Bom dia meus queridos amigos,
No ano passado uma amiga me disse que ficou chocada ao ver uma pessoa utilizando as redes sociais e fazendo uma Live enquanto todos estavam fazendo uma oração em conjunto, outros demonstravam profundo e sincero quebrantamento, e outros ainda gostariam de fazer daquele momento, um momento único e pessoal.
Eu sei que você sabe do que estou falando.
Eu sei que toda hora o que mais existe é o oposto da proposta desta coluna que nos convida para uma espiritualidade SEM a visibilidade das redes sociais. Até porque quem não quer ser visibilizado nas redes sociais?
A espiritualidade COM a visibilidade das redes sociais talvez tenha se tornado a maior de todas as tentações do mundo onde Lives no Youtube e Instagram podem trazer centenas ou milhares de visualizações.
Por exemplo, eu estou escrevendo a partir do ponto de vista da minha própria experiência sendo um cristão, mas sei que toda e qualquer outra forma de espiritualidade passa pelas vias da humildade ao invés do exibicionismo, da individualidade ao invés do individualismo, e da individuação ao invés da incessante e doentia busca de aplausos em nome de Deus, dos academicismos teológicos, ou em nome da religião.
Isto posto, a espiritualidade SEM visibilidades que eu conheço pela leitura dos evangelhos nos remete para um convite simples de Jesus.
Ora, tal convite é para entrar no meu quarto e ser visto por Aquele que vê tudo, e sabe tudo. Isto deveria nos bastar. Você não acha?
De modo que Aquele a quem eu busco em oração, portanto, se ele me ouve e me vê, logo, deveria ser suficiente para nos trazer alento e confiança pelo fato de estar sendo visto por Ele. Você não acha? Sim. Mas, não é assim!
A impressão que temos é que ser visto pelo Divino não basta.
Até porque a tentação é ter mais visualizações e sempre comparar-nos com o vizinho que tem centenas e milhares de seguidores. Até porque sutilmente o anseio é estar na praça pública sendo aplaudidos enquanto a nossa pseudo-popularidade viraliza por todos os lados nos canais de Youtube e Reel do Instagram.
O que vale é mostrar que estamos em ação, “luz, câmera e ação!”
As nossas ações sociais, esmolas e doações nos dão ares de orgulho tanto quanto os nossos sacrifícios em nome de Deus, jejuns piedosos e dízimos.
Até parece as características descritas nos evangelhos que tinham a ver com os fariseus religiosos – grupo que foi veementemente condenado por Jesus por mostrar uma aparência que não coexistia com as intenções do coração – tem a ver com o perfil de tal indivíduo que busca visibilidade a qualquer custo e preço.
Pois bem, tal espiritualidade deseja amealhar mais e mais seguidores. Afinal, quem não quer se tornar visto, se tornar uma figura pública, ser aplaudido, ser afirmado pelos amigos e até mesmo por desconhecidos que decidiram nos seguir? Quem não quer?
A espiritualidade SEM visibilidades é o que Jesus nos ensina quando ele mesmo surpreendentemente diz aos seus discípulos para atravessarem o mar da Galiléia porque o próprio Jesus necessitava estar sozinho e ter um momento dele com Ele mesmo, dele com o Pai, dele com Ele e com o Pai em silêncio, devoção e oração.
Alguém sabe o que Ele orou?
Alguém sabe para onde Ele foi?
Alguém registrou aquele momento?
Ninguém!
Aliás, apesar de não existir obviamente nos primeiros séculos as redes sociais Facebook, Youtube, Instagram não sabemos para onde Jesus foi.
Não sabemos nem mesmo o que Jesus orou.
Não sabemos tampouco o local que ele escolheu para passar tal momento íntimo de oração e quietude. Nada foi registrado nos evangelhos porque era um momento dEle, um momento de oração, um momento para estar a sós, sem aplausos, e sem “likes”, sem afirmações humanas, sem busca de popularidade.
Dito isto, eu não estou dizendo que não devemos nos comunicar nas redes sociais. Eu as uso. Eu as utilizo. Elas me servem como ferramentas e meios para comunicação também. Todavia, o risco que temos é de fazer delas as nossas plataformas para que Deus seja louvado, e o meu nome seja engrandecido entre tantos “likes” e bendito entre tantos novos seguidores.
Isto posto, eu vejo o perigo de começar a orar apenas quando o indivíduo aperta o botão “gravando” no Instagram. Eu vejo o perigo de começar uma atitude piedosa em direção ao pobre somente quando o indivíduo tem a certeza absoluta que alguém está tirando uma foto que sairá no seu “Story”.
Jesus diria que tais indivíduos já receberam a recompensa e o aplauso de todos os seus seguidores. Portanto, a espiritualidade que faz a viagem para dentro do coração humano e vista pelo Divino é a espiritualidade do quarto fechado, dos joelhos dobrados sem a presença de holofotes.
A espiritualidade que faz a viagem para dentro do coração humano e vista pelo Divino é a leitura em silêncio sem o flash das câmeras e sem as oportunidades de microfones nos Podcasts mais ouvidos da cidade.
Ora, se por um lado a espiritualidade SEM a visibilidade das redes sociais te deixa no anonimato, por outro lado você experimenta a paz que excede todo o entendimento humano. E mais ainda, se por um lado a espiritualidade SEM a visibilidade das redes sociais não te faz ser um indivíduo popular ou famoso, por outro lado você tem a consciência de estar pisando nos mesmos passos daqueles que escolheram conscientemente optar pela trilha menos percorrida, mas que lhes trouxeram o verdadeiro significado de existir pacificados e cheios de gratidão.
Pense nisto enquanto você começa a tua semana olhando para o Instagram e todas as ofertas que as redes sociais do Facebook e Youtube nos oferecem para aparecer e sermos aceitos pelo mundo que nos cerca e nos visualiza constante e ininterruptamente.
Até a próxima!
Fábio
Polignano a Mare