Fabio Muniz: Você já leu as notícias da segunda-feira?

Bom dia meus amigos queridos.

Foi o teólogo alemão Karl Barth quem disse a tão conhecida frase: “Devemos segurar a Bíblia em uma das mãos e o jornal na outra. ”

Pois bem, enquanto eu leio as notícias e viajo nas páginas da minha velha Bíblia o meu coração se compadece dos menos favorecidos, eu me entristeço com o anúncio do mais recente lockdown na França, lamento com os números assustadores do Covid que não cessam de crescer, e oro em silêncio por uma intervenção divina.

De fato, eu olho assustado para a polarização política que sacode o Brasil, e peço a Deus que nos visite com tolerância, prudência, bom senso e diálogo humano de todas as partes…

Aliás, a mesma pergunta do título da coluna de hoje foi feita há aproximadamente 2000 anos atrás dentro de um contexto de também profunda fragilidade, dentro de um contexto de também incertezas políticas que traziam uma dor enorme para uma sociedade já avassaladoramente golpeada pelo até então Império Romano…

Talvez você me diga: “Fábio, parece que não há maneira de sair desta situação política, econômica, social e sanitária”. Parece que entramos dentro de um buraco negro que nos puxa para dentro e parece ser tudo tão assustadoramente irreversível do ponto de vista humano…

Olha só. Há 2000 anos atrás o quadro parecia ser irreversível também. E mais ainda: a tal da “Fake news” não começou ontem na era do WhatsApp, dos Twitters e Facebooks. Ela já se espalhava por todas as partes do Império Romano com o slogan político e de marketing da tal “Pax Romana” que do Latim significava simplesmente a suposta Paz Romana providenciada pelo Imperador.

Voltando para aquele domingo de Páscoa há quase 2000 anos atrás…

Eu posso imaginar a segunda-feira também daquele início de semana onde tudo parecera ser tão igual, mas na realidade, a vida de cada um deles jamais seria a mesma.

Naquela segunda-feira ainda que tudo fizera entender que seria mais uma segunda-feira como outra qualquer, a visão da existência de cada um deles transcenderia o mundo palpável…

Ora, o eco do diálogo dos dois discípulos de Jesus à caminho de Emaús naquele domingo estava na conversa matutina de cada esquina da empoeirada Jerusalém no início daquela semana.

Você pode imaginar o burburinho que pairava em Jerusalém?

Eu posso!

Você pode imaginar como a inegável falta de esperança devido ao horroroso contexto político da opressão romana virara apenas um papel coadjuvante neste novo cenário onde o protagonismo extraordinário da notícia da ressurreição começara sorrateiramente a se espalhar em cada casa, em cada familia, em cada quarteirão, em cada encontro humano…

O diálogo entre dois amigos naquela segunda-feira poderia ter sido mais ou menos assim…

–  “Manassés, você ouviu que aqueles dois rapazes estavam caminhando para Emaús e ficaram surpresos com a possível ressurreição de Jesus?” Benjamim pergunta com curiosidade.

– “Benjamim!! Você viu?! É inacreditável! Parece que o próprio Jesus se colocou no meio deles, mas eles não perceberam que era Jesus que caminhava ao lado. Eles não notaram nada devido a tristeza que sentiam no coração.”

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– “Você já leu a notícia desta segunda-feira no “Jerusalem Times?” Pergunta novamente o Benjamim.

– “Eu li, Benjamim. Eu li tudo! Olha só… Olha só! O problema maior da tal ressurreição é que a impressão que tenho é que foram umas mulheres que viram a Jesus. Mas não dá para confiar. Nós sabemos que as mulheres são consideradas na nossa sociedade machista e patriarcal como gente de nenhum valor para tal testemunho e credibilidade.”

– “Eu sei disso. Eu estou de acordo com você.” Respondeu tristemente o Benjamim.

– “No entanto, apesar de que nada mudou nas notícias desta segunda-feira, pois eu leio que o Império Romano continua crucificando muita gente que é considerada uma ameaça pública, os publicanos seguem cobrando taxas altíssimas, os religiosos se multiplicam com regras morais impossíveis de cumprir…”

– “Eu sei, Manassés. Eu sei.”

– “Deixa eu terminar, Benjamim. Por favor, não me corte. Eu dizia que estes religiosos hipócritas ainda usam de manipulação emocional para enganar a muitos, os senadores romanos e governadores cada vez mais se sofisticam na corrupção…” Falava inquieto o Manassés.

– “Eu te entendo.” Interrompeu o Benjamim mais uma vez.

– “Ouça, Benjamim. Ouça!! Não me interrompa, por favor. Eu estava dizendo que apesar de tudo isto, eu sinto uma esperança inexplicável dentro do meu peito.” Fala o Manassés mansamente e com convicções que estão pra além da consciência humana.

– “Você sabe que ontem estes dois reconheceram Jesus no partir do pão? Você sabe que o coração dos dois também sentiu esta tal paz que você está dizendo? Ouça isto. Preste atenção…Agora é a minha vez”. Falou o Benjamim.

