Querido Vinho,
Hoje foi mais um daqueles dias em que as ideias não surgem, têm que ser surgidas. (risos) Será somente um bate-papo descompromissado. Estou aqui em casa (novidade, não é?) bebericando uma taça de vinho que sobrou do fim de semana. Um fim de semana que tomamos somente vinhos portugueses. Não sei dizer por que esses vinhos me agradam tanto! Não me lembro de ter tomado algum do qual não gostasse. Mesmo os mais em conta. Contei, logo no início da coluna, que comecei a beber Periquita, que é conhecido como o primeiro vinho tinto engarrafado em Portugal. E foram diversas garrafas. Naquela época eu ainda não estava querendo me arriscar e preferia a zona de conforto, a certeza de que quando abrisse a garrafa seria a mesma bebida, minha velha conhecida. Nem as nuances de safras diferentes e tantos outros detalhes os quais já comentei aqui na coluna, me faziam notar que, na verdade, as garrafas nunca eram as mesmas.
Meu negócio era abrir o vinho e me servir. Algo mudou nesse quase um ano de coluna. Aprendi bastante. Saí do iniciante para o básico 1…haha Não me importo. Gosto da aventura, gosto de aprender, gosto de saber que tenho todo o tempo do mundo (acho…rs) para me apaixonar, desapaixonar, me apaixonar novamente pelos infinitos rótulos. Enquanto viver, será provando do nosso querido vinho, porque como diz Fernando Pessoa – Boa é a vida, mas melhor é o vinho! Abaixo reproduzo, além desse poema, um outro que menciona nossa bebida predileta.
Não fiz nada, bem sei, nem o farei,
Mas de não fazer nada isto tirei,
Que fazer tudo e nada é tudo o mesmo,
Quem sou é o espectro do que não serei.
Vivemos aos encontros do abandono
Sem verdade, sem dúvida nem dono.
Boa é a vida, mas melhor é o vinho.
O amor é bom, mas é melhor o sono.
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós…
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas…
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.
Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas. ~ Johann Goethe
Seguindo o conselho de Goethe, já temos a poesia, agora vamos de música. Uma mistura boa do Brasil com Portugal – António Zambujo, Roberta Sá e Yamandú Costa – ‘Eu já não sei’. Ah o fado. Ando apaixonada! Até semana que vem com mais vinho, música e poesia. Cheers!
https://www.youtube.com/watch?v=CnCAi3OdDeA