As Tops do Kacic: Crítica- Jogo Perigoso (Gerald’s Game)

Dificilmente passamos um ano sem uma adaptação para o cinema ou TV da obra do mestre do horror Stephen King. Mas este 2017 definitivamente está sendo o ano do escritor nas mídias audiovisuais. Nunca antes o trabalho de King obteve tantas adaptações no período de um ano, e BOAS adaptações, inclusive. Houveram decepções, claro, como por exemplo a tão aguardada adaptação para o cinema da obra A Torre Negra, a mais ambiciosa criação literária do escritor, que não encontrou sua melhor tradução em sua versão cinematográfica, e também a série The Mist, produzida pelo canal podreira Spike TV, e que reduziu o célebre conto do escritor à uma série de narrativa fraca e valores visuais bisonhos. Vale relembrar que a história já foi adaptada para o cinema no excelente O Nevoeiro, filme dirigido por Frank Darabont em 2007, que por sua vez, adaptou outras duas histórias de King para o cinema, os espetaculares Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994) e À Espera de um Milagre (The Green Mile, 1999).

Entretanto, 2017 também reservou aos fãs de King duas das melhores adaptações de seu trabalho. A primeira foi It: A Coisa, produção dirigida pelo argentino Andrés Muschietti, que se tornou sucesso absoluto de crítica e principalmente de bilheteria, já que em sua terceira semana em cartaz, o filme se tornou a maior bilheteria do gênero horror em toda a história, superando o clássico O Exorcista, que se segurou no topo da lista durante longos 44 anos. Outra ótima surpresa foi o eletrizante seriado Mr. Mercedes, facilmente uma das melhores séries de TV baseadas no trabalho do mestre King. Apenas lembrando que você também pode conferir minha crítica de It: A Coisa aqui mesmo no Portal do Andreoli.

A mais nova produção a carregar a alcunha de Stephen King em seus créditos é esta Jogo Perigoso (Gerald’s Game, EUA, 2017), produção Netflix baseada em um dos meus livros preferidos do autor, lançado em 1992. Contudo, preparem-se: Jogo Perigoso não é o último King que veremos na TV este ano, pois a própria Netflix já divulgou o excelente trailer de 1922, filme baseado em um dos melhores contos do escritor, e dentro dos próximos meses, teremos também a série Castle Rock, coletânea de episódios baseados em contos de King. A série é produzida por J.J. Abrams, responsável também pela produção de outras duas séries baseadas no trabalho de King a chegar a TV: 11.22.63 e Sob a Redoma (Under the Dome).

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E de todas estas adaptações de King chegando às telas em 2017, Jogo Perigoso é a mais discreta delas. Dirigida por um nome ascendente do cinema de horror e suspense, Mike Flanagan (O Espelho, O Sono da Morte, Hush: A Morte Ouve), Jogo Perigoso traz a bela Carla Gugino (Watchmen: O Filme, série Wayward Pines) no papel de Jessie Burlingame, uma mulher que ao lado do marido, Gerald (Bruce Greenwood, de Eu Robô e Star Trek), parte para a afastada casa de campo do casal, que fica alguns quilômetros distante de qualquer civilização. Uma vez lá, o safadinho Gerald decide colocar em prática um de seus fetiches sexuais em ação, algemando Jessie à cabeceira da cama do casal. Contudo, quando Jessie resiste ao ímpeto masoquista do marido, Gerald acaba sofrendo um ataque cardíaco fulminante, e morre ali mesmo, na frente da mulher presa pelas algemas. Agora, Jessie terá de encontrar uma saída para sua situação, enquanto sobrevive sem água, sem comida e sem comunicação, além do fato de ter de sobreviver à outras ameaças externas, já que a porta da casa onde está ficou completamente escancarada.

O diretor Flanagan, que é fã declarado do livro de King, pouco altera do nível de tensão da história, e entrega um filme que prende o espectador do início ao fim. Trata-se de um dos raros casos onde o filme em si é realmente mais tenso do que seu trailer. Jogo Perigoso é tão cruel com Jessie quanto é com seu público, punindo à ambos não só com o tormento real enfrentado pela protagonista, como também através de uma série de alucinações e flashbacks que são igualmente aterrorizantes e em diversos momentos, comoventes. Fica nítida também a influência de um outro trabalho de King na concepção de Flanagan para este Jogo Perigoso: o célebre Louca Obsessão (Misery). A atmosfera, a vibe e a energia carregada remetem imediatamente ao filme dirigido por Rob Reiner em 1990, e que valeu o Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates.

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Flanagan nunca tira a narrativa do quarto onde se encontra a protagonista, forçando a audiência a experimentar a dor de Jessie, sendo que a única válvula de escape dela são suas horríveis memórias do passado, que aparecem como pequenos flashes na frente de seus olhos. Quando o espectador pensava que estar preso à uma cama já era duro o suficiente, a história de King mergulha profundo no passado de Jessie, um passado de abusos que parecia enterrado, mas não estava. Jogo Perigoso faz seu público experimentar diferentes níveis de dor, oferecendo uma perspectiva única sobre a quantidade de abusos que podem ser tolerados por uma mulher ao longo de sua vida. Contado através de uma perspectiva masculina, tanto a de King quanto a de Flanagan (o roteirista Jeff Howard também é creditado), o filme se desenrola como uma espécie de narrativa de auto-reflexão, ainda que imerso em uma atmosfera que flerta o tempo todo com o sadismo implícito na situação da protagonista.

Vale ressaltar o excelente trabalho da bela Carla Gugino, atriz que infelizmente nunca chegou ao primeiro time de Hollywood, apesar de ter beleza para isso. Aqui, Gugino carrega o filme praticamente sozinha, construindo uma personagem ímpar, em uma interpretação que equilibra com maestria a coragem e a vulnerabilidade de sua sofrida Jessie.

O diretor Mike Flanagan já havia provado ser um dos bons novos nomes do horror, mas com este Jogo Perigoso ele evidencia ser mais do que um cineasta preso à um gênero. Flanagan pegou uma história quase impossível de ser adaptada e a transformou em um thriller emocional, provocante e intenso, que com certeza deixa o mestre King orgulhoso, enriquecendo ainda mais o conteúdo do livro que escreveu em 1992.

Jogo Perigoso estreia hoje, 29 de Setembro, no serviço de streaming da Netflix.

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Uma resposta

  1. A historia está bem estruturada, o final é o melhor. Acho que a atmosfera do filme é estressante e te mantém no suspense até o final, realmente gostei. Stephen King é um gênio de terror, tem um talento incomparável, é o melhor escritor. Minha história favorita dele é It: A coisa, acho que Pennywise é um icone, recém vi o novo filme, dirigido por Andy Muschietti e adorei, é sensacional. Acho que é uma boa adaptação, o novo Pennywise é muito mais escuro e mais assustador, Bill Skarsgård é o indicado para interpretar o palhaço. Os filmes de terror são meus preferidos, evolucionaram com melhores efeitos visuais e tratam de se superar a eles mesmos. Aqui deixo os horários da estréia: https://br.hbomax.tv/movie/TTL612335/It-A-Coisa eu gosto da atmosfera de suspense que geram. It tem protagonistas sólidos e um roteiro diferente. O clube dos perdedores é muito divertido e acho que os atores são muito talentosos. Já quero ver a segunda parte.

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