O infarto fulminante que matou Carlos Alberto Torres, neste dia 25 de outubro de 2016, leva embora também uma parte muito boa da minha vida.
Tive o enorme prazer de ver Carlos Alberto em campo.
Gênio. O melhor lateral que vi.
Numa época em que a posição era eminentemente defensiva.
Em que o bicão para afastar o perigo era o refino técnico esperado para quem jogava nessa posição.
Carlos Alberto tinha talento incomum, sem comprometer a parte defensiva.
Dominava a bola com precisão e realizava passes como se fosse meio campista.
Executava cruzamentos como se colocasse com a mão, a bola para a finalização dos companheiros.
Driblava e chutava com habilidade de atacante.
Não é por acaso que fez 69 gols ao longo da carreira.
Seis pelo Cosmos de Nova Iorque, dois pelo Califórnia Surf, também dos Estados Unidos, 13 pelo Fluminense, 40 pelo Santos e oito pela Seleção Brasileira, incluindo aí o inesquecível gol na final da Copa de 1970, no estádio Azteca, no México.
O quarto – a goleada de 4 a 1 sobre a Itália – num chute fulminante, de pé direito, aproveitando passe de Pelé.
Lembro que após esse gol, saí de carro – um Aero Willys vermelho com capota gelo – pelas ruas do bairro onde morava. Meu pai dirigia e buzinava.
Eu, minha mãe, meu avô, minha irmã, agitávamos uma bandeira do Brasil para comemorar a conquista do tricampeonato mundial pela Seleção Brasileira.
Só vi a cena do “Capita” beijando e levantando a Taça Jules Rimet , pela TV, algum tempo depois da festa no bairro.
Daquele dia, meu pai, minha mãe, meu avô e, agora, Carlos Alberto Torres, não estão mais por aqui.
Que saudade…
Belos Tempos. Belos dias.
Lembranças inspiradoras que acabaram definindo meu rumo profissional.
Já tenho praticamente 30 anos dedicados ao jornalismo. A maior parte deles atuando como jornalista esportivo.
Tive a felicidade de conhecer muitos de meus heróis pessoalmente. Pelé, Rivelino, Gerson, Tostão, Clodoaldo, daquela Seleção de 70, sempre foram gênios generosos, humildes, sábios.
Qualidades que ajudaram a moldar meu jeito de ser.
Não tive a honra de conhecer pessoalmente Carlos Alberto, mas a imagem pública que ele sempre mostrou e os depoimentos de todos que conviveram com ele despertaram em mim a mesma admiração.
Bom seria se os que se acham “deuses” hoje se espelhassem no exemplo do Capita. Um líder do bem, que respeitava os companheiros e a paixão do povo pelo futebol.