Lilian Schiavo: Efeitos colaterais

Em época de confinamento a pergunta que mais fazemos é: Como você está?

Sinceramente, espero que esteja bem, gozando de plena saúde física e mental.

Não vou falar das notícias nem das medidas de prevenção,  você está cansada de tanto ouvir sobre isso.

Quero contar o que tenho visto e vivido.

Uma gigantesca onda de empatia, compaixão e amor está se movendo para afogar os sentimentos de medo e intolerância.

Perder a liberdade de ir e vir me faz refletir sobre a importância da simplicidade e do essencial.

Não é só a aparência…provavelmente você está como eu,  de pijama ou moletons, privilegiando as roupas confortáveis e se esquivando de lives para não precisar se arrumar.

Descobrimos novos talentos em nós mesmas. Você pode ter desenterrado um dom como  chef de cozinha, personal organizer, secretária remota ou comentarista de seriados.

Sua sensibilidade pode estar alterada e você percebe que está mais emotiva, derrama lágrimas ao ouvir a mensagem carinhosa de uma amiga ou chora copiosamente quando pensa nas pessoas que moram nas ruas ou naquelas que não tem acesso nem a saneamento básico, quanto mais a álcool gel e distanciamento físico.

Incentivo mulheres a  comprarem produtos e serviços de outras mulheres porque sei que a maioria delas se tornou empreendedora quando os filhos nasceram ou perderam o emprego ou se separaram ou precisam cuidar de pai ou mãe doentes e os boletos chegam sem parar ou pedir licença.

Nesta época de crise criei um grupo para que as empreendedoras se apresentem e mostrem o que fazem, conexões são estabelecidas, surgem amizades onde uma apoia a outra, elas se incentivam e exercem a escuta. Muito além de negócios elas contam quando estão deprimidas, quando as forças estão se esvaindo, quando se sentem sozinhas.

Somos reais e verdadeiras! Não precisamos fingir e posar de super poderosas e perfeitas, nós desabamos, choramos e sim, não somos as donas da verdade… muito pelo contrário, erramos muito.

Dizem que somos muito falantes e isso é bom, o ruim é quando exageramos e dizemos bobagens… o resultado pode ser catastrófico porque não dá para sair por aí buscando as palavras de volta, então, o jeito é pedir desculpas, se perdoar e liberar perdão. Este período está sendo ideal para reatar amizades perdidas no tempo ou esclarecer um mal entendido. Experimente!

Outro efeito colateral deste confinamento é perceber que somos todos absolutamente iguais, então a arrogância é substituída pela humildade quando posses e títulos não te imunizam de um vírus que está no ar e pode atingir qualquer um, indiscriminadamente.

Portanto, se você se considerava a última cereja do bolo é uma boa hora para olhar no espelho e tirar a capa da personagem, entender que hoje dependemos uns dos outros para superar essa pandemia, experimente se olhar sem filtro, você vai ficar bem mais leve e feliz.

É, as coisas mais preciosas da vida não se compram e valores não são negociáveis.

Mudanças estão acontecendo, antes nem sabíamos quem eram nossos vizinhos, hoje criamos uma rede de solidariedade e compaixão para saber se alguém precisa de ajuda.

Liguei para uma amiga que mora sozinha e perguntei como ela estava, a resposta foi a inspiração para este texto. Ela me disse que sente paz, muita paz e a certeza que está sendo transformada para melhor, que agradece a Deus pois no ano passado ficou  31 dias sozinha internada num hospital e que para ela esse período foi um treinamento para os dias atuais, simples assim. Nenhum pedido, nenhuma reclamação ou vitimização. Só coragem para seguir sempre em frente, numa batalha diária.

Resiliente, esta é a palavra que resume como seremos no final desta jornada, vamos nos adaptar a novas situações,  aumentar nossa fé e esperança, encontrar serenidade, valorizar a liberdade e nosso cotidiano.

Vamos sair dessa celebrando a vida!

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