Lilian Schiavo: Feliz Livro Novo.

Sou uma devoradora de livros desde pequena quando morava numa casa com uma biblioteca que parecia um portal para um mundo imaginário.

De lá eu conseguia visitar museus, conhecer os Irmãos Grimm, o Hans Christian Andersen, a coleção do Mundo da Criança e do Tesouro da Juventude.

A esta altura já deu para você imaginar minha idade…

De família pequena com pais que trabalhavam quase sem férias, os livros se tornaram uma opção de lazer e uma companhia constante.

Na organização em que trabalho, um dia recebi uma proposta da Madeleine para criar um Circuito Literário onde a cada mês um livro é escolhido para ser tema de um debate, óbvio que achei a ideia excelente!

Até então, ler era uma atividade solitária… não imaginava o que aconteceria quando várias pessoas discutem um mesmo livro, no nosso caso, virou uma terapia de grupo onde abrimos o coração e contamos segredos, histórias esquecidas são recuperadas, sentimentos escondidos são aflorados.

A pandemia mudou nossa rotina, mas novamente os livros passaram a ser um meio de transporte para outros mundos e as reuniões ficaram mais intensas, muitas de nós estão quase sem convívio social e as reuniões são uma oportunidade de rever as amigas e dar abraços e beijos virtuais.

No final do ano tivemos uma amiga secreta e os livros foram a escolha de muitas de nós.

Daqui a alguns dias vamos retomar nossas atividades, faremos o primeiro encontro 2021 para discutir um livro que fala sobre a curva da felicidade onde uma pesquisadora concluiu que as pessoas mais felizes são as mais jovens e as mais velhas.

Provavelmente as mais jovens encontram a felicidade nas descobertas, nas primeiras vezes, no primeiro amor, nos sonhos e esperanças, na infinidade de opções para o futuro.

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Quando somos jovens temos a chance de escolher o que seremos quando crescer, qual a profissão, o tipo de vida e podemos planejar como iremos atingir os objetivos, é como se tivéssemos um número infinito de portas para abrir.

Quando adulta, você se vê num mundo extremamente competitivo, com algumas portas fechadas e a necessidade de correr para realizar, para chegar ao topo, ao sucesso. Aposto que só de ler você ficou angustiada.

Então vem a velhice, objeto de estudo do livro do mês.

Para começar devo lembrar que na maioria das vezes não admitimos que somos velhos.

Quando minha mãe completou 81 anos perguntei como ela se sentia, ela respondeu que se sentia como aos 18… quando meu pai fez 75 anos perguntei como era ser idoso, ele pediu para eu perguntar para alguém mais velho porque ele estava se sentindo ótimo.

Eu já frequento a fila preferencial dos supermercados e se você me perguntar como me sinto, vou responder igualzinho a meus pais.

A autora do livro pesquisou pessoas com mais de 90 anos e encontrou nelas uma felicidade contagiante, sem competição e também sem dar satisfação das suas vidas.

Lembrei de muitas amigas do grupo de leitura que assim como eu, estão longe de serem idosas mas podem se dar ao luxo de dançar no teatro como a Aninha, de tocar piano e cantar em saraus como a Cecília, elas podem viajar como a Marília,  pular de paraquedas, mudar de profissão, fazer crochet, aprender o idioma guarani com a Lorena ou a culinária tailandesa.

O segredo está na leveza de viver, na esperança e na capacidade de rir, de si mesma e dos outros, na insistência em sonhar e fazer planos, na coragem de ser autêntica.

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A maturidade amplia a sabedoria e a finitude faz com que passemos a enxergar a vida de uma forma mais simples, fica mais fácil dizer não e se afastar do que te faz mal, também fica mais fácil dizer te amo e dar abraços apertados com os olhos marejados.

É um sentimento de liberdade, talvez por isso um costume japonês é festejar os 60 anos numa celebração da idade do renascimento, com um traje que representa a roupa de um bebê e um retorno ao início da vida. Aos 70 a cerimônia representa uma nova fase, um tempo para buscar um novo foco. Também festejam os 80, os 88, os 90 e os 100 anos como datas especiais.

Estou contando os dias para nosso encontro, quero rever as amigas, somos mulheres de idades e gerações diferentes, cada uma com sua profissão, casadas, solteiras, viúvas, mães, filhas, avós, de todos os tipos e todas as cores.

Em comum, nossa mania de ler e aprender umas com as outras, como numa confraria, somos mais que amigas, viramos uma família.

Sozinhas invisíveis, juntas invencíveis!

Lilian Schiavo

 

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Imagens: Freepik

 

 

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