Florença: Arte e Espiritualidade

Bom dia meus queridos amigos,

Ainda estou em Florença. Acabo de entrar no trem e partiremos para Torino dentro de 5 minutos.

Você sabia que o Renascimento foi um período riquíssimo e trouxe um profundo impacto na espiritualidade de muitos?

Pois bem, eu fui convidado para falar sobre o tema por um grupo de mulheres que vieram dos Estados Unidos. Elas estão reunidas com o propósito de ter uma experiência cultural, querem viajar por algumas cidades italianas, apreciar uma das melhores gastronomias do mundo, mas sobretudo a viagem e proposta que cada uma delas possui tem a ver com uma jornada espiritual.

Uma espiritualidade que se constrói enquanto pisamos no chão da arte florentina.

Uma espiritualidade que se constrói enquanto ficamos sem fôlego ao observar a extraordinária arquitetura que a cidade italiana nos oferece.

Ora, talvez você me pergunta: “Fábio, o que isto tem a ver comigo? ”

A razão é simples. Eu cada vez mais que viajo, e converso com pessoas de tantas culturas neste mundo plural, eu cada vez mais observo que as centenas de costumes, tradições variadas, idiomas diferentes me levam a identificar o sagrado em cada um destes aspectos simples.

Isto mesmo. É na ordinariedade da vida que o divino, o sacro, o santo, o espiritual se imiscuem.

Cada conversa que tenho se torna um chamado para estar presente e ouvir o outro, as suas dúvidas, as suas alegrias e os seus pesares.

Cada pessoa que encontro é um convite para a prática do respeito sincero. Cada refeição pode se tornar uma Eucaristia. Cada gesto humano pode carregar um convite para perdoar, amar, incluir e ter paciência com o outro.

Na realidade, podemos até chegar mais rápidos sozinhos na jornada, mas quando a jornada é feita em comunidade, carinho e amizade chegamos mais longe e com muito mais profundidade.

De modo que a paixão e a devoção se beijam e nos convidam a fazer da nossa existência uma jornada espiritual sem máscaras e holofotes. Não há lugar para teatros e ensaios nesta jornada. Na jornada espiritual tudo é real e visto com a luz, e na luz!

O médico pode fazer do seu trabalho uma missão. O professor pode fazer de cada uma das suas aulas uma oportunidade de formar e criar uma geração melhor e mais humana. O estudante pode fazer dos seus projetos uma viagem para dentro de si com a finalidade de se expandir em autoconhecimento. Uma mãe pode fazer do seu papel de ser mãe um convite para a gratidão de ser participante de um dos maiores milagres e mistérios da vida: o milagre de ver outro ser crescendo dentro de si. Eu poderia multiplicar os exemplos. Você já me entendeu. Eu sei.

Isto dito, não há nada em Florença que não seja arte. Não há nada em Florença que não nos convide para uma viagem do ponto de vista espiritual.

Michelangelo, Donatello, Leonardo da Vinci, Galileo que nos digam!

Antes do período conhecido como Renascentismo a viagem era feita com pegadas medievais, com simbolismos da cultura e arquitetura gótica, porém o realismo esmagadoramente cheio de detalhes e contornos tomaram conta da Renascença. O corpo humano se tornou observação e passou a ser visto como o maior dom de toda a criação divina. A vida humana passou a ser observada como parte da manifestação mais extraordinária de Deus.

Na Galleria Academia vemos as obras Prisioneiros e Escravos de Michelângelo e a extraordinário perfeição de uma das suas principais esculturas: Davi que está pronto para enfrentar Golias.

Dizem que Donatello criou o Renascentismo, mas Michelangelo o fez melhor.

Dizem que Rafael tinha a força de Michelangelo, mas a graça de Leonardo da Vinci.

Dizem que Florença nunca experimentou um período de arte, genialidade e riqueza como acontecera nos séculos do Renascentismo italiano.

O meu convite é que você use cada um dos teus talentos com paixão e devoção.

O meu convite é que você faça de cada um dos teus encontros nesta semana uma oportunidade de servir ao próximo.

O meu convite é que na geografia que você se encontra, ainda que não seja a geografia florentina, você faça dela o teu chão espiritual.

Um beijo grande a todos vocês, e até a próxima!

Entre Florença e Torino.

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