Fernanda Bedran – Arte na TV: Adereços do passado

Há muitas semanas atrás, começamos nosso passeio pelo mundo dos Adereços na Produção de Arte. Vimos a perfeição dos adereços da Dramaturgia e nos encantamos com a criatividade dos adereços fantásticos dos Programas de Variedades. Não poderíamos deixar de mencionar, no entanto, a magia dos Adereços dos Programas de Época, um dos grandes responsáveis por esta viagem no tempo.

Vejam no slide de capa e no seguinte desta coluna, as graciosas embalagens feitas à mão, uma a uma, para a loja da Fábrica “Bombom” da novela “Chocolate com Pimenta”, 2004. Obedecendo aos padrões da década de 20, tabletes cenográficos (compensado ou MDF) eram individualmente cobertos por papel laminado dourado ou prateado, para posteriormente serem embalados com a marca e nome do chocolate. Do mesmo modo, caixas de papel e latas eram cuidadosamente envelopadas, forradas ou adesivadas, sem contar com as lindas sacolinhas de papel listradas, ou sacos de plástico celofane, que carregavam bombons cenográficos em seu interior. É claro que o teor cômico da novela permitia que a Produção de Arte usufruísse de certa liberdade criativa, pourquoi pas?

Slide 2: As lindas embalagens expostas no interior da loja da Fábrica “Bombom”, da novela “Chocolate com Pimenta”, 2004. No primeiro slide, a Produtora de Arte Isabela Sá posa com sua equipe no lançamento da novela para a imprensa, em 2004.

A mesma sofisticação se repetiu nas charmosas embalagens de sabonetes da Fábrica e Loja “Aroma” da novela “Êta Mundo Bom”, em 2016.

Slides 3, 4: No primeiro slide, a vilã Sandra (Flávia Alessandra) experimenta o mais novo aroma dos sabonetes da fábrica de sua tia Anastácia (Eliana Giardini). Nos detalhes, as mais variadas e sofisticadas embalagens dos sabonetes finos.

E falando em detalhes, praticamente todos os objetos de cena em programas de época precisam ser cuidadosamente revisados e muitas vezes reformulados pelas mãos talentosas dos Aderecistas. Vejam alguns simples, mas importantes exemplos abaixo:

Slide 5: Para a minissérie de dez capítulos “Ligações Perigosas”(2016), capas de discos de vinil foram meticulosamente produzidas, assim como capas de livros da época, dinheiro cenográfico envelhecido e álbuns de fotografia. (Fotos e trabalhos de Sandra de Sá-Fortes Gullino) —- Slide 6: A vendedora de cigarros e charutos no Cassino gravado para o “Por Toda Minha Vida – Dolores Duran” (2008) oferece ao jogador figurante vários maços de cigarro esmeradamente produzidos de acordo com os padrões da década de 50, onde cada maço continha cigarros “sem filtro” fabricados manualmente (vejam o processo no detalhe). Observem também, o cuidado da aplicação dos diferentes rótulos e acabamentos nas garrafas de espumante, obedecendo aos conceitos e materiais vigentes nos anos a que se referem. Na foto à esquerda: três espumantes para comemorar a chegada da Princesa Amélia ao Brasil (1829) – “Novo Mundo” (2017). No canto inferior direito: dois espumantes para a minissérie “Ligações Perigosas” (2016).
Slides 7 e 8: No primeiro slide, mais exemplos dos rótulos aplicados às garrafas de bebidas para a minissérie “Ligações Perigosas” (2016). No segundo, o detalhe do fósforo, do maço de cigarro e das garrafas para o “Por Toda Minha Vida – Dolores Duran” (2008).
Slide 9: Além da caligrafia primorosa, o envelhecimento do papel também instrui e indica ao telespectador que o programa é de época, como uma espécie de código. O processo pode ser feito das mais variadas formas: chá, café, vieux chêne (líquido ou pigmento de tonalidade castanho escuro), giz de cera e até a queima com fogo. —- Slide 10: No aparelho comunista do Professor Laval (Michel Melamed) na minissérie “Dois Irmãos” (2017), todos os papéis, jornais, revistas, fotos, cartas, pastas e documentos foram minuciosamente envelhecidos. Uma das técnicas usadas e pouco conhecidas para o envelhecimento foi o uso de finas camadas subsequentes de cera branca, que, após a secagem, recebiam a aplicação de borra de café e calor do fogo.
Slide 10: E para terminar, não poderíamos deixar de dar uma prova do que vem por aí em 2018: o belíssimo trabalho de Produção de Arte medieval para a novela “Deus Salve o Rei”.

Na coluna da semana que vem, continuaremos a análise de mais adereços de época. Não percam!

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