Bom dia meus amigos queridos!
Eu começo escrevendo o óbvio, “Quem te disse que ter mais, te fará mais feliz?”
Muitas vezes, ou quase sempre, não queremos ouvir o óbvio: Ter mais não significa ser mais feliz. Ponto. Simples assim.
Os mais velhos sabem muito bem do que eu estou falando. Os que já passaram da meia idade, também. Os que estão chegando na meia idade, tem algumas dúvidas; mas começam a perceber que esta é uma realidade irremediavelmente acachapante: ter mais não significa ser mais feliz!
Eu espero que os mais jovens aprendam este princípio da vida antes que se esfolem na jornada do pseudo sucesso, e se machuquem na estrada das pseudos conquistas.
Aliás, foi o psicanalista Carl Jung quem disse que na primeira metade da nossa vida estamos preocupados em construir, comprar, se casar, ter filhos, obter diplomas, escalar montanhas e carreiras no mundo dos negócios. É como se estivéssemos escrevendo um livro na primeira metade da nossa existência. Na segunda metade, começamos a olhar para trás, já não escrevemos mais novos capítulos, começamos a escrever comentários. Isto posto, tudo muda. A percepção é outra. A ótica se torna mais precisa. Os significados e valores se alteram. Os comentários da segunda metade da nossa existência dão ritmo, cheiro, gosto aos capítulos escritos. Os comentários da segunda metade da nossa existência abrem espaço para pausas e reflexões em cada capítulo, percebemos que faltaram prefácios, percebemos que não tivemos tempo para escrever notas de rodapé, e tudo começa a ser reescrito com o coração, com mais calma, e sobretudo, com a experiência de alguém que aprendeu a amar, a ter prazer, ser grato; mas também, parece que “este mesmo alguém” aprendeu a viver através da dor, da perda, e da aflição que são impossíveis de se esquivarem, e tampouco de serem evitadas na rota da vida.
Eu gosto do texto conhecido do apóstolo Paulo que diz, “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino”.
Aprendemos com a primeira metade da nossa jornada. No entanto, aprendemos infinitamente mais quando entramos na segunda metade da nossa existência. Já não somos mais meninos. Já não me tornarei mais um jogador de futebol. Já não serei mais um cantor, artista ou músico. Era menino. Pensava como menino. Deixei as coisas de menino.
O fato é que nós somos bombardeados consciente e inconscientemente por uma única mentalidade de Marketing que trabalha de diversas e múltiplas maneiras, a saber, “ter mais é melhor; ter mais significa ser mais feliz”.
De modo que entramos dentro de uma batedeira que nos centrifuga sem piedade na primeira metade da nossa vida.
Quando vemos, estamos despercebidamente, mas às vezes e infelizmente com muita consciência e intencionalmente, correndo atrás do dinheiro, correndo atrás de uma casa maior, querendo ter um carro zero, um outro carro, de preferência outro carro zero, fazendo de tudo para conquistar, possuir, e ter.
Nos esquecemos de um pequeno detalhe: quando possuímos, sutilmente seremos possuídos. Nos esquecemos que a ganância de ter mais, e mais, sempre residirá latejando dentro de nós inexplicavelmente. Talvez nos daremos conta desta verdade nos nossos comentários existenciais quando chegarmos lá na segunda metade da nossa peregrinação na Terra.
Ora, você poderá me perguntar: “Fábio, é errado ter, comprar, possuir, trocar de carro, ter uma casa própria e grande, conquistar, se tornar rico?”
De forma alguma, eu conheço gente rica. Eles são ricos, mas são generosos. Eles são ricos, mas eles não são o que eles têm, eles são. Simples assim.
Eu não posso ser o que eu possuo. Caso contrário, serei possuído por aquilo que penso que possuo. Eu devo ser eu, e a minha identidade não está no que tenho, mas no que sou.
A tradição cristã nos ensina que o dinheiro é a raiz de todos os males, portanto isto não significa que o dinheiro é mal por si mesmo. Ter não é ruim, mas ter não satisfaz. Vou repetir: Ter não é ruim, mas ter jamais satisfará o ser humano. Ter por ter, é a raiz de todos os males e abre uma dimensão que pode nos levar a disputas constantes, invejas horrorosas, conflitos entre pais e filhos, irmãos e irmãs, e ganâncias intermináveis.
