O gênero da ficção-científica parece ter ganhado um fôlego nos últimos meses. Aqui mesmo no Portal do Andreoli, num espaço de dois meses, tive a oportunidade de falar sobre três novos exemplares do gênero, cada um deles atraente à sua maneira; o surpreendente The Endless, dirigido pela dupla Justin Benson e Aaron Moorhead, o interessante Mudo (Mute), dirigido pelo entusiasta do gênero Duncan Jones, e o ótimo Aniquilação (Annihilation), segundo filme do talentoso Alex Garland, da boa sci-fi Ex Machina: Instinto Artificial (2015). A boa maré de lançamentos do gênero continua com este Riqueza Tóxica (Prospect, EUA/CAN, 2018), um dos melhores filmes lançados no Festival SXSW deste ano, e que habita um gigantesco universo. Um universo cujo escopo surpreende e confunde a mente e a imaginação. E o público, bem, o público… este tem a oportunidade de obter apenas um pequeno, provocante vislumbre deste citado universo. MAS QUE VISLUMBRE, diga-se de passagem.
O que temos aqui é um filme de ficção-científica tão ciente de suas inevitáveis restrições orçamentárias, que acaba unindo tais limitações à sua própria mística. Como diz o ditado, uma imagem pode valer mais do que mil palavras, e é exatamente em cima desta máxima que Riqueza Tóxica NÃO constrói seu próprio universo, já que a escala da produção reside justamente nas margens do que não é visto. Este pequeno conto de sobrevivência transcorre em uma galáxia em que o filme desafia o publico a conceber e imaginar. É exatamente na imaginação, algo que o público de hoje em dia praticamente não usa mais devido aos showfests visuais de praticamente todos os filmes atuais que flertam com o fantástico, que Riqueza Tóxica mostra a que veio.
Ambientado em um futuro não especificado, Riqueza Tóxica até parece uma daquelas adaptações de uma longa e perdida série de livros de ficção-científica dos anos setenta. Aqueles tipos de livros onde a capa trazia homens e mulheres usando roupas espaciais e enfrentando algum tipo de perigo, enquanto viajam por paisagens alienígenas e se esquivam de disparos de raio-laser. Mas colocando as impressões de lado e focando na narrativa, Riqueza Tóxica conta uma história pessoal, até íntima de certa forma, mas que se passa em um cenário de outro mundo. Os detalhes, e a enorme escala do que se passa por trás da narrativa, funciona como um incrível cenário para situar o roteiro dos estreantes Chris Caldwell e Zeek Earl.
O filme é dirigido pelos próprios, e conta a história da jovem Cee (Sophie Thatcher, da série O Exorcista) e seu pai, Damon (Jay Duplass, de Cidades de Papel, 2015), que viajam para uma distante lua alienígena para procurar por valiosos recursos escavados por criaturas que vivem sob o solo do local. Damon é um viciado em drogas, e está disposto à tudo para encontrar algum bem valioso o qual possa trocar para manter o seu vício. Por consequência, a vida de Cee consiste em ser arrastada junto de seu pai a cada perigoso novo trabalho que ele encontra, e a relação entre os dois já se deteriorou faz tempo.
E como tudo que é ruim sempre pode piorar, a nave em que estão sofre uma grave avaria, e eles logo encontram o obscuro Ezra (Pedro Pascal, das séries Narcos e Game of Thrones), que já se encontra preso na lua há algum tempo. Não demora muito para os três constatarem que seu tempo está se esgotando, e que se não conseguirem descobrir logo uma maneira de sair do local, ficarão presos lá para sempre. Começa então uma desesperada luta pela sobrevivência, porém não do jeito que você imagina…
Riqueza Tóxica então se desenvolve exatamente como uma surpreendente e direta jornada de sobrevivência por parte de seus exploradores espaciais, que encontram-se em um planeta hostil visitado frequentemente por visitantes ainda mais hostis. Sem falar no ar venenoso responsável por colocar o trio de protagonistas em uma contagem regressiva pela vida. Neste cenário, brilham as presenças de Thatcher e Pascal. Pascal esbanja seu carisma habitual em um papel que transita entre o do genial astronauta de Perdido em Marte, até o patético Dr. Smith da série Perdidos no Espaço. Thatcher mostra-se uma revelação com um grande futuro pela frente, e ambos os personagens funcionam como retratos ambulantes de um mundo exaurido, mas com uma rica história sobre um universo de incontáveis possibilidades.
Também ajuda o fato de que Riqueza Tóxica é visualmente fantástico. O design de produção é detalhista ao extremo, com destaque para as naves detonadas, as roupas espaciais gastas e o armamento que parece ser descendente de tecnologias antigas e futuristas ao mesmo tempo. Mas a cereja visual do bolo é mesmo o intocado mundo alienígena em que os personagens se encontram e no qual o filme é ambientado, que consiste em uma floresta reinventada como algo hostil e inimaginável, graças a pequenos toques de CGI aplicados nos locais exatos. Como eu mencionei, Riqueza Tóxica é um filme de baixo orçamento, mas que nunca parece barato. É também um filme pequeno, mas que nunca se compromete a entregar algo que não pode à seu público.
Riqueza Tóxica é o tipo de ficção-científica que precisamos ver com mais frequência nos cinemas, contada por cineastas que não permitem que a vastidão de sua visão seja massacrada pelo escopo limitado do que eles tem em mãos para trabalhar. Caldwell e Earl construíram um envolvente conto sobre confiança, sobrevivência e redenção situado em um universo que demanda uma exploração a mais. Eu não preciso de uma sequência deste Riqueza Tóxica. O filme sobrevive por si só. Mas que o filme me deixou sedento por mais um vislumbre de seu universo, isso deixou.
Riqueza Tóxica está disponível no catálogo da Netflix.
https://www.youtube.com/watch?v=jKuZXNFaX1I
Respostas de 4
Concordo plenamente com a crítica, deixou um gostinho de quero mais! Vale muito a pena explorar mais o universo com outras histórias
Pode ser bom pra que vem vive de crítica de cinema, mas para os 95% dos afegãos médios como Eu que gosta de uma boa trama o filme é uma porcaria. Tirando os os atores que realmente são bons , o resto é ruim. A história é mal contada. Comeca o filme sem saber da onde vieram e pra onde estão indo. Sem pé e sem cabeça. A cereja do bolo é o homem vermelho que aparece e não se fala nada sobre o cara. Nota 1
Sou amante de filmes de ficção científica, qualquer cena no espaço pra mim já ganha uns pontos, mas esse filme daí…. pelamordedeus! Nota 2.
Como todo filme de ficção científica produzido ou apresentado pela Netflix este é mais um exemplar onde tudo é baixo e ruim, desde o orçamento, a narrativa improvável e personagens ainda mais caricatos. Quem gosta deste tipo de filme são críticos da nova geração, onde a plausabilidade, a relação, por mais estranha que seja, tenha algum sentido ou futuro, e que a história contada no final não pareça exatamente o que é, uma colcha de retalhos de personagens impossíveis tendo relações minimalistas ao extremo, e todos fazendo um esforço enorme para que o filme termine e as pessoas se perguntem: Por que eu fui embarcar numa baboseira de filme B que já de cara mostrava que ia ser a bomba do ano.