Fábio Muniz: O que é ser? O que é não ser um pastor evangélico?

Bom dia meus queridos amigos!

Para aqueles que conhecem a língua inglesa, estarão familiarizados com a palavra “gospel” que vem da terminologia Anglo-Saxônica “god-spell”. No Latim, se diz “evangelium” e no Grego, diríamos “εὐαγγέλιον”. Ora, a expressão inglesa tanto quanto a latina e grega carregam irremediavelmente o mesmo significado: “good news” (traduzido ao Português, boa notícia).

Não se preocupe!

Eu não tenho a intenção de teologizar. Eu não tenho a intenção de escrever tampouco um documento para o meu Mestrado de Divindade aproveitando a coluna de hoje. No entanto, eu quero dizer algo muito simples e extremamente pessoal. Posso?

Eu era criança, provavelmente entre 9 e 10 anos de idade, quando me diziam que o pastor estava chegando, eu prestava muita atenção. De fato, eu observava as suas palavras atentamente. Ele era um homem culto. Ele era um homem de respeito. Ele era um homem idôneo e sério. Alguns destes pastores hoje me lêem. Eles se tornaram idosos. Eles se tornaram os meus amigos. Alguns deles têm a idade do meu pai. Eu ainda os chamo de pastores e tenho a total reverência e respeito por eles. Quando converso com eles, eu os escuto cuidadosamente. Quando eu os visito, eu aprendo com eles. Eles sabem do que eu estou falando…

Os anos começaram a passar. Eu conheci outros evangélicos e pastores. O meu nível de conhecimento, cultura, história e experiências com outras culturas e nações cresceram exponencialmente. Eu percebia que muitos deles não tinham nenhum conhecimento. Eles eram “ignorantes” nos seus equívocos e leituras da vida, mas eram sinceros. Eles eram pastores evangélicos e honestos. Eles não tinham nenhuma ambição por poder. Eles não tinham nenhum desejo de estar em nenhum lugar exceto em servir ao pobre, a viúva e o cansado de alma. Eles não tinham nenhum desejo de ter um carro de luxo, eles queriam apenas visitar a favela mais próxima que estava no bairro, abrir a igreja e oferecer um prato de sopa para um morador de rua. Nada mais do que isto.

Os anos continuaram passando. O pastor evangélico se distanciou sutil e gradativamente do ser do Evangelho. É melhor eu definir a premissa do significado de ser evangélico tanto quanto ser do Evangelho.

Ser evangélico significa ter a qualidade do Evangelho.

É melhor eu também definir o significado do Evangelho. O significado do Evangelho é a própria pessoa de Jesus que encarnou a Boa Notícia, a Boa Nova ou o “Evangel”.

É melhor eu completar dizendo que o ser evangélico é o indivíduo que carrega a qualidade encontrada nos evangelhos de Jesus onde eu posso descobrir como o Evangelho, Jesus, respondia para a vida, tratava as mulheres, amava os rejeitados pela religião farisaica e moralista, abraçava aos que ninguém queria abraçar. Simples assim.

É insuportável ler nos evangelhos que o Jesus dos evangelhos dizia que “o Filho do homem não tinha onde repousar a cabeça” enquanto os pastores evangélicos buscam os palácios de Brasília.

É insuportável ler nos evangelhos que o Jesus dos evangelhos dizia que “os governadores dos povos dominavam e que os maiorais exerciam autoridade sobre muita gente, mas não deveria ser assim entre eles: pelo contrário, o Jesus dos evangelhos, dizia que quem quisesse tornar-se grande entre eles deveria servir.

E mais ainda, o Jesus dos evangelhos dizia que quem quisesse ser o primeiro entre eles teria que ter a vocação de ser servo. Enquanto isto, no nosso meio, os pastores evangélicos estão ainda fazendo a mesma pergunta da mulher de Zebedeu “Jesus, se possível, faça os meus dois filhos se assentarem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda”.

É insuportável ler nos evangelhos que o Jesus dos evangelhos entrou no pátio do templo, expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo; e também tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas. Enquanto isto, os templos evangélicos brasileiros fazem o “bazar de Istambul” virar um lugar de escoteiros mirins quando o assunto é “grana”.

O Jesus dos evangelhos foi vendido e traído por 30 moedas de prata.

Dois mil anos depois, a moeda de troca sofreu uma inflação extraordinariamente quântica: se tornou 1 kilo de ouro!

É insuportável ler nos evangelhos que o Jesus dos evangelhos dizia que “não queria nenhum Marketing”. Ele cura um homem de lepra e “logo o despediu, e lhe disse: Não digas nada a ninguém”. Enquanto isto, os pastores evangélicos buscam lobbies, estratégias de Marketing, propinas exorbitantes, trânsito livre entre políticos que podem lhes oferecer algum cargo público, encontros que possam gerar a pseudo-fama, plataformas que possam catapultá-los para o aplauso dos homens, e a lista segue…

Isto posto, eu não ficaria surpreso se o Jesus dos evangelhos dissesse para alguns dos pastores evangélicos que carregam o “label”, a etiqueta, a marca e a grife evangélica, porém, não carregam a qualidade de ser Evangélico,“Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos… (para este “vos”, eu interpreto como “evangélicos” ao invés de fariseus que era o “vos”, era o público e a audiência de Jesus no seu contexto geográfico, religioso, político no seu tempo e espaço da Palestina daqueles dias).

Portanto, eu dizia que não ficaria surpreso se o Jesus dos Evangelhos dissesse para alguns dos pastores evangélicos brasileiros, “Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!”

Fábio Muniz

Collonges-au-Mont-d’Or

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