Estamos viajando de Los Angeles a Tampa. Trabalharemos na Flórida por algumas semanas enquanto visitamos a família da minha esposa.
Eu morei na Flórida. Eu sei como é a Flórida. A minha filha nasceu na Flórida.
Entre um seminário, workshop e reunião, encontraremos um hiato e levaremos as nossas filhas na Disney.
Aliás, você sabia que Orlando é o destino número 1 dos brasileiros? Você conhece alguém que já veio na Disney? Talvez você mesmo tenha já visitado Orlando e feito um esforço enorme para chegar na Disney.
Eu vejo toda hora, famílias inteiras que chegam no “sonho” de visitar a Disney, guardam dinheiro, compram a passagem, buscam hotéis, mas quando chegam na Flórida, quando chegam em Orlando, quando chegam na Disney…
Não estão satisfeitas. Não estão contentes. Parece que falta algo. Reclamam do calor. Reclamam dos preços. Reclamam das filas. Reclamam porque não há pão com manteiga na chapa.
Reclamam, e reclamam porque se dão conta que a vida não é feita de ter e conquistas materiais, mas a vida é feita de uma experiência e viagem para o interior: sem tal viagem, a vida se torna uma grande teatralização, um grande baile de máscaras, uma grande performance vazia e sem sentido.
E por que isto, Fábio?
Ora, esta arquitetura faz parte da nossa natureza e evoca um dos desejos mais intrínsecos da alma humana: o desejo de receber aplausos, o sonho de conquistar espaços, a ambição de se tornar uma celebridade, e por aí vai…
Eu escrevo este texto tendo como berço o Ocidente, debaixo do tacão de um mundo selvagem e capitalista, existindo em uma geração global & internetiana, pós-moderna, e imersa dentro de uma sociedade líquida como explicou o sociólogo e filósofo polonês Bauman.
Eu escrevo este texto inspiradíssimo no fascinante livro de Richard Rohr: “The Art of Letting Go: Living the Wisdom of Saint Francis”.
Não acredito que haja este livro em Português. Eu o traduziria em: “A Arte de Deixar Ir: Vivendo a Sabedoria de São Francisco”.
Eu volto a falar neste assunto e deste livro na minha próxima coluna. Aguardem.
No mais, eu convido você a pensar e refletir na seguinte pergunta: Por que será que o mais caro e mais recente celular da Apple, a roupa mais cara e da grife mais estilosa, a experiência mais confortável e mais ostentada de um hotel 5 estrelas, jamais por si sós, satisfarão a sede mais profunda do meu ser?
Posso te fazer ainda mais algumas perguntas?
Será um exercício para você pensar durante a semana.
Vamos lá: Como você vive algum ou qualquer momento? Como você vive todos os momentos? Quais motivações você tem quando você faz alguma ou qualquer coisa? Quais motivações você tem quando você faz todas as coisas?
Eu disse que volto, eu voltarei.
Eu disse que volto, e então na semana que vem aprenderemos alguns princípios que tem a ver com a vida de Francisco de Assis.
Até lá.
Fábio Muniz
Neste momento, sobrevoando Phoenix, a caminho de Tampa.
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Respostas de 5
Excelente texto, Fábio. Relevante e provocante. Obrigado.
Obrigado, Armandão.
Relevante, provocante e que desafia a cada um de nós.
Um forte abraço.
Fábio
Sim filho…..seu texto diz de tudo …Nós mais velhos olhamos para trás ,E perguntamos o porque de tudo isto?a vida é cheia de sonhos…entendo q devemos sim,ser humildes de coração e proseguir com sabedoria e discernimento em tudo que fazemos é em tudo q construímos.
Seus textos são lições de vida.
Vamos esperar o próximo texto…
Até mais
É verdade.
Ser humilde de coração é o primeiro e principal passo para viver a vida com sabedoria e discernimento.
Beijo grande.
Fábio
Tive o prazer de conhecer o Fábio pessoalmente e posso afirmar que além de uma pessoa muito agradável, é um ótimo guia, já que ele me passou ótimas dicas gastronômicas para meu próximo destino.
Parabéns pelos textos tão simples e que tocam de maneira intensa. Virei fã.
Grande abraço!