Fábio Muniz: Jesus não é o fundador do Cristianismo

Você sabia que Jesus não fundou o Cristianismo? Você nunca pensou nisto? Você se assustou com a pergunta? Você sabia que Jesus jamais puxou assunto sobre religião?

Você sabia que Jesus não estava filiado a nenhum grupo político? Eu vou deixar algumas destas perguntas para um próximo “bate-papo”, mas veja só…

Vou começar respondendo à pergunta sobre religião…

Ora, todas às vezes que a religião estava no “script”, Jesus chamou aos grupos religiosos de hipócritas, até mesmo lemos que os fariseus foram chamados de “filhos do diabo”.

Na realidade, cada um daqueles grupos religiosos que habitava na Palestina do século I, em um grau maior ou menor, punha na cara uma máscara de piedade e vivia a teatralização da “santidade”. O fato é que quase todos eles indiscriminadamente eram nutridos pelo banquete do ódio, cobriam-se com mantos de inveja e mergulhavam dentro de um mar de competitividade e disputas teológicas. E Deus onde entrava neste “samba do crioulo doido”?

Pois bem, Deus era somente o rótulo da marca e o Marketing deste inegável “commodities”.

Aliás, “Deus” sempre foi um “grande negócio” desde sempre. Talvez você me diga, “Fábio, não parece ser nada diferente comparando com o contexto dos nossos dias, correto? ”

Corretíssimo, meu amigo. Só não vê quem não quer enxergar! Só não sabe, quem escolheu não abrir nenhum livro de história. Salomão já nos dizia que “Não há nada novo debaixo do sol”.  E o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard nos alertava para o fato de que “A história é uma grande repetição”.

Você quer saber a resposta da primeira pergunta? Afinal, Jesus é ou não é o fundador do tal Cristianismo?

Olha só. Eu escrevi um capítulo inteiro sobre este tema no meu livro Upside Down Evangelism: How Not to Manipulate People in a Post-Modern, Post-Christian, Spiritually Alive Globalized World, mas vou ser breve nos próximos parágrafos, até porque este assunto “tem muito pano pra manga” e a gente vai seguir nas próximas semanas…

Em Atos 11:26 os discípulos de Jesus foram chamados de cristãos em Antioquia pela primeira vez não porque tinham uma “religião cristã” que lhes “dava uma cobertura” e “bancava as suas viagens missionárias”.  Não! Nada disto. Eles foram chamados de cristãos porque seguiam ao Cristo, Jesus, o Cristo de Deus, reconhecido por cada um deles como o Filho do Homem.

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Simples assim….

Dito isto, os discípulos de Jesus haviam feito uma escolha. Os discípulos de Jesus haviam decidido por um Caminho. Jesus era o Caminho para eles. Não havia barganha à fazer.

Os discípulos de Jesus haviam escolhido Jesus para que fosse o “Kyrios” de cada um deles. E você me pergunta, “Fábio o que significa Kyrios?”  “Kyrios” no Grego significa Senhor. Aliás, a língua Grega era uma espécie de Inglês daqueles dias e era falada em quase todo o mundo. Na realidade, esta força linguística tinha a ver com a herança do período Helenístico liderado por Alexandre, o Grande. Ora, na Palestina de Jesus, a “bola da vez” era o poderosíssimo império Romano, portanto, “Kyrios” era a designação dada ao próprio Imperador Romano, e sendo assim, todos deveriam reconhecê-lo como tal e qual.

Você talvez me diga, “Fábio, você ainda não respondeu a pergunta. Se Jesus não é o fundador do Cristianismo, quem o é?”

O Imperador Constantino no ano 313, no século IV, declara a religião cristã livre para ser praticada através do Edito de Milão. Já não existiria mais a perseguição que esmagou e acachapou os cristãos dos primeiros quatro séculos. O tal do Edito de Milão fora apenas o preâmbulo de uma história que já dura quase 2000 anos.

