Lilian Schiavo: Diário de bordo

Desde a primeira vez que viajei de avião fiquei encantada ao ver as nuvens, era uma menina de 9 anos de idade e literalmente me senti no céu, imaginava que podia ver anjos passeando e pensava qual seria a sensação ao pisar numa nuvem…

Fui uma criança muito curiosa e observadora e conservo esses traços até hoje, além de amar colecionar nuvens e viajar, tenho mania de ler e escutar as histórias das pessoas.

Numa semana atípica, me senti como uma comissária de bordo, passando mais tempo em aeroportos e hotéis do que na minha própria casa, mas o resultado foi muito feliz e compensador.

A sororidade faz parte da minha vida, somos as mulheres que verdadeiramente ligam os holofotes para que outras possam brilhar, para que cada vez mais mulheres ocupem lugares de liderança, sem competição, somos as mulheres que contratam outras mulheres, que compram e indicam produtos e serviços de outras mulheres, que fazem a roda da economia girar.

Mexeu com uma, mexeu com todas… somos uma rede de mulheres incríveis que se apoiam.

E no meio de faz e desfaz malas, a Soira Celestino envia uma mensagem dizendo que me indicou para receber uma homenagem e pedindo que contasse a minha história e o que tenho feito para apoiar as mulheres.

Deu branco! Fui acometida pela famosa síndrome da impostora! Afinal, tem coisa mais narcisista do que ficar falando de si mesma?

Confesso que pensei em enviar meu currículo, mas cheguei à conclusão que não era isso que queriam.

Então, te convido a pegar uma xícara de chá e se sentar confortavelmente pois vou contar uma história.

Como algumas de vocês,  já sofri grandes violências patrimoniais, psicológicas, ouvi críticas, fui humilhada e desacreditada, cheguei a pensar que nunca iria me reerguer, que não tinha mais jeito, que devia cavar um buraco e me enfiar nele como uma toupeira.

O que me salvou foi a fé em Deus e o amor da minha família, a nossa união e a convicção de que a verdade e a justiça prevalecem.

Não por acaso a fênix virou nosso personagem favorito, um pássaro da mitologia que quando morria, se incendiava e renascia das próprias cinzas. A fênix simboliza o renascimento, o eterno recomeçar, a resiliência e força.

Quando perdi tudo me disseram que sou a vítima perfeita: mulher, oriental e com agressividade zero.

Desde então, decidi transformar minhas fraquezas em fortalezas.

Lembrei do Kintsugi, uma arte japonesa, criada para restaurar cerâmicas e porcelanas quebradas com emendas de ouro, numa comparação com nossas vidas quebradas, com cicatrizes que ao invés de ser escondidas ou descartadas passam a ter uma beleza única, as peças se transformam numa obra de arte, mais valiosas do que antes.

Está tudo bem se te quebraram, se te deixaram em pedaços… é possível transformar as perdas em vitórias, é possível dar a volta por cima!

De forma alguma deixaria de ser mulher, de ter as características orientais: tímidas, discretas e caladas e muito menos mudaria a agressividade zero da minha personalidade, afinal, sou incapaz de matar um inseto, assopro as formiguinhas para que elas se afastem.

Os lugares que ocupo hoje são fruto das minhas “fortalezas”, trabalho em organizações de mulheres, sou uma conferencista tímida com borboletas no estômago que fala para multidões, lidero grupos de voluntariado que conseguem resultados espantosos, sou pacífica e conciliadora por natureza e confesso que nunca imaginei chegar onde estou.

Exatamente por conta das aparentes “fraquezas”, fui juźa classista na Justiça do Trabalho, sou embaixadora da paz, presidente em organizações globais e palestrante internacional em eventos da ONU Mulheres, da OIT e WEFs em vários países.

Com empatia sinto compaixão, exerço a escuta ativa para colocar em funcionamento a fábrica de sonhos e transformar os sonhos das mulheres em realidade.

Resumindo, abraço as pessoas como uma ursa panda, distribuo sorrisos mesmo em momentos difíceis, ofereço meu ombro amigo para todos os momentos.

Não sei se serei escolhida como uma das premiadas, mas desde já estou comemorando a felicidade de conviver com mulheres que indicam outras mulheres, que distribuem homenagens, que dão visibilidade e voz, mulheres com coração maior que o corpo, com mentes brilhantes, com generosidade e solidariedade.

 

“Eu não sigo as regras estabelecidas, eu lidero com o coração, não com a cabeça.” Princesa Diana

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Imagem: Freepik

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