Lilian Schiavo: Soft skills

Em algum lugar do passado as reuniões eram inteligíveis para a maior parte das pessoas mas então, repentinamente,  palavras em inglês foram sendo inseridas no vocabulário.

Confesso que no início soou bonito e sofisticado, dava impressão que o interlocutor tinha acabado de voltar de uma temporada de décadas de vivência no exterior e não encontrava a palavra certa em português.

Depois de um tempo percebi que estava enganada, era uma forma sutil de demonstrar uma espécie de pertencimento, de competência, o clube dos que estudaram ou trabalharam no exterior.

Na minha imaginação comecei a navegar pelos ” clubes” que conheci.

Você já teve a oportunidade de conversar com famoso? Chefes de cozinha estrelados capazes de transformar um ovo numa iguaria? Cabeleireiros que cobram uma fortuna mas valem cada centavo investido? Artistas que tocam nossos corações através de música?

Eles têm um ponto em comum: um talento nato e inexplicável! É um dom que te difere dos outros, é aquela e que desde pequeno é um alquimista na cozinha, misturando temperos e sabores, criando delícias. É a menina que cortava e tingia os cabelos das bonecas e das irmãs para desespero e surpresa da mãe. É a criança que toca, canta ou dança desde a tenra idade, abrilhantando as festas da escola ou da família porque a vida para ela é um palco.

Para a maior parte dessas pessoas os bancos escolares não eram convidativos, queriam mesmo colocar em prática as ideias que teimavam em brotar sem parar, quase uma compulsão.

É a diferença entre dons e técnicas… Se você é uma pessoa comum como eu, provavelmente teve que estudar muito para aprender uma técnica, adquirir uma profissão, hard skills são as habilidades técnicas.

Para ser uma arquiteta, precisei passar no vestibular, estudar resistência dos materiais, planejamento urbano, topografia, história da arte entre outras matérias. Fiz projetos, provas, tese de graduação… fui promovida através de notas que eram fáceis de avaliar nas matérias exatas mas subjetivas nos projetos. Era uma forma de mostrar que o professor/cliente define as necessidades e expectativas.

A Wikipédia define soft skills como “um termo em inglês usado por profissionais de recursos humanos para definir habilidades comportamentais, competências subjetivas difíceis de avaliar. Também são conhecidas como people skills ou interpersonal skills.”

É possível medir o índice de carisma, criatividade e liderança? Você conhece pessoas com excelente currículo, fluente em vários idiomas que não conseguem trabalho?

Em contrapartida, você conhece líderes com minibio de 2 linhas, sem pós-graduação, oriundos de uma faculdade desconhecida, que precisam de tradutor intérprete para  pedir o almoço no exterior mas em compensação faturam milhões diariamente e parecem ter um imã que atrai pessoas?

Soft skills tratam do comportamento humano, da inteligência emocional e da capacidade de interagir com outros. São qualidades individuais e intrínsecas, por isso é tão difícil de mensurar e quase impossível de aprender.

Conheço devoradoras de livros e cursos de autoconhecimento que se auto proclamam especialistas no assunto mas na vida real são  incapazes de liberar perdão, respeitar opiniões diferentes ou ter compaixão.

O mundo está mudando, algumas profissões desaparecerão e novas surgirão, o importante é lembrar que seja como fôr, independente do tamanho da sua empresa, se é um produto ou serviço, o foco é as pessoas!

São pessoas que definirão de quem ou o que comprar, sua equipe é formada por pessoas, é uma interdependência.

Saber o significado da palavra em inglês é muito bom, mas fundamental é você exercer humildade, solidariedade, empatia, resiliência e aquele tipo de liderança que independe de título mas que é exercido como um dom, um talento nato.

Imagem enviada pela colunista.

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