Crítica: Loja de Unicórnios (Unicorn Store) | 2019

Unicorn Store

Originalmente produzido em 2017, este Loja de Unicórnios (Unicorn Store, EUA, 2019), foi exibido em alguns festivais sem muito sucesso. Praticamente dois anos depois e claramente se aproveitando do estrondoso sucesso de Capitã Marvel, a onipresente Netflix resolveu adquirir esta estreia na direção da atriz Brie Larson, para neste início de abril inseri-la em seu catálogo de streaming. O momento realmente é oportuno, já que Larson está na crista da onda em sua carreira, o problema é que Loja de Unicórnios não ajuda. É quase como se escondida em algum lugar do filme, houvesse uma boa história que nunca chegou a ver a luz do dia.

Poderia ser uma história sobre seguir sua visão artística, ou uma história sobre a dificuldade de amadurecer, especialmente naquela fase logo após a faculdade, ou poderia ser até um conto sobre querer a aceitação de seus interesses. Infelizmente, Larson encontra problemas em seguir qualquer uma destas possibilidades narrativas, consequentemente falhando em acertar o tom do roteiro da estreante Samantha McIntyre. Ao invés de abraçar a fantasia da história ou intercalá-la com uma observação mais impassiva, Larson tenta caminhar entre as duas opções apenas para ver seu filme despencar no abismo da mediocridade.

Kit (Larson) é uma entusiasmada estudante de arte cujo amor por cores vibrantes e unicórnios a fez ser reprovada na escola de artes. Vivendo com seus pais (Bradley Whitford, de Corra! e Joan Cusack, da recente série Desventuras em Série), Kit tenta tomar uma decisão mais responsável ao conseguir um trabalho temporário em uma empresa de relações públicas, onde ela rapidamente chama a atenção do esquisito vice-presidente da companhia, Gary (Hamish Linklater, de A Grande Aposta). No entanto, o que chama a atenção de Kit é uma misteriosa carta que ela recebe, a informando que uma nova loja possui o que ela sempre desejou. Quando ela vai até a tal loja, uma figura conhecida como O Vendedor (Samuel L. Jackson, iniciando a dobradinha que viria a repetir com Larson em Capitã Marvel), informa a ela que um unicórnio real está à caminho de suas mãos, mas Kit deve primeiro provar ser capaz de amar e cuidar da mítica criatura.

Partindo da perspectiva da personagem, Kit é uma boa variação na carreira de Larson. Ainda que ela não seja uma novata em comédias, seus maiores reconhecimentos ocorreram em materiais dramaticamente fortes, como Temporário 12 (Short Term 12, 2013) e O Quarto de Jack (The Room, 2015). Este Loja de Unicórnios é mais reminiscente do trabalho da atriz como coadjuvante em filmes como Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017) e Free Fire: O Tiroteio (2016), e posteriormente, é claro, seu papel como Carol Danvers, a Capitã Marvel. O papel central nesta comédia bobinha e de bom coração cai bem para Larson, que traz uma aura exuberante para a personagem (sem falar na beleza angelical da atriz). O sólido elenco de apoio também parece estar se divertindo um bocado no filme, especialmente Linklater e Jackson, e após ver a interpretação de Jackson aqui fica fácil entender o ótimo entrosamento entre ele e Larson tanto no filme em si como nos bastidores de Capitã Marvel.

Infelizmente, o restante de Loja de Unicórnios não faz justiça a seu bom elenco. Larson derrapa na direção, parecendo insegura do quão longe ela estaria disposta a levar a premissa, e acaba caindo entre duas abordagens que até poderiam funcionar separadamente, mas nunca de maneira simultânea. Há cenas em que Larson parece disposta a seguir uma direção voltada para os aspectos fantasiosos da produção, entretanto, fica a impressão de que ela poderia ter ousado mais no trabalho de câmera, na música e no design de produção. Os momentos inusitados até são engraçados, mas ao mesmo tempo minam as energias de um filme onde uma protagonista de 22 anos de idade quer genuinamente possuir um unicórnio de verdade.

Por causa desta falta de direção na narrativa, o filme simplesmente não funciona. As cenas são rasas, os relacionamentos entre os personagens são forçados e as decisões pouco convincentes. Ao tentar separar as diferenças entre seus dois tons, Loja de Unicórnios parece um meio filme. Pior ainda, o filme falha em seus objetivos mais modestos, o que me faz pensar no que aconteceria se Larson tivesse optado por uma abordagem de escopo maior e mais ambiciosa.

Indiscutivelmente, Larson é uma das melhores atrizes em atividade, e seja em qualquer filme, sua presença merece ser vista. Contudo, como diretora, fica a nítida impressão de que ela ainda está tentando se encontrar, o que é perfeitamente normal. Com apenas 29 anos de idade, e dirigindo seu primeiro filme, Larson ainda tem tempo de sobra para buscar um refinamento no ofício da direção, talvez aplicando aspectos de seus próprios talentos como atriz.

Loja de Unicórnios estreia no catálogo da Netflix no dia 05 de abril.

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