Fábio Muniz: A dor é inevitável na existência: Então, o que podemos fazer?

Bom dia meus queridos amigos!

A dor é inevitável na existência. Simples assim.

Eu gostaria de dizer algo diferente, mas eu não posso. Se assim eu fizesse, eu não estaria sendo honesto com você e tampouco comigo.

De modo que neste mundo de espinhos e abrolhos, não conseguiremos jamais evitar a perda de alguém querido, uma doença inesperada, a preocupação com um filho que parece não seguir os nossos conselhos, a traição de “amigos”, a dissolução de uma sociedade aparentemente perfeita do ponto de vista do mundo dos negócios, e a lista seguiria…

Eu e a Johnna conversamos com muita gente. Ouvimos as trajetórias de centenas de pessoas. Toda hora estamos aprendendo. Toda hora buscamos saber como responder as incontáveis questões existenciais. As nossas vidas se tornaram o nosso próprio laboratório para poder ajudar aos jovens que nos procuram, maridos que foram deixados por suas esposas, mães que estão sem chão devido as decisões e loucuras feitas por seus filhos, gente que perdeu um bem material, gente que perdeu alguém querido subitamente, gente que não sabe como responder aos sustos inesperados que a vida inegavelmente traz a cada um de nós.

Isto posto, na semana passada eu lia o livro excelente dos autores Mitchell & Anderson: All Our Losses, All Our Griefs (Eu traduziria o livro em: Todas as Nossas Perdas, Todas as Nossas Dores).

Pois bem, ao chegar em Farmington Hills, cidade localizada no Michigan, mas que está ao lado de Detroit e muito próxima da fronteira com o Canadá, um senhor veio me receber. No dia seguinte eu faria uma apresentação dos nossos projetos em Lyon, e portanto, eu fiquei hospedado com ele. Vou chamá-lo de “B” no meu texto para manter a sua privacidade.

“B” e eu começamos a conversar. Percebi a enorme casa. Percebi também que ele morava sozinho. Conclui imediatamente que pela sua idade, os seus filhos já estavam casados ou morando em alguma parte dos Estados Unidos, e muito provavelmente ele era viúvo ou divorciado.

A nossa conversa não durou 3 minutos quando ele mostrou a foto da sua esposa que havia falecido há alguns anos. Uma foto linda. Os dois jovens, sorridentes, fortes e que expressavam uma grande alegria. Não demorou alguns minutos quando ele começou a contar como ele se tornou um homem de sucessos, engenheiro, e me dizia: “Fábio, faça o que você goste, e o dinheiro te seguirá”.

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Eu estava diante de um homem que tinha viajado muito. Eu estava diante de um homem que havia sido bem sucedido na sua profissão. Eu estava diante de um homem que qualquer profissional diria ser um exemplo na sua carreira: Fazer o que gosta no trabalho, e parecer que não está trabalhando um dia sequer, é o ideal que qualquer profissional busca quando combinamos paixão, talentos e carreira profissional.

Ora, na sequência da nossa conversa ele me dizia:

– “Foi aqui, Fábio”. Ele olhava para o chão, e olhava para mim enquanto os seus olhos se enchiam de lágrimas.

– “Foi aqui?” Eu lhe perguntei enquanto fazia uma pausa na expectativa sincera e reverente de ouvir o que ele diria.

– “Foi aqui que a minha esposa caiu. Bem no meio desta sala. Eu a segurava, mas caímos juntos. Ela bateu a cabeça com toda a força no chão.” Um silêncio tomou conta do lugar. Havia uma pausa longa entre nós. Ele não quis seguir o fluxo da conversa. Eu percebi que não era o momento de seguir perguntando.

De modo que ao sentarmos no sofá, ele descreveu como a sua esposa adquiriu uma esclerose múltipla e foi atrofiando os seus músculos gradativamente. E mais ainda: ele me mostrou como aquela enorme casa foi adaptada para que a sua esposa pudesse se locomover de cadeiras de rodas – banheiros, cozinha, sala e corredores tinham a dimensão e largura para que uma cadeira de rodas pudesse ir e vir sem problemas e dificuldades.

“B” era um viúvo que ficou sem chão. “B” era um pai de 7 (sete) filhos, sendo que 2 (dois) deles são jovens adultos com síndrome de Down. “B” ficou absolutamente desesperado e jamais imaginou trilhar por uma estrada sem sinais na existência. “B” se viu na vida sem chão da noite para o dia!

Conquanto fosse um homem de sucesso, tivesse posses, condições financeiras “para comprar o mundo”, ele estava perdido entre as dores e perdas que não pedem licença e invadem os capítulos da nossa existência sem nos dizer quando será o prazo de validade.

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Eu sei que estou falando também com você.

Talvez você esteja me lendo e se perguntando:

Quando a dor desta traição passará? Quando o sentimento de estar ao lado de tanta gente, mas de sentir-se desesperadamente sozinho cessará? Quando o sentimento de perder alguém tão querido vai ser minimizado? Quando eu vou voltar a sentir que a vida se normalizou novamente? Quando?

“B” encontrou ajuda em um grupo nos Estados Unidos que se chama “New Hope, Grief Support Community”. O logotipo do website deste grupo diz “Helping Grieving People, Find Hope and Healing”.

Na realidade, se você está familiarizado com os grupos de 12 passos onde estas comunidades ajudam indivíduos que estão lutando contra qualquer tipo de vício, você entenderá a dinâmica, estilo de comunidade e grupo que “B” encontrou.

“B” encontrou uma comunidade. “B” encontrou suporte de gente que também passou o que ele passou com a sua esposa. “B” encontrou esperança e um caminho para a superação de uma dor que talvez seja insuperável do ponto de vista humano, mas que produziu uma frase que eu jamais me esquecerei.

“B” me disse:

“Fábio, a vida é boa. Não espere o que chamamos de perfeito. Porque se você esperar o momento perfeito, você vai perder a oportunidade de abraçar o momento bom que a vida está te trazendo no dia que se chama hoje”.

Eu fico por aqui. Na semana que vem, eu volto. Eu volto e sigo contando um pouco mais da trajetória do meu mais novo amigo “B” e como eu e você podemos viver os belos e bons momentos da existência sem a falsa expectativa de esperar pelo momento perfeito.

Um beijo grande a todos vocês. Até a próxima!

Fábio Muniz

Stoughton, Wisconsin

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

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Respostas de 5

  1. Olá Loriete,
    Obrigado por passar por aqui. Exatamente! “Curtir e ser grato/ grata por cada momento!”
    Um beijo grande. Se cuida!
    Fábio

  2. Belo texto Fabio! A história é bem forte e encorajadora, apesar da “parte” triste, que faz “parte” da trajetória. Alguém disse que o ontem já não existe e o amanhã não sabemos se existirá, ou se nele estaremos. Portanto vivamos e aproveitemos o hoje! Se o fizermos felizes e com responsabilidade, de fato o amanhã, se lá estivermos, será ainda melhor, colhendo as sementes do hoje.
    Obrigado por compartilhar esta história!

    1. Querido Clayton,
      Obrigado. Que linda mensagem!
      Quantas vezes somos tentados a sentir saudades do passado, viver no futuro, e sendo assim, nos esquecemos de viver e aproveitar o presente: o dia que se chama HOJE.
      Obrigado pelo teu comentário e que possa inspirar a cada um que passar por aqui.
      Até a próxima!
      Fábio

  3. Filho muito forte tudo q vc escreveu.
    Temos que ser forte nesta vida.
    Tudo poderá acontecer com tds nós
    Só Jesus por nós e por todos.

    Até a próxima

    Bjs

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