A oração do Pai Nosso: Eu, a Júlia e o nosso Pai que está nos céus

Bom dia meus queridos amigos,

Eu cresci recitando de cor a oração do “Pai Nosso”. Certamente, você também a conhece de cor. Na verdade, a conhecida oração é lida, recitada, rezada, orada entre todas as tradições cristãs do mundo e também conhecida entre centenas de culturas e religiões que estão espalhadas no planeta. Meus amigos hindus a conhecem. Meus amigos muçulmanos a conhecem. Meus amigos budistas a conhecem. Mesmo entre os meus amigos ateus e agnósticos, eles a conhecem!

No meu caso, eu cresci em uma família católica, italiana e portuguesa. Assim fica fácil de conhecê-la. Muitos de vocês têm o mesmo berço cultural no Brasil. No meu caso, eu estudei os meus nove primeiros anos de estudos em uma escola católica. Assim não tem jeito de esquecê-la. Todos os dias meticulosamente antes de entrar na aula, eu e toda a escola rezávamos o “Pai Nosso”.

Pois bem, qual o significado de uma das orações mais conhecidas do mundo? Existe alguma magia na tal oração? Por que a oração se tornou uma espécie de “reza” ou um “mantra” repetitivo entre os cristãos?

Ora, antes de escrever sobre o significado singelo da oração, eu quero gastar um minuto para dizer o contexto no qual Jesus se encontrava quando ele ensinou tal oração aos seus discípulos.

O contexto era muito simples: Nós corremos um risco ao orar. Podemos ser nós mesmos, ou podemos ser quem nós não somos. Eu vou repetir. Nós podemos escolher ser nós mesmos ou podemos escolher ser quem nós não somos. A espiritualidade e o caminho da oração são tentadores para receber aplausos, sermos afirmados pelos outros, ganharmos um suposto “status social”, e nos tornarmos para fora aquilo que sabemos que nós não somos, os nossos filhos sabem que nós não somos, a nossa esposa ou esposo que está vivendo todos os dias debaixo do mesmo teto, do nosso lado sabe que nós não somos.

Por isso Jesus começa o seu ensino dizendo “Não sejais como os hipócritas…”

Pois, existe a possibilidade de ser. O risco é real e tentador.

O risco que corremos ao orar, é se transformar em uma “persona” e deixar de ser a pessoa que eu sou.

Pois, existe a possibilidade de se tornar. O risco é real e tentador.

E mais ainda. As instruções de Jesus ficam mais claras quando ele diz em outras palavras: “Cuidado, vocês podem gostar de serem quem vocês não são. Isto pode viciar.”

Não é à toa que ele diz, “não sejais como os hipócritas”. Vocês podem exatamente se tornarem religiosos impermeáveis, hipócritas insensíveis, fariseus de carteirinha, como um deles. Não é à toa que ele diz, “pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens”. Vocês podem começar a gostar de impressionar gente, gostar de receber o aplauso dos homens, gostar de receber muitos seguidores no YouTube, gostar de impressionar com as milhares de “likes” no Facebook, Instagram, e vestir uma máscara e cara que não é a tua.

O risco que corremos é de querer impressionar os outros com a nossa pseudo-espiritualidade ao invés de viver a fé e espiritualidade singelas que são vistas por Deus na geografia do coração que ninguém vê; mas, Ele vê, Ele me atende, Ele me responde, Ele me acolhe.

Talvez você me diga: Fábio, se a conhecida oração do “Pai Nosso” que faço e pratico não deve ser um mantra, uma reza feita dezenas de vezes ao dia, se não preciso repetir e repetir porque Deus tampouco se impressiona com a minha eloquência, pois Jesus mesmo disse no mesmo contexto “não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos”, como devo fazê-la?

Eu vou dar um exemplo para terminar. Você pode ficar comigo mais um minuto?

Sophia tem 10 anos. Júlia tem 6 anos.