– “Sim, eu estou te ouvindo. Eu estou prestando atenção.” Disse o Manassés enquanto se inclinava próximo do seu querido amigo Benjamim para ouví-lo bem pertinho.

– “Enquanto o próprio Jesus explicava nas Escrituras que ele padeceria e a cruz era um caminho inevitável, os dois lá do tal Emaús começaram a se lembrar de tudo o que Jesus havia dito. Pois bem, a cruz está vazia. A tumba está vazia! Parece que ele está vivo, Manassés! Vamos falar com os outros. Vamos espalhar esta boa nova de esperança!!” Grita eufórico, com os olhos cheios de lágrimas e brilhando de esperança o jovem Benjamim.

Eu espero que você tenha passado uma ótima Páscoa…

Eu poderia falar por horas e horas sobre a Páscoa dos cristãos começado com a premissa que parte do princípio antropológico e viaja pelas entranhas psicológicas mais profundas da alma de qualquer ser humano, seja ele primitivo, seja ele um ente da idade média, seja ele filho do Iluminismo ou do Renascentismo, seja ele filho das Filosofias humanas, seja ele filho da Física Quântica, pois em última análise, sempre o que está em jogo é a tentativa de apaziguar o coração do homem…

Isto mesmo. Apaziguar o coração do homem…

Desde sempre o homem buscou e busca cobrir a culpa, encontrar descanso para a sua alma, e nota-se nas culturas mais antigas e primitivas desde que o mundo é mundo a tal tentativa de encontrar um sacrifício: alguns deles extremamente cruentos, outros nem tanto. O fato é que desde sempre alguém deveria ser oferecido em propiciação pelo erro daquele indivíduo, daquela família, daquela tribo, daquele povo, daquela nação.

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Dito isto, não é a toa que vemos no Gênesis Adão e Eva se vestindo com folhas de figueiras para cobrirem a nudez, a vergonha, a transgressão e sobretudo cobrirem a culpa acachapante que experimentaram. Na realidade, este é o primeiro arquétipo da Páscoa….

A história do Êxodo e a libertação do povo hebreu no Egito é um outro marco pascal. De modo que os sacrifícios viajam pelos livros do Pentateuco Bíblico, sobretudo, no livro de Levíticos, mas concomitantemente nas outras culturas e religiões do Antigo Oriente Médio, Mesopotamia e Egito.

O fato é que muito mais do que falar da ressureição histórica de Jesus, a ressurreição deve ser um fator existencial. Ele levou sobre si a culpa e a dor do mundo. Ele se tornou o Cordeiro Pascal do Universo. Nele convergiram os traumas, equívocos e inadequação de todos nós. Muito mais do que argumentar com as lógicas da minha razão, eu posso fazer a escolha de me dobrar diante daquele que nasceu de uma virgem e viveu entre nós vestido de pele e sangue. Todavia, ninguém jamais falou como ele. Ninguém jamais ensinou como ele. Ele tocou em leprosos e levantou mortos segundo as narrativas de quatro testemunhas: Mateus, Marcos, Lucas e João. Ele disse aos ventos e mares para se acalmarem, andou por sobre as ondas, multiplicou pães e peixes, perdoou pecados como se fora Deus, pois só um louco faria e falaria tal loucura, ou um mentiroso, surtado ou um megalomaníaco agiria daquela forma, ou o próprio Deus poderia fazer e falar o que ele, Jesus, fez e falou. O Deus encarnado que chamou para si a responsabilidade de afirmar ser o próprio Messias, o Cristo, o Filho do Homem.

Dito isto, a ressurreição não se tornou uma surpresa para aqueles dois à caminho de Emaús quando eles se lembraram de como Jesus havia nascido e vivido…

A minha oração é que você experimente a força da ressurreição hoje, nesta segunda-feira, enquanto caminhamos diante de tanta dor, falta de esperança, e incertezas no horizonte imediato. A minha oração é que você enxergue a Jesus caminhando do teu lado e os teus olhos se abram para ver que você não está só, mas que vivo Ele está tal e como tinha prometido para você.

Em 1997 tive a oportunidade de passar quase 15 dias viajando por Israel. O Jardim da Tumba é um túmulo descoberto em 1867. É um lugar tranquilo e de muita serenidade. É considerado para os protestantes o local do sepultamento e ressurreição de Jesus. “Ele não está aqui porque ressuscitou” é o que está escrito em Inglês na placa acima.

 

Um beijo grande. E até a próxima!

Fábio Muniz

Lyon, França

 

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Imagens 01 a 05: Freepik

Imagem 06: Arquivo pessoal do colunista

 

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Uma resposta

  1. Que ótima reflexão Fábio, muita coisa mudou em 2021 anos e muita coisa ainda parece igual…. é ótimo sabermos que se nós permitirmos Jesus pode caminhar ao nosso lado porque ELE está vivo, só depende de nós !
    Continue escrevendo por favor.
    Abraço,

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