Na semana passada, vimos a Cidade Cenográfica de “Meu Pedacinho de Chão” como um grandioso Adereço, resultado do trabalho coletivo de hábeis artistas, artesãos, aderecistas, cenógrafos, figurinistas e produtores de arte. Paralelamente, a Cidade Cenográfica também constituía uma verdadeira uma obra-de-arte, uma instalação artística. Acima de tudo, a Cidade era especialmente, o personagem principal da trama; um ser vivo que respirava e estava em constante mutação.
Esta constante transformação se devia por diversos fatores. Primeiramente, a própria ação do sol e da chuva mudava a tonalidade dos elementos, afinal, ficavam diariamente expostos a suas ações. Além disso, o galpão-ateliê comum a toda a equipe não cessava de criar, adaptar e reinventar os cenários, objetos e paisagens da cidade. Por fim, “Santa-Fé”, como era chamada a cidade do folhetim, passou por três estações do ano bem definidas: Primavera, Outono e Inverno.
A trama começa na Primavera, onde milhares de centenas de flores, árvores e folhagens artificiais foram plantadas manualmente uma a uma. O colorido Impressionista transportava o telespectador para os jardins de Monet, ou um quadro de Van Gogh. Ao mesmo tempo, remetia a um conto-de-fadas, um sonho, um brinquedo de criança, uma fábula atemporal contada por um garoto.
A estória se desenrola, os personagens amadurecem, e sorrateiramente chega o Outono. As cores predominantes do arco-íris cedem lugar ao ocre, mostarda, laranja, telha e cor de barro. As rampas de acesso às casas e partes pavimentadas foram pintadas nessas cores, assim como os trigais. Muitas folhas secas foram espalhadas pelas ruas e caminhos. Foram criadas árvores de ferro, com folhas artificiais, ambulantes, ou seja, perambulavam pelos cenários conforme a necessidade, conforme o enquadramento da câmera.
No interior dos cenários, os arranjos de flores passaram a seguir a paleta outonal. Frutos da estação vieram a figurar nas cozinhas, hortas e canteiros. O belíssimo figurino também acompanhou a temperatura das cores. Tudo em perfeita harmonia.
A chegada do Outono também marcou a mudança de um dos personagens centrais da trama, Zelão (Irandhir Santos). O amor e a alfabetização o transformam em um novo homem. O vermelho se torna a cor dominante de seu figurino, representando o sentimento que sente pela professora Juliana (Bruna Linzmeyer). A borracha e o plástico são substituídos pelo tecido, e ficam incumbidos somente dos detalhes. O antigo cowboy de brinquedo se transforma em um sofisticado toureiro.
Como se não bastasse, o Outono se vai e a Vila de Santa Fé passa por mais uma mudança surpreendente: a chegada do Inverno, promovendo uma troca de humores, figurinos, cores e texturas. Doze mil metros quadrados de acrilon foram utilizados para simular a neve cobrindo os telhados, jardins e as ruas de Santa Fé. Uma equipe de alpinistas foi contratada para aplicar o acrilon no alto das edificações para agilizar o processo.
Papel, plástico, resina e gesso foram utilizados para dar o aspecto das vilas da Europa no Inverno. As estalactites foram recordadas de placas de PET moldadas. As árvores andantes, que já existiam na Primavera e no Outono foram pintadas de branco. As casas forradas de lata foram cobertas por um plástico cristal enrugado e tratado para parecer com o gelo (o plástico é muito presente na novela). Os painéis pintados a mão que cercavam a cidade também acompanharam a nova paisagem nevada.
A temperatura fria também acarretou uma mudança no comportamento e no temperamento dos habitantes da Vila de Santa Fé. Seria como se o coração gelado de Zelão (Irandhir Santos), tivesse congelado toda a cidade. Indubitavelmente, todos se tornaram muito agasalhados, mas com a mesma criatividade, inovação do figurino impecável do folhetim.
Não podemos deixar de mencionar o preciosismo da Produção de Arte, que agasalhou até os animais de resina presentes em toda a Cidade Cenográfica. Imprescindível em qualquer cenário invernal infantil, um divertido boneco de neve cenográfico figurava na paisagem alva e congelada.
Paralelamente, as maquetes criadas pela equipe de animadores de stop motion da novela, também passou pelas mesmas transformações climáticas que a dramaturgia real. Um trabalho minucioso e impressionante.
Na semana que vem tem mais produção de arte na televisão pra vocês!
*REFERÊNCIAS
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- Vestindo a Cena. vestindoacena.com/o-mundo-encantado-de-meu-pedacinho-de-chao/
- Memória Globo. memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/meu-pedacinho-de-chao-2014/meu-pedacinho-de-chao-2014-cenografia-e-arte.htm
- Portal Sete Artes. portalseteartes.blogspot.com.br/2014/05/meu-pedacinho-de-chao-muito-mais-que-um.htm.
- Artistas plásticos e cenógrafos chamam a atenção com o sofisticado visual de ‘Meu pedacinho de chão’ http://www.uai.com.br/ . Autor: Ana Clara Brant
- Cenografia e Artes Visuais. Artes Provisórias. https://artistaprovisorio.wordpress.com/2015/06/01/cenografia-e-artes-visuais/
- ‘Meu Pedacinho de Chão’ não se acomoda e faz nevar no Rio’. Caderno Cultura, Estado de São Paulo. Colunista: Cristina Padiglione
- Premiere Rangée. Autor: Natalie Barakat.http://premiererangee.blogspot.com.br/2014/07/o-figurino-impecavel-da-fabula-meu.html