Este preâmbulo ganhou introdução, prefácio, e capítulos intermináveis de banhos de sangue, corrupção papal, manipulação ideológica e política vestidas de “fé e piedade”; além de múltiplas formas, tons de cinzas e muito “mau cheiro” em nome de um “Deus e Pai” que nada tem a ver com o Deus e Pai de Jesus de Nazaré. Quem lê, entenda…

A partir desta primeira “sacada” Constantiniana com contornos estratégicos sociais-econômicos-políticos-religiosos o “ser cristão” ganhou outro significado. A religião cristã começou a contar com o apoio financeiro do Imperador Constantino que se auto proclamou “bispo dos bispos” e financiou a viagem de todos os bispos no chamado Primeiro Concílio Ecumênico em Niceia no ano 325.

Sinceramente, você acha que Jesus tem a ver com isto?

Eu já estou terminando. Fique comigo por mais alguns minutos. Talvez você me faça a última pergunta: “Se Jesus não tem a ver com esta situação que começou com Constantino em Roma, no século IV. O que eu tenho a ver com isto no século XXI aqui em São Paulo, no Rio de Janeiro ou Belo Horizonte? ”

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Deixo te dizer uma coisa. Talvez você seja um pai de família machucado pela igreja hipócrita. Talvez você seja um estudante de administração e jornalismo que se tornou um ateu. Talvez você seja uma mãe solteira que foi julgada pelos “crentes santarrões” como pecadora, só porque engravidou na sua adolescência. Talvez você seja um agnóstico cansado das “loucuras” políticas religiosas.

Seja lá o papel que você tenha e qualquer que seja o teu trauma ou idiossincrasia religiosa, o início de todo este processo de “des-religiogização” de Jesus começa com uma simples, mas profunda desconstrução.

Ora, Jesus não me convida para formar um “club” de religiosos, mas Ele me convida para mergulhar na vida de olhos bem abertos e nervos expostos. Ele não me convida para viver dentro de um monastério no Egito, mas Ele me convida para viver com sinceridade e cara limpa, com verdade e integridade. Ele me chama para viver uma espiritualidade prática, ou seja, a minha ortodoxia deve desembocar inegavelmente em uma ortopraxia.

Isto posto, a espiritualidade de Jesus tem a ver com pão para qualquer indivíduo que tenha fome, tem a ver com abraço ao órfão e no refugiado, tem a ver com água para qualquer indivíduo que tenha sede, tem a ver com acolher aos marginalizados, vestir a qualquer indivíduo que tenha frio, visitar o doente, e sobretudo, é um convite para ser gente. Isto mesmo. Um convite para ser ser-humano servindo ao outro ser-humano.

Hoje mesmo, eu e você podemos abraçar este convite e espiritualidade. Saiba que eu e você temos quase 8 bilhões de oportunidades para demonstrarmos que podemos praticar este princípio de vida e espiritualidade, porque hoje há quase 8 bilhões de seres humanos no planeta Terra.

É simples assim. Até a próxima!

Porta Palatina em Torino é símbolo da força do Império Romano. É uma das portas romanas do primeiro século mais bem preservadas do mundo. Ela se encontra entre as estátuas de César Augusto e Júlio César.

 

Fábio Muniz

Annecy, França

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Freepik

 

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Respostas de 9

  1. Excelente artigo do Fábio Muniz. Desmistifica o cristianismo e mostra a verdade sobre Jesus. Não acredito em religião e sim em um relacionamento com Deus, só possível através de Jesus, que disse: Eu sou o caminho, a verdade é a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”.

    1. Hi all,

      This time I enjoyed the figures of speech in google translate. Here were my favorite two tranalations:
      1. “This subject has a lot of mango cloth”
      2. How did God get into “this crazy samba of the black” 😀

      The rest was understandable 🙂 .

      More seriously, Fábio or to other readers, do you think that Constantine started the socio-political Christian religion that was later exported to the rest of the world? I’m guessing that colonization was the primary method of export if I understood some of the main points in your book, Fábio. I’m just wondering if there were more socio-economic Christian religious centers at the time or if Constantine’s was the preeminent one.

      Thanks for posting interesting content.

