronto entre a absurda vertente do nazismo, que ainda choca, mesmo nos dias atuais. Neste período da produção, destaca-se a atuação certeira de Radcliffe. Baixinho e franzino, Radcliffe consegue através de uma interpretação orgânica e urgente, transmitir uma vibração ameaçadora com seu personagem, o que cai como uma luva para o clima da produção.

A sempre ótima Toni Collette também emprega a competência de sempre em uma personagem vital para a trama, que se desenvolve com bom ritmo, mas que entrega uma conclusão tímida demais, tendo em vista o perigoso tema ao qual aborda.

Uma boa e contida estreia do promissor diretor Daniel Ragussis, Imperium não é para ser visto com olhos de super-produção, mesmo sendo estrelada por Radcliffe. É um olhar cuidadoso, mas não menos importante, sobre o quão longe alguns indivíduos se propõem a chegar, mesmo que embasados em um conceito sócio-político tão desgraçado como o nazismo.

Imperium não tem data de estreia no Brasil, e deve chegar direto ao mercado de home video.

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