Jorge Lordello: É possível evitar um assalto?

Para orientar com eficiência pessoas a evitar assaltos à mão armada, realizei extenso trabalho de pesquisa criminal, que começou em 1996 e perdura até hoje, pois a bandidagem é dinâmica e criativa. Já entrevistei, pessoalmente, mais de 1250 marginais e quase 2000 vítimas. Através do cruzamento dos dados levantados, foi possível traçar as prováveis atitudes de criminosos quando da escolha de suas vítimas em vias públicas.

Ao conversar com centenas de pessoas que foram assaltadas, restou claro que muitas agiram de forma imprudente ou negligente, diminuindo assim o nível de segurança pessoal e contribuindo, sobremaneira, para que fossem identificadas como as vítimas da vez.

É preciso compreender que os assaltos a pedestres ou contra motoristas de carros e motos, contam com pouco planejamento por parte dos bandidos, que sequer conhecem essas vítimas. Na verdade, a escolha é feita de maneira aleatória. É o que chamo de “crimes de oportunidade”, ou seja, o marginal observa, por exemplo, uma vítima parada na rua falando ao celular. A pessoa está muito mais concentrada na conversa do que na realidade ao seu redor. Em questão de segundos, o assaltante cria em sua mente um plano de abordagem e em seguida o executa. A vítima se assusta com o anúncio do roubo, pois estava totalmente desatenta, e por isso, muitas vezes, reage, grita ou tenta correr.

Ao entrevistar marginais e vítimas, descobri detalhes peculiares e interessantes para análise da postura do meliante durante a abordagem criminosa.

Senão vejamos:

-O marginal não anuncia assalto de longe

-A abordagem é discreta e feita quando está bem próximo do alvo escolhido

-Quanto menos gente notar o roubo melhor

-Ao anunciar o assalto, próximo da vítima, o ladrão diminui ainda a possibilidade da tentativa de fuga

-Se a vítima não reagir ou não tentar negociar documentos e objetos desejados pelo criminoso, o crime terá tempo de duração curto, provavelmente menos de 2 minutos, em média

Mas Lordello, qual interesse que tenho em saber como pensa e age o bandido?

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Quando conhecemos a estratégia de nosso oponente, temos maiores condições de criar situações que funcionem como antídoto, a chamada prevenção, que é como uma capa invisível que nos protege da criminalidade. Lutadores de boxe e de artes marciais mistas contratam treinadores só para analisar o comportamento do oponente. Técnicos de futebol, vôlei e basquete criam esquemas táticos diferenciados, de acordo com o estilo de jogo do adversário.

Portanto, entender o raciocínio lógico dos marginais é de suma importância para se criar estratégias de proteção e defesa.

LADRÃO NÃO ASSALTA À DISTÂNCIA

Os chamados atos preparatórios de um delito começam com a observação à média ou longa distância, quando o bandido faz a chamada “análise de risco”. São poucos segundos ou minutos, onde o criminoso avalia possíveis problemas, entraves e dificuldades. Se porventura concluir que as chances de obter lucro são bem maiores que o risco de ser detido, irá iniciar caminhada em direção à vítima escolhida, dentre tantas outras pessoas que estão ao seu redor. O maior problema é que a vítima, geralmente, não está com a mente voltada para questões ligadas à segurança pessoal. Por esse motivo, somente perceberá a presença do bandido quando ele estiver bem perto.

FOCALIZANDO O PERIGO AO SEU REDOR

Do mesmo modo que o marginal observa prováveis vítimas, inicialmente, à distância, cabe ao cidadão de bem exercer a contra-resposta, ou seja, observar  que está acontecendo ao seu redor para identificar uma eventual situação de perigo ou risco nas proximidades.

Não importa que esteja com a(o) namorada(o) ao lado ou procurando algo para comer em bairro desconhecido. O que realmente importa, é não perder a atenção em relação à segurança pessoal. Tem que manter aguçados todos os sentidos, inclusive o mais poderoso deles, que é a intuição.

Pode acreditar, situações perigosas emitem sinais exteriores silenciosos, mas que são perceptíveis por aqueles que estão com a antena ligada no canal da segurança. Procure notar se alguém nas proximidades se comporta sem naturalidade. Se alguma coisa chamar atenção, fique ainda mais atento aos movimentos das mãos, pernas, cabeça, olhos. Se a dúvida persistir, chegou a hora de agir.

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TÉCNICA DA FOCALIZAÇÃO E A DISTÂNCIA DE SEGURANÇA

Não importa o que você esteja fazendo, principalmente em locais públicos, focalize sempre tudo que está no ambiente. Após focalizar situação estranha, perigosa ou suspeita, chegou a hora de não permitir que o desconhecido aproxime-se de você. Calcule pelo menos a distância de 20 metros do suspeito. Tenha em mente que o desconhecido tentará fechar o cerco, ou seja, diminuir o espaço e até encurralá-lo em um canto.

Mas o que fazer nessa situação?

-Mude de calçada repentinamente e observe se o suspeito lhe acompanha

-Entre em algum comércio e vá ao fundo do estabelecimento

-Mude radicalmente o sentido de direção que está andando

-Não tenha receio de entrar numa casa ou prédio com a porta aberta e pedir auxílio

-Se houver possibilidade, entre rapidamente num táxi ou coletivo. O importante é manter a distância de segurança

-Se notar que a distância está sendo encurtada e não existem opções de fuga, você poderá:

a)Gritar socorro e com isso chamar a atenção das pessoas

b)Gritar fogo, como se estivesse acontecendo incêndio

c)Gritar pelo nome de alguém, dando a impressão que conhecido está por perto e poderá lhe acudir

Com essas estratégias, você além de manter a distância de segurança da pessoa suspeita, estará mostrando a ele que já percebeu sua aproximação, ou seja, em hipótese alguma seria surpreendido numa possível abordagem.

É importante frisar que as orientações que acabo de mencionar são para situações em que o marginal ainda não ofertou voz de assalto, ou seja, não iniciou atos executórios do crime e sim apenas atos chamados preparatórios.

Agora, iniciado o roubo à mão armada, as estratégias mencionadas não irão mais funcionar, muito pelo contrário, podem contribuir para aumentar a agressividade do bandido.

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