Crítica: Mope (2019)

Mope

No multibilionário mundo da pornografia, o termo “mope” refere-se ao ator pornô pouco conhecido, que geralmente não é lá muito bem dotado ou mesmo atraente o suficiente para atingir o sucesso dos “grandes” nomes do gênero. Os mopes são o que há de mais rasteiro na indústria, quase figurantes que vagam pelos sets de filmagem aceitando qualquer vaga meia-boca com aspirações que vão desde uma improvável cena individual de destaque, até participar de algum gang-bang que poderia lhe abrir alguma porta. Nesta produção independente exibida no Festival de Sundance deste ano, o termo é elucidado de maneira explícita e inesquecível, ao contar a história real de Steve Driver (Nathan Stewart-Jarrett, de A Recompensa, 2013), e Tom Dong (Kelly Sry, da série Awkward), dois mopes que decidem juntar seus esforços para conseguir entrar com os dois pés na indústria pornográfica e se tornarem astros da mesma.

Cheios de energia porém ingênuos, os dois acabam se envolvendo com o que acaba se revelando uma abusiva e controladora produtora do ramo pornô, gerenciada pelo mesquinho e vulgar Eric (Brian Huskey, de Artista do Desastre, cuja crítica está disponível aqui no Portal do Andreoli). Enquanto tentam de tempos em tempos estrelar alguma produção digna de nota dentro do gênero e assim dar alguma tração em suas carreiras, Driver e Dong vêem sua relação ser testada de maneira psicologicamente pesada e perigosa, onde traições e sombrios segredos enterrados vêm à tona com força total.

Mope (EUA, 2019), definitivamente é uma tremenda de uma montanha-russa de emoções. Algumas destas emoções, as mais pervertidas e perversas possível. Completamente à vontade e sem qualquer tipo de inibição, Mope retrata sem dó a estranheza, o escrutínio, a discriminação, o sacrifício, o horror, a dor, o abuso e o desconforto encontrados na indústria pornô, e ao mesmo tempo, ainda consegue equilibrar sua narrativa com momentos hilários e até humanos, que ressaltam ainda mais a natureza surreal do mundo da pornografia.

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A fotografia, à cargo do desconhecido Bryan Koss, é outra grande qualidade da produção, que dá ao filme uma espécie de aura do excelente Boogie Nights com pitadas do podreira Um Filme Sérvio (bom, pelo menos as partes mais leves do mesmo, se é que elas existem). Há excelentes momentos de humor de ocasião e recompensadores momentos centrados nos personagens principais, ainda que o roteiro do também diretor Lucas Heyne, em parceria com Zack Newkirk – ambos estreando em longas – e as performances, pareçam um tanto fora de tom em algumas passagens. No entanto, tive a impressão de que tal deslocamento da trama e dos personagens se deve na verdade à dedicação a uma certa perspectiva do todo, que fica mais clara uma vez que o filme vai chegando ao fim.

No elenco, a dupla Stewart-Jarrett e Sry é cativante, nos papéis do sem-noção e obcecado Driver e do nerd Dong, respectivamente. A história em si também é bastante curiosa, e prende a atenção do início ao fim, ainda que o ritmo da produção caia um pouco na metade do filme. Mas acredite: você definitivamente vai querer ver Mope até o final. Simplesmente não dá para perder a excelente conclusão do filme.

Dos filmes lançados em Sundance que pude conferir até agora, Mope definitivamente é um dos destaques. O filme revive a incrível sensação de quando conferi o citado Boogie Nights pela primeira vez, entretanto, há algo muito mais sombrio abaixo da superfície, que cabe ao espectador compreender em sua totalidade do que realmente estou falando. Mope consegue a façanha de ser uma pequena produção indie energética, altamente apreciável, intensa e até levemente aterrorizante. Nada como poder recomendar uma estranha história baseada em fatos reais sobre um perturbado sonho Hollywoodiano…

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Mope não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

Mope ainda não tem trailer oficial disponível, mas você pode conferir um clipe com uma hilariante sequência do filme abaixo:

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