Para alguém como eu que trabalha com organizações de mulheres o mês de outubro é intenso, repleto de eventos que debatem o câncer de mama.
A questão não é se vestir de cor de rosa ou pendurar um laço na lapela, é divulgar a importância da prevenção, dos cuidados com a saúde que devem existir durante o ano todo, não apenas 1 vez por ano.
Outubro é um mês onde as mulheres abrem seus corações e relatam em público a batalha que enfrentaram, as dores, as angústias e incertezas, o medo da morte, a esperança de viver.
Fui convidada para palestrar num evento onde a maior parte dos painelistas eram médicos que dissertavam sobre as novas descobertas científicas e sobre a delicada relação médico – paciente.
E assim, como um peixe fora d´água resolvi contar minha história, sou uma mulher de 63 anos, casada há 38 anos, mãe de um casal de filhos, uma asiática com cidadania europeia, curiosa por natureza, aprendiz por profissão, uma arquiteta que derruba muros para construir pontes entre as mulheres, empresas, organizações e países.
Meus pais eram médicos, minha mãe conheceu meu pai em 1948, no primeiro dia de aula na Faculdade de Medicina da USP, naquela época, eram pouquíssimas as mulheres que se aventuravam nesta profissão. Ela contava que quando viu meu pai surgir na porta da sala de aula, decidiu que iria se casar com ele. Eles se formaram em 1954, casaram no ano seguinte e construíram a nossa família.
Ao passar no vestibular pela primeira vez, meu pai foi diagnosticado com tuberculose naquela época em que a penicilina ainda não havia sido descoberta, portanto, foi enviado para um sanatório em Campos do Jordão onde ficou internado durante 6 anos, ele decidiu que não iria morrer, que sobreviveria…saiu de lá vivo, mas com sequelas, metade do pulmão fibrosado.
Voltou para São Paulo, prestou novamente o vestibular e passou.
Minha mãe estudou o clássico, preparada para ser professora de francês, nunca tinha estudado biologia, física ou química, mas de repente, mudou de ideia e resolveu que queria ser médica, então foi fazer 1 ano de cursinho, prestou vestibular, foi a 81ª numa faculdade que tinha apenas 80 vagas…chegou perto, então passou mais 1 ano estudando sozinha em casa e conseguiu a almejada vaga.
Após a formatura, resolveram reunir alguns colegas e construir um hospital na periferia da cidade.
Foi assim que cresci, andando pelos corredores, assistindo cirurgias através de uma janela de vidro redonda, conversando com os funcionários e médicos, de certa forma, aquela também era a minha casa e aquelas pessoas eram a minha família.
Conviver com a perenidade, com o duelo entre a vida e a morte, me ensinaram a ver que tudo que realmente importa na vida não tem preço, não se pode comprar saúde, amor, família, amizade, paz…
Médicos são seres humanos, alguns choram quando perdem seus pacientes, outros se sentem impotentes quando não há mais nada a fazer, ficam felizes quando salvam vidas, quando conseguem realizar milagres.
Compaixão é um substantivo feminino, definido como um sentimento de piedade com o sofrimento alheio, é ter um sentimento piedoso de empatia para com a tragédia pessoal de outro, acompanhado do desejo de diminuir essa dor, é ter um impulso altruísta de ternura e confortar espiritualmente a infelicidade alheia, é não permanecer indiferente frente ao sofrimento.
Empatia é sentir o que o outro sente, é se colocar no lugar dele, compaixão é a empatia em ação, é enxergar o mundo através dos olhos do outro.
As pessoas costumam ver os médicos como super-heróis, mas na verdade, deveríamos vê-los como pessoas reais que precisam parar para se alimentar, dormir, tirar férias de vez em quando.
A medicina é um sacerdócio, prepara pessoas para cuidarem de outras pessoas, aliviar suas dores, curar e confortar o corpo e algumas vezes também a alma.
Finalizo com uma frase do Dalai Lama
“Amor, compaixão e preocupação pelos outros são verdadeiras fontes de felicidade.”
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