  2. Única questão que me surge é…
    Qual o real problema do termo “religião”?
    Sendo Deus autor de ritos externos (lei por exemplo) para que o homem pudesse ver o alvo de sua adoração.
    Não seria um risco essa des-religião? Criando assim um novo “Jesus”?!?

    Grande abraço

  3. Boa conversa Fábio, quando lemos os evangelhos vemos somente Jesus ! Do começo ao fim, com pontos de vista de um médico, um funcionário público, um jovem e um amigo. Mas sempre Jesus é o centro.
    Bela conversa, vamos continuar na próxima semana, não vejo a hora ….

    Abraço,

  4. Sou ATEU e obviamente sequer creio no personagem jesus.

    Mas me intriga essa teimosia de ALGUNS ateus em vincularem a criação do personagem jesus ao imperador Constantino…

    NON SENSE!

    O cristianismo ja existia no PRIMEIRO século.

    O Papel de Constantino foi o de ALAVANCAR, IMPULSIONAR, historicamente o Cristianismo.

    Sob os auspicios do Imperio Romano (principalmente Constantino), o cristianismo elevou-se de uma mera seita dos Hebreus a RELIGIÃO MOR DO IMPERIO ROMANO.

    Tal fato foi decisivo para que o cristianismo alcançasse os 32% da Humanidade que hoje ostenta.

    Como tantos, o Fabio Muniz apregoa A CRIAÇÃO do cristianismo pelos atos de Constantino.

    MAS A HISTÓRIA DISCORDA, e evidencia a existenica do Cristianismo, muito ANTES.

    Constantino apenas, como já disse, ALAVANCOU e reorganizou o Cristianismo.

    O problema está na divulgação ERRADA e DISTORCIDA constante nessa postagem…

    Ela DEPRECIA e DESVALORIZA os ATEUS, nos colocando como IGNORANTES da Historia.

    Lamentavelmente.

    QUER SABER MAIS??? LEIA:

    https://www.evernote.com/shard/s713/sh/0dca9279-fa79-48fc-ac17-6a7b981efc5c/085e22593b5bfa061cc24a26c34b82b3

  5. Claudino, Bom dia!

    Obrigado por escrever e participar do portal do Andreoli. Tenho muitos amigos ateus e que conversamos por horas sobre espiritualidade, religião, sobre a figura de Jesus e outras figuras na história. O meu sogro é ateu e filhos de missionários americanos. Sempre com muito carinho e respeito fazemos viagens que vão da história à filosofia, da religião à definições e significado semânticos de palavras e conceitos…

    Sim. Você tem razão. “O Papel de Constantino foi o de ALAVANCAR, IMPULSIONAR, historicamente o CristianISMO”. E mais ainda, foi o imperador romano Teodósio que oficializou o CristianISMO como religião do Império. Constantino apenas deu liberdade a tal religião no edito de Milão (313 da era cristã), pois o tal do CristianISMO não era um fenômeno religioso antes do século IV. Talvez seja esta a diferença do CristianISMO que você menciona e se lê, e do movimento de ser CRISTÃ0S e participantes de um movimento orgânico que nos primeiros séculos surgiu de uma maneira espontânea e era sim LIDO como um movimento político conquanto fosse apolítico…

    Policarpo de Esmirna, Clemente de Roma, Ignácio de Antioquia, Papias de Hierápolis são indivíduos que não são tão conhecidos no mundo “ocidental” e escrevem a partir desta premissa, pois todos eles tiveram contato com Pedro, no caso de Clemente de Roma, e os demais indivíduos, Ignacio, Policarpo e Papais, tiveram contato com João que se tornou o mentor de cada um deles. Ora, eu estou falando de gente do século II que escreveram muito do ponto de vista histórico de Jesus, deste movimento orgâncio e da fé cristã…

