Crítica: Sicario: Dia do Soldado (Sicario: Day of the Soldado) | 2018

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Esta sequência do excepcional thriller de 2015, Sicario: Terra de Ninguém, pode não ter a força de um Denis Villeneuve por trás das câmeras, mas Sicario: Dia do Soldado (Sicario: Day of the Soldado, EUA/ITA, 2018), é definitivamente um filme forte, sobre o peso das ações e suas incontroláveis consequências, e que como poucos filmes atualmente, evoca desesperadamente um terceiro e definitivo capítulo.

Na época em que foi anunciada ao público, esta sequência ao original de Villeneuve parecia desnecessária para a maioria dos fãs do filme de 2015. O fato de que o próprio Villeneuve, a protagonista Emily Blunt e o diretor de fotografia Roger Deakins não retornariam para a continuação criaram ainda mais desconfiança no público. Mas apesar do ceticismo em torno da produção, os fãs não tem do que reclamar. Dia do Soldado é simplesmente soberbo. Tenso e arrojado do início ao fim, o filme ainda guarda alguns momentos de partir o coração, além de performances impecáveis de sua dupla de protagonistas, Benicio Del Toro e Josh Brolin.

Em Dia do Soldado, o letal “sicario” (ou matador, se preferirem) Alejandro (Del Toro), é novamente recrutado pelo agente federal Matt Graver (Brolin) para sequestrar a filha de um infame chefão das drogas. O plano é usar o sequestro para começar uma guerra entre dois cartéis, e assim eliminar a ambos do mapa. Porém, quando o plano é exposto, Alejandro recebe ordens para matar a garota (Isabela Moner, de Transformers: O Último Cavaleiro), mas mesmo um assassino frio e impiedoso como Alejandro não está disposto a eliminar uma criança, e sua recusa ameaça dar início à uma nova e verdadeira carnificina.

O filme é dirigido pelo cineasta italiano Stefano Sollima (da excelente série Gomorrah), que tinha a ingrata missão de substituir o excelente Denis Villeneuve na cadeira de diretor. E o italiano não decepciona. Sollima entrega uma sequência que eu mesmo julguei desnecessária, mas que agora depois de vista, tornou-se extremamente necessária. É claro que a grande força de Dia do Soldado está no roteiro fenomenal (mais um) de Taylor Sheridan, que além de direto e econômico, ainda transmite um insuportável senso de tensão. Vale lembrar que além do roteiro do filme original, Sheridan entregou duas outras obras fenomenais; o exemplar À Qualquer Custo (Hell or High Water) e Terra Selvagem (Wind River), que inclusive marca sua estreia na direção. Você pode conferir as críticas dos dois filmes aqui mesmo no Portal do Andreoli.

O roteiro de Sheridan se aprofunda nos personagens vividos por Brolin e Del Toro de maneiras inesperadas, e mais uma vez, ambos correspondem com plenitude. Del Toro é a pura competência de sempre, enquanto que Brolin ganha mais espaço nesta sequência com a saída de Blunt, e o ator faz valer cada minuto em cena. Aliás, que ano para este ator; primeiro, encarnou o mega-vilão Thanos em Vingadores: Guerra Infinita. Depois, foi o antagonista Cable em Deadpool 2 (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), e agora, é mais uma vez protagonista de outro excelente filme, dando dimensão e profundidade à seu Matt Graver.

Dia do Soldado pode não trazer o esplendor visual do filme dirigido por Villeneuve, mas o roteiro soberbo de Sheridan e a mão firme de Sollima nunca deixam o filme sequer passar perto de escorregar. Me arrisco inclusive a dizer que Sollima se sai até melhor que Villeneuve no que diz respeito ao trabalho com os atores. Além disso, o filme é extremamente atual. Há pouco de preto e branco na fronteira entre o México e os Estados Unidos, e esta inconstante e perigosa zona cinza é completamente capturada pelo roteiro de Sheridan. Trata-se de um thriller dramático com algo realmente importante a dizer. A jovem Isabela Moner também está ótima na produção, e numa nota mais íntima, o filme é dedicado ao falecido compositor islandês Jóhann Jóhannsson, responsável pelo score do primeiro filme e que morreu em fevereiro deste ano aos 48 anos de idade. Quem o substitui é seu conterrâneo Hildur Guðnadóttir, que atuou como violoncelista na orquestra do filme original.

Sicario: Dia do Soldado é sombrio e perturbador, um produto que amplia e enriquece os elementos narrativos do primeiro filme. Junte à isso as presenças nervosas de Del Toro e Brolin e o resultado é fogo na bomba! Tenso, emocionante e orquestrado de maneira sólida, é uma espécie de Perigo Real e Imediato (Clear and Present Danger, 1993) para a nova geração. Porém muito, mas muito mais visceral e empolgante.

Pouco antes de escrever esta crítica, me deparei com a notícia de que devido à ótima recepção deste Sicario: Dia do Soldado, existe a possibilidade concreta da realização de um terceiro e derradeiro capítulo para a saga. A agente Kate Mercer, interpretada por Emily Blunt e protagonista do primeiro filme estaria de volta, e confesso que após conferir os acontecimentos deste segundo filme, seria sensacional (e faria muito sentido) tê-la de volta no jogo. Caso estas informações realmente se concretizem, e com Taylor Sheridan responsável mais uma vez pelo roteiro da produção, estaríamos possivelmente falando de uma nova trilogia cinematográfica definidora de gêneros. Pessoalmente, eu não vejo a hora disso acontecer.

Sicario: Dia do Soldado estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, dia 28 de Junho.

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