Quem somos nós?
Vivemos num país com dimensões continentais e com mudanças ocorrendo o tempo todo, prometo que não vou falar de política, mas sim da curiosidade com que os outros países estão nos observando.
Me convidaram para contar quem somos… O Brasil conta com um gigantesco exército de 9,3 milhões de empresárias, mulheres guerreiras que ocupam os bancos escolares, que acordam de madrugada para ir trabalhar, que passam horas dentro de um transporte coletivo para o trajeto casa-trabalho diariamente, mulheres que mesmo com tudo para desistir continuam em frente.
Sabemos que aproximadamente metade da população é composta por mulheres e meninas, então, se tolhermos as oportunidades delas se tornarem economicamente ativas estaremos prejudicando a economia do mundo… parece lógico!
Representamos 45% dos empreendedores no Brasil e mesmo tendo 16% mais de escolaridade, ganhamos 23% menos do que os homens.
Parece justo? Claro que não!
Nossa luta é para garantir oportunidades iguais para homens e mulheres. Imagine um filme onde 2 pessoas montam uma barraca para vender o mesmo produto: pacotes de biscoitos, iguais, da mesma marca e com uma diferença de preço, uma barraca cobra r$2,00 a mais pelo simples fato do proprietário ser um homem. Ao questionar a diferença de preço entre as barracas que estavam uma ao lado da outra os transeuntes ouviram que essa era a prática de mercado, que isso acontecia diariamente no trabalho, nas empresas, na vida, pode ser que aconteça com você… Aposto que ficou chocada com isso.
Quantas mulheres você conhece que sofrem violência doméstica, física ou psicológica e permanecem reféns desta situação simplesmente porque não têm opção? Caso escolham fugir do algoz irão para onde com os filhos? Morar debaixo da ponte?
O Brasil ocupa o vergonhoso 5° lugar no ranking de homicídios contra a mulher segundo a OMS- Organização Mundial da Saúde estando abaixo de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Em nosso país, 32% das mulheres vítimas de violência não denunciam seus agressores por depender financeiramente deles.
O empreendedorismo feminino é uma necessidade, mais que uma questão de sobrevivência é a saída para a independência financeira e a capacidade de tomar as rédeas da própria vida. É, as mulheres precisam ter as mesmas oportunidades e acesso às linhas de créditos, isso não quer dizer que somos iguais aos homens. Continuaremos sendo as mediadoras da paz nos conflitos familiares, as solucionadoras de problemas, as divertidas, as criativas capazes de contar histórias para dormir ou inventar receitas mirabolantes, as loucas que dançam enquanto varrem a casa, as incapazes de passar por um espelho sem dar uma olhada.
Segundo o Banco Mundial, ao impedirmos o desenvolvimento do espírito empreendedor e a força de trabalho feminina causamos uma perda de rendimentos total estimada em 27% no Oriente Médio e Norte da África, 19% no sul da Ásia, 14% na América Latina e Caribe e 12% na Europa. Então, se queremos um mundo com uma economia próspera é fundamental garantir que nossa participação seja respeitada.
Mas porque as mulheres ganham menos do que os homens? Numa palestra de profissionais de RH ouvi que a culpa é nossa… conhece aquela clássica pergunta: qual a sua pretensão salarial? Acredito que algumas de nós precisam de um curso intensivo de autoestima, pois ao responder essa questão já se colocam em condição inferior, é comum que os homens iniciem com um valor maior, pois se apresentam com mais confiança, alguns inflando o currículo, com uma autovalorização imensa. Essa defasagem inicial vai crescendo ao longo da carreira até chegar ao disparate da grande diferença na remuneração.
Uma das alternativas para diminuir essa disparidade e agir em prol da prosperidade mundial é a criação de políticas públicas que apresentem mudanças comportamentais. Lançado em agosto de 2018, o Programa tem Saída viabiliza vagas de emprego para as mulheres em situação de violência doméstica e familiar, reinserindo a mulher no mercado de trabalho e ajudando na independência financeira e libertação do agressor.
O Ministério Público de SP produziu uma cartilha para prevenção da violência doméstica, enquanto o SEBRAE auxiliou as mulheres sobre como se tornar uma ME- Microempreendedora Individual.
Em maio de 2019, na Agrotins- Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins, foram apresentadas linhas de créditos e apoio às mulheres e o lançamento da campanha Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAC). O objetivo é compartilhar informações e soluções inovadoras. Fonte: Tocantins Agora.
Todas essas medidas são importantes para fornecer nosso espaço na sociedade mas nada se compara a trabalhar numa empresa onde a liderança é feminina, encontramos empatia na maternidade, afinal, é mais fácil para outra mulher entender o peso da volta ao trabalho, a necessidade de ter um creche próxima, o dilema de continuar ou não na carreira, a possibilidade de trabalhar em casa.
Ao nos transformamos em mães, ganhamos além dos filhos a garra de leoas, uma força inacreditável que nos move, existe um jargão que diz que nasce uma criança, nasce uma empreendedora. Acredito nisso, mas penso que precisamos criar nossas filhas como protagonistas da própria vida, proporcionando para elas a melhor educação, a melhor escola, acesso a livros e mulheres inspiradoras, Sempre conto que cresci ouvindo a história da Madame Curie, lendo Simone de Beauvoir e com a certeza que podemos ser quem quisermos. Afinal, quem impõe os seus limites é você mesma!
Somos grandes! O Brasil, em 2030 poderá ser o 5º maior consumidor do mundo, movimentando 2,5 bilhões de dólares! Hoje temos 190.755.799 habitantes e tendência de crescimento das taxas de poupança de 14,3% a 14,5% do PIB,
Um novo Brasil está surgindo, com mulheres que comandam 40% dos lares brasileiros. sendo que somente em 3% dos lares o homem tem decisões de compra. Alguma dúvida? Quem resolve onde vão passar as férias? Principalmente se os filhos forem juntos, a escolha é definida pela mãe, assim como na hora de comprar um carro, um eletrodoméstico ou definir para onde vão se mudar, se você é corretora de imóveis já sabe que a palavra final é da mulher.
Aqui as mulheres respondem por 94% do consumo do mobiliário doméstico, 45% dos carros novos, 92% dos pacotes de viagens e 88% dos planos de saúde. No ano passado, movimentamos R$57.900 milhões só em cartões de crédito.
Sem dúvida nenhuma, somos uma grande força de trabalho, uma esperança de crescimento econômico, com talentos e dons que podem transformar o mundo num lugar com desenvolvimento humano, crescimento inclusivo e remuneração igual.
O título desta coluna é para dizer que se você atingiu um patamar elevado lembre do caminho que percorreu e dê a mão para ajudar, puxe outra para subir também, quanto mais mulheres unidas, mais fortes seremos, mais longe iremos.
*A matéria de hoje foi baseada em texto fornecido por Adriane Nakagawa do Atelier Jurídico.