Sou pai de duas filhas. A Sophia tem 10 anos, e a Júlia tem 6 anos.

A Sophia não vem mais na minha cama de madrugada quando eu estou dormindo. Mas, a Júlia todo santo dia ainda vem. Melhor dizendo, toda santa noite!

Você conhece esta história? Você que é pai ou mãe, já viu este filme antes?

Você quando filho, fez o mesmo com os teus pais?

Ora, não há uma noite que eu não ouça a porta do quarto da Júlia abrir. E diga-se de passagem, quem me conhece sabe que eu sou completamente surdo de um ouvido. Mas, mesmo assim eu a ouço.

Não há uma noite que ela não vem e pega o meu cobertor. Eu pacientemente a cubro e volto a me cobrir. Não há uma noite que ela não se aproxima de mim, e me dá um abraço. Não há uma noite que eu não retorne o seu abraço. Não há uma noite que eu não me importe que tenha sido acordado por ela. Eu quero mais que ela esteja comigo e do meu lado. É uma grande alegria tê-la pertinho de mim.

Pois bem, se eu que sou um paizinho cheio de defeitos, surdo de um ouvido, sou um humano com milhares de limitações, uma mente finita, e sou refém do tempo e espaço, sou capaz de entender a minha filha, quanto mais Deus que é Pai.

Eu que sou este serzinho limitado, eu a ouço, tenho alegria e prazer quando ela vem na minha direção, aceito ela como ela é, respondo com gratidão quando ela decide vir ao meu encontro, quanto mais a figura do Pai que Jesus nos ensinou: que não é surdo, não faz acepção de pessoas, entende as nossas idiossincrasias e ambiguidades, e disse que poderíamos nos aproximar dEle e ser quem nós somos.

Cada refeição, cada brincadeira, cada momento com a Sophia e a Júlia me ajudam a en-tender que o convite para uma amizade e um relacionamento honesto com o “Pai Nosso” que está nos céus é infinita e incomparavelmente melhor do que as minhas melhores intenções com as minhas filhas que tanto amo e quero bem, mas são intenções que pos-suem o teto da imperfeitabilidade do meu ser.

Eu não preciso ter medo de orar com os olhos abertos ou fechados.

Eu não preciso ter medo de me apresentar com os meus traumas da infância e conflitos de adulto que ninguém sabe, mas eu sei e os conheço muito bem. E o meu Pai que está nos céus sabe e os conhece melhor ainda.

Eu não preciso ter medo de ser rejeitado, pois ele tem muitos filhos e conhece a cada um deles, e se Ele sabe tratar a cada um deles, Ele saberá tratar as minhas feridas com carinho e se banqueteará com as minhas alegrias também.

Ele é o teu Pai; mas não somente teu, Ele é meu também.

Ele é o meu Pai; mas não somente meu, Ele é teu também.

Ele é o Pai Nosso.

Eu volto na semana que vem, e seguiremos falando sobre o mesmo tema.

Um beijo grande e tenha um bom dia com o teu pai, mas meu também; meu pai, mas teu também, nosso Pai que está nos céus, e santificado seja o Seu nome no dia de hoje, nesta semana, e para todo o sempre, Amém.

Até a próxima.

Lyon

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Imagens: Arquivos pessoais do colunista

6 respostas

    1. Obrigado, Armandão.
      Que Deus nos ajude a entender a simplicidade desta jornada. Muitas vezes, (senão sempre!) somos nós mesmos quem complicamos tudo 🙂 Um beijão!
      Saudades.
      Fábio

  1. Amei….seu tema filho..me fez voltar atrás,e lembrar eu de joelhos ensinando você e sua querida irmã a orar a rezar o PAI NOSSO…e assim DEUS SEMPRE OUVINDO E RESPONDENDO…DEUS OUVE E RESPONDE EU CREIO…..

    BEIJO NO SEU CORACAO FILHO

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