Refugiados na Europa e a Nossa Realidade em Lyon

Bom dia, meus queridos amigos,
Um dos temas mais complexos na Europa é a questão dos refugiados. Estima-se que até o final de 2023, 13 milhões de refugiados viviam na Europa, incluindo a Turquia. Não é necessário acompanhar as notícias na Internet, rádio, televisão ou outros meios de comunicação para perceber essa realidade. Com um mínimo de atividades sociais em qualquer cidade grande, ficamos cara a cara com essa realidade esmagadora.

É inevitável encontrarmos pessoas que carregam a dor de terem deixado seus países de origem, casas, empregos e famílias para trás. Pessoas altamente qualificadas, mas que, devido à barreira do idioma, se veem reféns de uma escolha que não fizeram.

Gente que é gente.

Gente que sente saudades como eu e você. Gente que deve se adaptar a mudanças bruscas como eu e você. Gente cuja vida mudou drasticamente, enfrentando um labirinto aparentemente insolúvel.


Tenho muitos colegas espalhados pela Europa que ajudam essas pessoas a encontrar serenidade nesse desconforto inimaginável para a maioria de nós. Amigos na Alemanha, Suécia, França e muitos outros lugares estão trazendo esperança para famílias forçadas a se separar por cenários inimagináveis.

Não é surpreendente que um número de refugiados participe dos nossos eventos em Lyon e nos conheça bem. Temos acompanhado alguns desses indivíduos em seu progresso no idioma local, na validação de diplomas, na busca perseverante por trabalho e, sobretudo, na ansiosa espera pela conquista legal do asilo político.

Para preservar suas identidades, não mencionarei nomes, mas minha esposa e eu tivemos a alegria indizível de rever duas refugiadas ucranianas no Café Cultural Fusion na semana passada em Lyon. Conheci essas mulheres quando o conflito entre russos e ucranianos começou em 24 de fevereiro de 2022, levando centenas de ucranianos a Lyon.

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Era aproximadamente 2 horas da manhã, numa noite fria e escura de inverno, quando levei um grupo de voluntários para oferecer auxílio, café e assistência mínima a um grupo de pessoas que não falavam francês, nunca tinham vindo à França e foram forçadas a tomar essa decisão dramática por uma razão de força maior.

Na fila de espera dos documentos franceses naquela madrugada, duas mulheres, “G” e “A”, ficaram surpresas com nossa ajuda. Elas me disseram que tinham cargos importantes na Universidade de Kiev. Nossa relação se fortaleceu desde aquela noite.

Minha esposa, Johnna, e eu criamos inúmeras pontes para mitigar o impacto da dor, solidão e perda desses refugiados, através de projetos de aprendizado do francês, provisão de roupas, auxílio de moradia e contato com outras ONGs parceiras. Foram dias e meses intensos. A maioria daquele grupo decidiu voltar para a Ucrânia, mesmo com o conflito ainda em curso.

Neste fim de semana, tive a grata surpresa de rever “G” e “A” em Lyon, desenvolvendo um projeto com uma das universidades da cidade. Entre abraços, lembranças, gratidão e esperança, uma delas mencionou como agora entende a realidade das famílias dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial que assistia, pois vive uma situação semelhante em Kiev.

Ela contou sobre os drones constantemente presentes, o fechamento do aeroporto que as obriga a voar até a Polônia e depois pegar um trem até a fronteira, viajando quase 10 horas até a capital ucraniana. Tomamos um café gostoso no centro de Lyon. Por alguns minutos, parecia que a realidade da guerra não existia, mas a guerra continua.

O que isso tem a ver comigo e com você?

Um dos textos mais impactantes que li quando menino, e que nunca esqueci, está no evangelho de Mateus, onde Jesus disse: “Tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão, e fostes ver-me.”

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Esse é um convite para mim e para você. Aprendi que posso “ver” Jesus não apenas em encontros religiosos, mas no meio de gente carente, que necessita de um abraço e de acolhimento.
Esse convite não tem a ver com estruturas eclesiásticas ou discursos nos púlpitos, mas com seres humanos como eu e você. Gente que é gente e que se encontra diante de nós todos os dias.

Um beijo grande a todos vocês! Até a próxima.
Fábio
Valence, França

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Respostas de 10

  1. ” ensina a criança o caminho… quando crescer não se desviará dele”
    Deus te abençoe, e a todos que cumprem bem suas missões!

    1. Olá Adriana,
      Obrigado pelo carinho. Obrigado pela mensagem.
      Assim seja. Deus abençoe a todos nós!
      Um forte abraço.
      Até a próxima.
      Fábio

    1. Olá Armandão,
      Um passo de cada vez. Obrigado.
      Sempre pequenos gestos. Deus nos livre as crises megalomaníacas.
      Um forte abraço. Se cuidem por aí!
      Fábio

  2. Filho esse dom q vocês tem vem dos ALTOS CÉUS…
    Dom é dado por Deus.
    Deus te abençoe ricamente vocês.
    Tenho orado por vocês sem CESSAR
    Saúde e paz..sabedoria é acima de tudo AMOR

    ATE A PRÓXIMA

    1. Olá Loriete,
      É um trabalho de formiguinha. É um trabalho de muita paciência e árduo.
      Não é fácil, mas necessário. A inclusão social é imprescindível.
      Graças a Deus por tanta gente séria e tanta ONG séria também.
      Obrigado por seguir a nossa coluna!
      Um beijo grande. Fique com Deus!
      Fábio

  3. Amado irmão, que a graça do Senhor Jesus continue conduzindo seu ministério, capacitando-o para ser mais e mais um “samaritano” cheio de compaixão (Lucas 10:30-37)!
    Que o Senhor, pois, continue abençoando seu ministério! Amém!!

  4. Obrigado meu querido amigo e pastor Mario,
    Muito obrigado. O nosso desejo e oração é que Deus nos dê saúde, compaixão, força e alegria para ajudar uma pessoa de cada vez. Uma pessoinha de cada vez….
    Receba o nosso carinho e gratidão pela tua vida.
    Até a próxima. NEle,
    Fábio

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