Anselm Grün e a minha filhinha Julia

Bom dia meus amigos queridos,

Na semana passada as minhas duas filhinhas, Julia e Sophia, revezaram durante uma das noites passando muito mal e vomitando. A cada 45 minutos, elas acordavam e literalmente revezavam entre o banheiro e o balde que a minha esposa havia deixado no quarto. Graças a Deus, elas já estão melhores, e brincam neste momento na sala de casa enquanto eu escrevo esta coluna.

No dia seguinte que basicamente ninguém dormiu, a Julia veio e se sentou do meu lado. Eu estava trabalhando na varanda de casa onde se vê um lindo jardim.

Na realidade, ainda que o jardim estivesse lá fora, os passarinhos cantavam uma sinfonia singular, os cheiros das flores se espalhavam por todos os lados porque a primavera chegou, eu estava tão ocupado, cheio de tantos pensamentos com os nossos diversos projetos que eu não percebia nada, não ouvia nada, não sentia nada, até que a Julia me disse:

  • “Papai, olha o passarinho”. E ela insistia. “Papai, olha o passarinho!”
  • “Aonde filhinha?” Ainda que eu procurasse, eu não conseguia localizá-lo, pois a minha mente ainda estava no computador e nas dezenas de e-mails e textos que deveria ler.
  • “Ali, papai. Na tua frente. Olha!” A Julia apontou com o seu dedinho na direção do passarinho.

 

Monge beneditino Anselm Grün

Ora, eu havia acabado de ouvir um audiobook do Anselm Grün que é um monge beneditino, de origem alemã, teólogo e autor de centenas de livros. Anselm tem sido uma voz importante entre muitas tradições cristãs mostrando as necessidades espirituais da vida moderna.

No seu livro, “A verdadeira Felicidade”, ele diz que neste mundo de tantos ruídos, temos uma dificuldade enorme de experimentar a calma. É com a calma que consigo enxergar o que habita dentro de mim. É com a calma que consigo tomar decisões corretas. É com a calma que está irremediavelmente conectada com o silêncio que me faz provar uma felicidade indizível.

Anselm Grün tem sido reconhecido entre muitas tradições cristãs pelas centenas de livros publicados em dezenas de idiomas.

As numerosas influências externas podem nos adoecer sutilmente. Necessitamos de silêncio para banhar a nossa alma. Necessitamos de silêncio para que haja paz no nosso interior.

O silêncio não é algo para os fracos, como muitos no ocidente da Terra podem pensar. O silêncio deve se tornar um dos meus melhores amigos, companheiro de todos os dias.

O silêncio é uma força que me ajuda a enfrentar as dificuldades do dia a dia. O silêncio me ensina a ver o que verdadeiramente importa na jornada da vida.

O silêncio me ajuda a escolher as palavras que são sábias e as palavras que valem a pena dizer quando eu começo a falar.

E mais ainda, Anselm nos explica que temos acesso a alegria porque todos os dias tenho oportunidades para prová-la. Cada encontro que me relaciono de uma maneira presente e consciente, a alegria está lá. Uma conversa na padaria com a atendente, a alegria me espera. Um abraço no amigo, a alegria está de volta querendo me habitar. Ver a primavera que surge bem diante dos meus olhos, é oportunidade de mergulhar na alegria.

A alegria não aparece por si ainda que esteja tão pertinho de mim. Ela me vincula a outras pessoas. Ela me remete ao passado de gratidão. Eu posso pegar uma foto e me lembrar da minha infância. Eu posso pensar em gente que quero bem e recordar-me de algum Natal, aniversário ou viagem que fiz com alguém que amo e guardo nas minhas preces e orações.

Posso me alegrar quando percebo que escrevo com as minhas mãos, e sou grato por tê-las. Posso me alegrar porque tenho capacidade de ler esta coluna. A alegria se beija com a gratidão quando me dou conta que posso começar a andar assim que eu terminar de escrever este texto.

Isto posto, foi exatamente pensando no que o mestre Anselm diz com tanta simplicidade que prestei atenção no que a Julia dizia, e consegui ver o passarinho.

Fechei o computador. Começamos a conversar. Ela seguia:

  • “Papai achei outro passarinho”. E tem mais um ali. Agora são três! Agora são quatro. O que será que eles estão conversando entre eles?” Ela dizia com muita alegria. Uma alegria pura e sincera. Uma alegria contagiante.
  • “É verdade, Julia. O papai está vendo todos os quatro passarinhos”. Percebi que estava presente, percebi que aquele momento eu guardaria para mim e voltaria muitas vezes nele, na minha mente, e no futuro próximo, ou num futuro distante para que fosse uma recordação de alegria e gratidão do presente ainda que se tornará parte do meu passado.

Pois bem, ficamos conversando e sentindo o calor que se misturava no vento da primavera.

A Júlia e a sua alegria de ser criança: patinete, algodão doce, muita energia e muita boa conversa.

Um dia lindo. Ela se sentia melhor depois do susto da noite anterior.

O meu coração estava pleno de gratidão por vê-la melhor.

Ficamos observando as cores de cada passarinho e o canto de todos eles enquanto se alternavam nos seus sons formando um coral sem a presença de qualquer tipo de maestro ou partitura.

Ficamos um do lado do outro, e percebi que na inocência da minha filhinha Julia, os tesouros dos ensinamentos do monge Anselm se imiscuíam com as suas palavras enquanto me dava conta que muitos barulhos na minha mente e a rotina do meu trabalho estavam tirando-me do óbvio: a alegria de sentir a vida bem diante de mim!

Eu espero de todo o meu coração que você tenha uma ótima semana e encontre momentos de silêncio e calma para tomar decisões importantes.

Eu espero de todo o meu coração que você faça esta viagem da alegria e gratidão que está bem diante de ti.

Até a próxima!

Collonges-au-Mont-d’Or

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Imagens: Arquivos do Colunista

2 respostas

  1. Nós sempre somos um aprendizado!
    Com essas colunas, filho crescemos na fé.

    E como dizia sua vovó Luiza. O silêncio diz muitas coisas.
    Amo o canto dos passarinhos….ele renova nossas mentes.

    Até a próxima

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