Crítica: Tully (2018)

Apesar dos nomes de peso da atual comédia americana envolvidos no projeto, é mesmo a presença da inoxidável Charlize Theron o grande chamariz deste Tully (EUA, 2018). Acostumada a carregar diversas produções nas costas (vide o recente Atômica, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), a atriz mais uma vez engole todos os aspectos da produção ao seu redor, mostrando sua veia cômica em uma comédia que faz humor de maneira peculiar e até um tanto sombria.

Tully apresenta ao público a grávida de nove meses, Marlo (Theron), que já não vê a hora de colocar logo o bebê para fora da barriga. Um de seus outros dois filhos, Jonah (Asher Miles Fallica, das séries Ozark e Outcast), enfrenta um desafiador caso que parece ser síndrome de Asperger, enquanto que o marido de Marlo, Drew (Ron Livingston, de Invocação do Mal), prefere passar o dia jogando vídeo-game do que cuidando das crianças. Para piorar, Jonah é afastado da prestigiosa escola particular em que estuda por ser muito “peculiar”.

Depois de dar à luz à sua filha, Mia, Marlo rejeita uma oferta de seu abastado irmão (o ótimo Mark Duplass da franquia Creep, cuja crítica do segundo exemplar você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), que se propõe a pagar uma babá noturna que possa cuidar da bebê enquanto Marlo regulariza seu sono. À princípio ela refuta a ideia, mas logo acaba aceitando a proposta depois de constatar que a pequena Mia chora tanto quanto faz cocô. A comédia dá uma guinada com a entrada em cena da Tully do título (a bela Mackenzie Davis, de Blade Runner 2049), uma garota de 26 anos e dona de um espírito livre e espontâneo, que aos poucos conquista Marlo. Como era de se esperar, as duas se aproximam e aos poucos, Marlo reencontra a alegria de viver.

Tully marca a terceira colaboração entre a roteirista Diablo Cody e o diretor Jason Reitman, depois de Juno (2007) e Jovens Adultos (2011), este também protagonizado por Theron. Os fãs do trabalho da dupla vão aprovar esta jornada através da vida de uma família que em nada tem a ver com o citado Juno; se aquele filme abordava a história de uma gravidez adolescente, aqui Cody e Reitman retratam a gravidez no que seria uma idade um tanto tardia, um aspecto familiar que, convenhamos, tem se tornado mais corriqueiro nos dias de hoje.

É claro que Theron é o grande chamariz do filme, sua maior credencial. Contudo, o roteiro de Diablo Cody segura as pontas, e aos poucos, o espectador deixa de acompanhar a atriz Charlize Theron e passa a se importar com sua Marlo. Apesar de aos poucos o roteiro se entregar para a previsibilidade e perder sua acidez, seu tema central nunca perde força, e sua fenomenal dupla de protagonistas femininas elevam o patamar da produção.

Se em Jovens Adultos Theron capturou em sua performance as dificuldades da entrada na meia-idade, aqui ela tenta transformar a si mesma até fisicamente ao ganhar peso, por exemplo. Ainda assim, seu rosto mantém a mesma beleza clássica de sempre, dando à sua maltratada dona de casa a aparência de uma antiga escultura. Já Mackenzie Davis como a titular Tully está radiante, esbanjando uma sedutora confiança no papel de uma jovem cheia de vida, que representa tudo o que Marlo deixou para trás. Mark Duplass, no papel do irmão, e Elaine Tan (Vício Inerente, 2014), no papel da cunhada de Marlo, também encarnam bons personagens coadjuvantes.

O roteiro do citado Juno carregava charme e leveza ao abordar uma história sobre enfrentar as calamidades que supostamente nunca deveriam acontecer, como uma gravidez adolescente não planejada. Em Tully, o dinheiro, ou a falta dele, é a raiz do stress de Marlo. Reitman e Cody não deixam o público esquecer que ter um bom casamento ou criar filhos é frequentemente sobre ter recursos para pagar pela ajuda de alguém. Um pequeno estudo dos compromissos e frustrações da vida familiar, Tully pode parecer despretensioso à primeira vista, mas na realidade tem material para levar sim à reflexão.

Tully estreia nos cinemas brasileiros no dia 24 de Maio.

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