Após um longo período de hibernação e devidamente vacinada estou aos poucos saindo da toca.
Coloco a ponta do nariz para fora, agendo um almoço com algumas amigas num lugar aberto, arrisco uma reunião de trabalho com muita cautela, tudo claro que obedecendo os protocolos de segurança.
A maior parte das atividades continua virtual e pelo jeito vamos adotar um sistema híbrido daqui para a frente.
Se você ficou enclausurada, conhece a sensação do primeiro reencontro com uma amiga querida, ainda não é possível abraçar mas dá para sentar numa mesa e olhar nos olhos.
Quase 2 anos sem sair, percebo que minhas roupas encolheram no armário, olho no espelho e me deparo com uma gordinha sorridente.
Tudo bem, para o almoço informal posso ir no conforto de um moleton, o difícil vai ser a reunião de trabalho…
Reencontrar amigas é emocionante! Que delícia ver todas falando ao mesmo tempo, sem ter que levantar a mão para opinar, fora do quadradinho da tela do computador, enxergando dos pés à cabeça.
Aglomerações não são permitidas, então resolvemos realizar um evento virtual chamado Laços de Amizade, algo diferente e leve. Desta vez não iríamos falar de negócios…
Quanta ousadia convidar empresárias ocupadíssimas para participar de um evento para celebrar a amizade com músicas, homenagens e sorteios, em plena sexta-feira às 16:00hs.
Quem sabe é uma boa desculpa para encerrar o expediente mais cedo? Temos um álibi, um compromisso para um evento solene.
Deu certo! Percebemos que era exatamente isso que precisávamos: acalmar as feridas causadas pela pandemia, a dor das perdas e o fantasma da depressão.
Mesmo que virtualmente, pudemos sentir a energia renovadora, a força da união, a alegria transbordante.
Mulheres de diferentes idades, lugares e etnias, mas todas com a mesma vontade de deixar um legado, com o mesmo propósito.
Empresárias do Amazonas usando cocares na cabeça, Santa Catarina encapotada por causa do frio excessivo, Espírito Santo vestindo um blazer formal, Campinas concentrada no comando da plataforma, Alphaville com duas atletas medalhistas, São Paulo com sua diversidade típica, litoral norte com problemas no vídeo e outras no trânsito, mas conectadas ouvindo tudo.
Ficou clara a disposição que temos para exercer a sororidade e empatia, aqui uma apoia a outra, sem competição, sem títulos ou egos inflados. Compartilhamos saberes, aprendemos com humildade, exercemos a escuta ativa, sem julgamentos.
Claro que teve momentos em que lágrimas teimavam em aparecer, mas eram de gratidão por estarmos juntas, vivas, sobreviventes e prontas para seguir adiante.
Laços de amizade são um bálsamo para a alma, curam tristezas, aquecem o coração e podem ter como efeito colateral ataques de riso intermináveis.
O evento durou o dobro do tempo estimado e no final ninguém queria que acabasse, ficamos um tempão nos despedindo sem sair, como crianças que não querem ir embora da festa, alegres e felizes.
Foram momentos mágicos e indescritíveis.
“Quero um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena.” Clarice Lispector
Lilian Schiavo
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