    Isto posto, aqui existe um corte que falaríamos por muitas horas: Há um diferença radical entre ser cristão antes do século IV e depois do século IV. Há uma diferença radical de como estes dois movimentos eram vistos e chamados antes do século IV e depois do século IV. Há uma diferença radical entre alguns indivíduos que viveram naquele “Constantinian shift”, no século IV. Por exemplo: Por mais que eu respeite e leia Eusébio de Cesaréia, ele foi um destes muitos que louvaram a Constantino e afirmara que ele, Constantino, “fora um enviado por Deus e muitos mártires sonharam em ver tal liberdade religiosa e morreram antes de tal milagre”. Eu entendo Eusébio. Diocleciano, imperador romano antes de Constantino, havia estabelecido uma das piores perseguições contra os cristãos e Eusébio havia escapado de Cesareia enquanto muitos dos seus amigos cristãos não tiveram “tal sorte”. De modo que para Eusébio, ter Constantino no poder significava uma vitória inegavelmente esmagadora contra tantas mortes, falta de liberdade de expressão e possibilidade de um crescimento numérico extraordinário com a “benção” daquele que se tornaria o décimo terceiro apóstolo, receberia as “honras” no primeiro concílio ecumênico (Concílio de Nicea 325) tanto quanto financiaria as “passagens de ida-volta e hotel” dos bispos participantes de tal concílio…

    No entanto, o movimento Celta, rejeitou, não aceitou, e seguiu sem a Constantinização tanto quanto os chamados “pais do deserto” que fizeram esta viagem da fé sem hierarquias, sem institucionalização e se deslocaram para os desertos do Egito para continuarem a serem chamados de CRISTÃOS…

    Eusébio e Constantino estiveram juntos na inauguração da igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém (século IV). Em Geneva, que está do lado de Lyon, visitando o museu da Catedral Saint Pierre você lerá sobre o mesmo fenômeno político, social, econômico e religioso que o bispo da cidade exercia a partir também do século IV. O mesmo fenômeno podemos dizer sobre a igreja Hagia Sophia em Istanbul ou Constantinopla. Pois bem, o tal “impulso” para o CristianISMO pode ser lido a partir do “Constantinian shift” como algo “extraordinário” para alguns daquela geração. No entanto, depois de alguns séculos, era uma leitura quase que única e singular sobre o mal que a institucionalização do movimento orgânico havia realizado…

    Eu te escrevo de Lugdunum, cidade e província romana dos primeiros séculos onde no ano 177, século II, 48 CRISTÃOS que eram considerados e chamados ATEUS foram mortos porque não seguiam aos deuses gregos-romanos e tampouco reconhecia Marco Aurélio como o “Senhor” Kyrios. Eles simplesmente afirmavam que Jesus era o Kyrios de cada um deles. Foram mortos. Sinais deste movimento estão espalhados pela cidade. Há um museu desconhecido que mostra registros de tal evento tanto quanto o anfiteatro romano pode ser visitado…

    Irineu de Lyon é outra figura desconhecida que escreve centenas de páginas sobre esta nossa conversa a partir do século II, pois fora discípulo de Policarpo. Conquanto Irineu seja considerado o “patron saint” da cidade de Lyon e a sua figura é a primeira no famoso “Fresque des Lyonnais”, ele é uma figura “desconhecida” para muitos.

    Sinais do “Constantinian shift” estão presentes quando vou ao centro de Lyon onde há 3 igrejas dentro de uma área que pode ser considerada um “backyard”americano. A razão é simples: Os 3 edifícios tinham papéis religiosos, econômicos, administrativos e políticos. Não é coincidência que dois deles foram derrubados na Revolução Francesa restando apenas o batistério do século IV da igreja Saint-Étienne e a porta do século VII da igreja Sainte-Croix.

    Eu te escrevo a partir do século XXI com acesso a história e uma experiência pessoal quase que diária observando o quanto o fenômeno do CristianISMO tem feito dano a indivíduos e famílias. O triste e horroroso é ver neste processo de guerras, inquisições, hierarquias e abusos do ponto de vista da autoridade imposta em nome de Deus, isenções e favorecimentos políticos em nome da fé e de incontáveis abusos sexuais como tristemente acabamos de ver na França onde 330,000 crianças foram abusadas nestas últimas seis décadas por líderes religiosos…

    Deus nada tem a ver com isto, se existe Deus…

    Um forte abraço.
    Fábio

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