Já ministrei centenas de palestras e acompanhei inúmeras assembleias de moradores em condomínios residenciais. Nessas ocasiões, pude observar que, muitas vezes, o síndico é colocado contra a parede e acaba cedendo à pressão de pequeno grupo insatisfeito com algum item referente a segurança.
Recentemente, presenciei síndico ser pressionado por morador que pleiteava a troca da empresa de terceirização de mão de obra. O condômino pediu a palavra e iniciou discurso em altos brados:
“É um absurdo o que está acontecendo em nosso prédio. Estamos fragilizados; não sei como ainda não fomos assaltados”.
O síndico retrucou:
“Mas qual é sua preocupação? Por favor, exponha o problema; sou o maior interessado em saber”.
O morador encheu os pulmões e desabafou:
“Precisamos trocar com urgência a empresa de segurança, pois nossos porteiros são péssimos e o rondista não serve para nada. Esses funcionários são despreparados e colocam em risco a segurança de todos”.
O subsíndico entrou na polêmica:
“Estou reparando aqui no Livro de Ocorrências Gerais, que o senhor não enviou uma reclamação sequer sobre a atuação de nossos funcionários; portanto, esse seu discurso inflamado não está colaborando em nada”.
Imediatamente, o morador que iniciou a reclamação e outros dois condôminos levantaram das cadeiras e iniciaram bate boca. Esse pequeno grupo insistia na troca da empresa terceirizada mas não apresentavam dados específicos e concretos dos erros cometidos pelos funcionários atuais. Com o intuito de colocar ordem na casa, perguntei ao subsíndico que verificasse no livro quantas reclamações tinham sido anotadas contra os porteiros e rondistas nos últimos 24 meses. Depois de folhear o caderno por 60 segundos, veio a resposta:
“Foram 3 registros, que já foram sanados, sendo que a última reclamação tem mais de um ano”.
Então, o síndico se manifestou e disse que estava contente com o trabalhos dos funcionários e que nesse período não aconteceu nenhuma ocorrência criminal. O morador insatisfeito novamente elevou a voz dizendo que praticamente todos os dias observava falhas grotescas dos colaboradores. Em virtude disso, exigia a substituição da empresa e que, para tanto, até já tinha providenciado 3 orçamentos com empresas da região. O síndico ficou revoltado com tal colocação:
“O senhor não faz parte da administração e nunca se interessou em ajudar em nada. Só aparece nas reuniões para tumultuar”.
O clima estava quente e resolvi aproveitar o gancho do assunto e fiz pergunta ao condômino:
“O senhor comentou que os funcionários da segurança cometem falhas rotineiramente. Poderia então informar algum desses erros para que a administração possa avaliar e providenciar a correção ou até mesmo a substituição da empresa?”.
O morador coçou a cabeça e depois de pensar um pouco disse:
“Olha, são tantas falhas que a gente acaba esquecendo”.
O subsíndico não deixou por menos:
“Poxa, narre algum caso específico”.
O morador se mostrou um pouco desconfortado e acabou contando o seguinte:
“Ontem mesmo presenciei o funcionário fazendo a ronda a pé pelo prédio e pude perceber claramente que ele não olhava para os lados, simplesmente cumpria o ritual do percurso”.
Como o relato do morador foi extremamente fraco, a maioria dos participantes se manifestou pela permanência da empresa de terceirização de serviços.
Por outro lado, é importante ressaltar que os condomínios devem ter canal de comunicação para que os moradores possam registrar problemas, insatisfações, erros e também tecerem elogios. Recomendo que seja criado livro especifico para registro de ocorrências e disponibilizado mail para essa finalidade. Através de campanhas informativas, deve o síndico fomentar que os moradores se portem como verdadeiros fiscais do lugar onde residem. Os problemas e sugestões devem chegar aos ouvidos do corpo diretivo para que sejam analisados e solucionados o mais rápido possível.