Crítica: Little Monsters (2019)

Desde Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004), passando por Zumbilândia (Zombieland, 2009) e chegando até o recente Anna And The Apocalypse (2018), o que não tem faltado no cinema nos últimos anos são comédias sobre zumbis. Elas são tantas, que assim como as comédias românticas (as rom-com), também ganharam seu próprio apelido: “zom-com“. A mais recente contribuição ao subgênero é este Little Monsters (AUS/UK/EUA, 2019), filme escrito e dirigido pelo australiano Abe Forsythe, que apesar de não trazer exatamente nada de novo à vertente, ao menos é bastante divertido. O filme tem algumas gags ótimas, alguns sustos bem aplicados, uma boa dose de gore, e surpreendentemente, uma honesta pitada de sentimento, que ajuda a classificar o filme como um exemplar muito acima da média dentro do gênero.

Inspirado na professora do jardim da infância do filho do diretor Forsythe, Little Monsters imagina uma excursão infantil para uma fazenda no interior da Austrália onde tudo dá terrivelmente errado. Pouco depois de uma visita ao zoológico de pets, os membros da excursão encontram-se no meio de uma invasão de zumbis comedores de carne humana, e agora cabe à Srta. Caroline (Lupita Nyong’o, do thriller Nós), a professora das crianças, ao lado de seu assistente, Dave (Alexander England, de Alien: Covenant), salvar a situação.

Little Monsters é um híbrido de gêneros, porém, ainda assim encontra um pouco de dificuldade para encontrar seu ponto de equilíbrio. Por vezes é doce demais para o fã do horror, em outros momentos, pode soar vulgar demais para aqueles que procuram apenas algumas boas risadas. Contudo, Forsythe não parece se importar com isso, e povoa seu roteiro com gags mais do que explícitas, uma selvagem participação coadjuvante de Josh Gad (A Bela e a Fera, Assassinato no Expresso do Oriente), no papel de um performer infantil alcoólatra e viciado em sexo chamado Teddy McGiggle, e também a presença de várias crianças (todas uma graça) cantando de Taylor Swift a Neil Diamond.

É interessante observar também a evolução de Dave um pouco mais de perto. Trata-se de um personagem central que aprende a crescer e aceitar verdadeiramente as responsabilidades da vida adulta. Quando o público é apresentado a ele, Dave é o típico perdedor: Ele tem medo de ter os seus próprios filhos, sua namorada o deixou, e atualmente ele está dormindo no sofá da casa da irmã. Quando ele conhece Caroline, a professora de seu sobrinho que está no jardim de infância, ele se afeiçoa instantaneamente por ela (a ponto de se masturbar usando como referência uma foto dela oficial da escola). Quando aparece a chance, ele imediatamente se voluntaria para acompanhar a próxima excursão da escola apenas para conhecer melhor sua paixão, sem imaginar que tudo viraria de cabeça para baixo pouco tempo depois.

Quando a epidemia zumbi ocorre na fazenda, resultado de uma experiência mal-sucedida em uma base militar americana próxima ao local, a Srta. Caroline faz tudo que está ao seu alcance para proteger as crianças e evitar que elas virem jantar dos mortos-vivos, enquanto que Dave também aprende a cuidar dos pequenos, e o infame McGiggle surta, berra, bebe tudo o que encontra pela frente, e chega perto de sabotar a já frágil segurança de todos.

Little Monsters é boa diversão, com alguns zumbis realmente repugnantes e assustadores. Contudo, senti falta de alguma sequência marcante ou mais criativa do que o de costume dentro do gênero (o que você normalmente veria em um filme de Edgar Wright, por exemplo). Quando a Srta. Caroline descobre que decapitar os presuntos é a melhor maneira de imobilizá-los, e logo em seguida parte para cima de uma horda de zumbis com uma pá nas mãos, sem dúvida é divertido, mas não tem o impacto triunfante que seria esperado. Forsythe é muito mais bem sucedido com as gags mais sutis, como por exemplo o momento em que os personagens utilizam um trator para fugir dos mortos-vivos (sendo que o trator não passa dos 10km/h), ou a piada que envolve um dos garotinhos da escola que passa o filme todo querendo jogar golfe em miniatura, até que finalmente consegue realizar seu desejo, de uma maneira um tanto inesperada, eu diria.

Todo o elenco do filme embarca com os dois pés na brincadeira: Nyong’o está perfeita como a carinhosa professora/heroína; England encarna com perfeição o típico adorável perdedor, enquanto que Gad entrega uma tremenda quantidade de alívio cômico hiperativo à narrativa, além de algumas pérolas repletas de palavrões onde é impossível não rir. Os personagens em si talvez não transmitam uma conexão emocional mais verdadeira, mas Forsythe é bastante genuíno ao contar sua história. De fato, o fator mais importante deste Little Monsters é que apesar de ser um filme que mostra mais de uma vez os zumbis devorando entranhas humanas, trata-se também de uma produção que carrega um grande e sentimental coração por trás de todo o gore.

Little Monsters não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

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