Menos eu, mais nós

Estamos todos conectados, ligados por fios invisíveis que formam teias fantásticas e até mesmo a pessoa que opta por ser uma eremita não pode negar que para nascer precisou cortar a primeira conexão: o cordão umbilical.

É inevitável, somos interdependentes, resultado de uma rede de familiares, professores, mentores, pessoas que nos inspiraram, abriram portas de oportunidades, ensinaram o caminho das pedras.

Por tudo isso, costumo dizer “menos eu, mais nós”.

O “eu” é solitário, às vezes arrogante, competitivo e invejoso, não quer compartilhar, é egoísta e egocêntrico… ao invés de diálogo prefere um monólogo onde invariavelmente as frases começam com eu sou, eu fiz, eu, eu e mais eu, aliás, só eu o tempo todo.

O “nós”, remete à pertencimento, união, força, empatia e afeto. Quando penso em nós o coração fica quentinho, cria uma cumplicidade, um companheirismo, viramos um time, uma equipe, uma família.

A filosofia ubuntu é uma filosofia africana que tem origem nos idiomas zulu e xhosa e quer dizer “Eu sou porque nós somos”, é acreditar que com cooperação se alcança a felicidade, que as pessoas não devem levar vantagem pessoal em detrimento do bem-estar do grupo. Com simplicidade e muita sabedoria eles acreditam que para uma pessoa ser feliz é preciso que todos do grupo sejam felizes, afinal, estão todos conectados uns aos outros e essa relação estende-se aos ancestrais e aos que ainda irão nascer.

Ubuntu pode ser traduzido como “minha existência está conectada à do outro”, refletindo respeito, solidariedade, confiança, generosidade, cooperação e empatia.

Reza a lenda que um antropólogo ao visitar uma tribo africana propôs uma brincadeira para as crianças, então colocou um cesto de frutas debaixo de uma árvore e disse que o primeiro que chegasse ganharia o cesto. Ao dar o sinal de partida, as crianças deram as mãos e chegaram juntas para repartir o prêmio. Intrigado, ele questionou por que elas agiram assim e recebeu como reposta: – ”Ubuntu”, como um de nós poderia ficar feliz se o resto estivesse triste?

Nunca se falou tanto em sororidade, compaixão e empatia, mas também nunca se falou tanto em saúde mental, depressão e burn out.

Num congresso, ouvi a palavra wollying, a junção de women+bullying, um assunto delicado, incômodo e indigesto.

Wollying designa atos de agressão e intimidação intencionais e repetitivos adotados por uma ou mais mulheres contra outra mulher, uma atitude que pode causar dor, depressão, angústia e em casos extremos levar ao suicídio.

O Conselho Nacional da Saúde alerta que a violência é uma constante na vida da maioria das mulheres, estamos sujeitas a sofrer agressões físicas, psicológicas, patrimoniais, sexuais e morais, violência política e obstétrica ou ser alvos de humilhações, fofocas, intrigas, mentiras e exclusão.

Num mundo competitivo como o que vivemos é difícil mas não impossível praticar o ubuntu, é preciso tomar um antídoto contra o bichinho da inveja e não enxergar a outra como rival mas sim como uma igual à você, é essencial viver em harmonia e paz, aplaudindo o sucesso da outra com sinceridade.

Nós mulheres já temos tantos desafios para enfrentar, ouvimos tantos nãos, choramos escondidas diante de injustiças, somos ignoradas, gritamos para ser ouvidas, somos chamadas de loucas e questionadas sobre nossas capacidades.

Diante deste quadro, será que algum dia você debochou ou tratou mal outra mulher? Reflita e tenha coragem de mudar, de pedir desculpas, de dar a mão para que ela se levante mas se por algum motivo isto não for possível, fique de longe torcendo para que ela seja feliz de verdade.

Como diz minha amiga Katia Teixeira: -”Ser soror é uma questão de comportamento, aplicar a sororidade é uma questão de caráter.”

Ubuntu significa humanidade!

Menos eu, mais nós! Eu sou porque nós somos!

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagem: Freepik

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