Crítica: The Witch in the Window (2018)

Quem me conhece ou acompanha meus textos sabe do meu imensurável amor pelo gênero horror. E dentro deste gênero, existe uma vertente tão emblemática quanto o próprio gênero: As casas assombradas. A questão é que, depois de tantos exemplares, bons e ruins, tal vertente parece ter atingido seu limite. É cada vez mais difícil encontrar um exemplar de terror envolvendo casas assombradas que tenha algo original, ou pelo menos assustador em sua concepção.

De vez em quando, porém, surge aquele pequeno filme, na surdina, que sorrateiramente rasteja até fixar-se no subconsciente e na memória do incauto espectador. Para mim, este ano tal filme é este The Witch in the Window (EUA, 2018), filme que vai além do mero elemento do susto e do clima sombrio, para levar o público à inesperadas reflexões: Se pessoas são como casas, então uma casa assombrada é meramente uma pessoa que ainda precisa lidar com o fantasma que habita dentro dela.

No caso de Simon (Alex Draper, de Joshua: O Filho do Mal, 2007), o protagonista deste The Witch in the Window, seu fantasma interno são os refugos de um casamento falido, o “ser” que impede com que Simon possa superar e seguir em frente na vida. Neste impressionante filme escrito e dirigido por Andy Mitton (dos apenas regulares YellowBrickRoad e We Go On), fica evidente que este estranho conto carrega um punch tão emocional quanto assustador. E olha que o filme tem alguns momentos de gelar a medula…

A dissolução da unidade familiar tem sido um tema popular nos filmes de horror em 2018, e The Witch in the Window não é exceção. Com filmes como Hereditário (Hereditary) e Um Lugar Silencioso (A Quiet Place) fazendo barulho e impressionando o público com primorosas performances e direção competente, poderia ser arriscado para alguém tentar trilhar este mesmo caminho no comando de um filme menor. Entretanto, em total domínio de suas funções de roteirista e diretor, Mitton conseguiu construir um cativante e aterrador drama familiar que carrega sua própria identidade. Vale lembrar que você pode conferir as críticas de Hereditário e Um Lugar Silencioso aqui mesmo no Portal do Andreoli.

Tudo começa quando Finn (Charlie Tacker), um garoto de doze anos de idade, assiste a algo que não deveria na internet, deixando sua mãe furiosa e forçando-a a enviar seu filho para a casa de Simon, seu ex-marido e pai do garoto, até que ela possa conseguir olhar novamente na cara do menino. Pego entre a cruz e a espada, Simon relutantemente permite que o filho ao qual vinha evitando por toda sua vida, o acompanhe e o ajude em seu novo projeto, que consiste em renovar uma velha casa de fazenda no interior de Vermont.

À medida em que a dupla começa a trabalhar na reforma, por vezes conversando sobre a mãe de Finn e com o garoto perguntando o tempo todo sobre o casamento que não deu certo, aos poucos começa a ficar claro de que eles não estão sozinhos na casa. Uma sombria e sinistra figura começa a aparecer pelos cantos escuros do local, espreitando, observando. Por vezes, seu rosto desaparece tão rápido que chega a parecer que trata-se de uma alucinação. Mas ela está lá. Uma bruxa aguardando o momento certo, se aproximando, tornando-se cada vez mais poderosa e menos paciente.

Eventualmente, o amigável eletricista da vizinhança, Louis (Greg Naughton, do drama indie The Independents), um tanto tímido com relação à entrar na propriedade para dar uma olhada nas luzes, admite para Simon e Finn que ele tem medo da casa, e do fantasma da mulher que a habita. Louis explica que anos atrás, uma mulher acusada de bruxaria ocupou a casa com seu marido e filho, ambos misteriosamente encontrados mortos na propriedade. Louis diz que o local sempre o fazia ter pesadelos, que o levaram ao sonambulismo, e toda vez que abria os olhos, ele acordava nos limites da propriedade. Ao olhar para a janela, Louis podia vê-la, a bruxa, olhando de volta para ele. Quase como se ela o tivesse atraído para lá. Um dia, finalmente, quando Louis acordou de um de seus pesadelos, encharcado de suor e parado à frente do gramado da casa, ele percebeu que a mulher não estava piscando enquanto ficava sentada em sua cadeira em frente à janela. Aparentemente, ela já estava morta há algum tempo, os olhos abertos e sem vida encaravam na verdade, o vazio.

Simon à princípio não leva a história muito à sério, considerando-a pura superstição, mas uma vez que a tal bruxa começa a mostrar a extensão de seus poderes, Simon percebe que ele tem tanto controle sobre proteger seu filho deste espírito, quanto tinha em seu casamento destruído. Os fantasmas estão vindo pegá-lo, tanto literalmente quanto figurativamente, e ele não pode fazer nada a não ser assistir.

Atmosférico, desconcertante, e tremendamente assustador, The Witch in the Window é um dos mais excitantes filmes de horror do ano. A química tangível e crível entre os talentosos Draper e Tacker, que interpretam pai e filho, ajuda a plateia a estabelecer um forte laço com os personagens, o que faz com que a situação enfrentada pelos dois se torne ainda mais angustiante quando ambos estão em perigo. É difícil não torcer para a dupla conseguir sair viva da situação, reestabelecer sua estrutura familiar, e banir o fantasma de sua nova propriedade. E por causa disso, é de partir o coração a cada vez que a vida puxa o tapete dos dois e os coloca em seus lugares.

Através de imagens macabras e sombrias, Mitton habilmente brinca com a possibilidade de distorção da realidade. Estaria tudo realmente acontecendo com Simon ou seria a dor de seu passado se manifestando contra ele próprio? Surpeendentemente tocante, esta assustadora história sobre um espírito que se recusa a ir embora faz o público olhar todo o tempo por cima do próprio ombro, enquanto o faz refletir sobre seus próprios esqueletos no armário. Estamos nós destinados a encarar o passado na forma de um fantasma que não parte deste nosso mundo, plano ou existência? Nós nos amaldiçoamos quando tentamos reparar o que está quebrado há tanto tempo? Uma coisa é certa: The Witch in the Window não é um filme para deixar de ser visto, e estou de olho no que Andy Mitton fará a seguir.

The Witch in the Window não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

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