Sou uma contadora de histórias de pessoas reais e inspiradoras.
Tenho uma única irmã chamada Lucy, ela nasceu quando eu tinha 1 anos e 2 meses, por isso, está presente em todas as lembranças da minha vida.
A Lucy é dotada de uma inteligência extraordinária, aprendeu a ler aos 4 anos e se divertia com as enciclopédias. Assim ela descobria os átomos e moléculas, a tabela periódica, o mapa mundi.
Meu pai costumava brincar conosco de fazer perguntas, eram desafios matemáticos, os nomes das capitais do Brasil e dos países do mundo. Enquanto eu pensava na pergunta a Lucy já tinha respondido, ela é como uma esponja que absorve conhecimento em tempo recorde.
Estudamos juntas e me acostumei com o jeito dela de responder cálculos aritméticos e equações físicas ou químicas em segundos, na maioria das vezes ela nem fazia anotações.
Para falar a verdade, ela dormia durante as explicações dos professores porque já tinha estudado as matérias em casa. Sua diversão era aprender.
E assim ela passou no vestibular de Medicina da USP no segundo ano do ensino médio e repetiu a dose no ano seguinte entrando nos primeiros lugares nas principais faculdades de medicina.
Ao terminar a faculdade prestou o exame de residência em cirurgia na USP e adivinhem? Ela foi a única mulher daquela turma a passar neste exame.
Meus pais também eram médicos e formados pela mesma faculdade, então imaginem que orgulho ver a segunda geração trilhando o mesmo caminho.
E assim a Lucy foi seguindo a vida, casou, foi trabalhar num hospital, dava plantões no Pronto Socorro, entrava nas cirurgias e quando chegava em casa preparava as refeições e cuidava da casa como a maioria de nós.
Quando engravidou resolveu tomar uma decisão que mudaria sua vida, abandonou a carreira para se dedicar a maternidade em tempo integral.
Impressionante ver como as pessoas julgam, questionam e cobram. Como se fosse inadmissível parar e mudar.
Foi preciso muita coragem, as pessoas a viam como um retrocesso, afinal, depois de tantos anos de estudos e dedicação ela abria mão de uma posição para ficar em casa trocando fraldas e amamentando?
A Lucy sonhava ser mãe, a melhor mãe do mundo! Ela teve 4 filhos e sozinha cuidou deles e das tarefas domésticas.
Era o oposto do exemplo que tivemos, minha mãe era obstetra e meu pai cirurgião, nós crescemos vendo os dois saindo de madrugada para atender emergências, a medicina era a prioridade na vida deles.
Minha irmã optou por ser feliz do jeito dela, vendo os filhos crescerem, amparando e ensinando o que sabia.
Agora, além dos 4 filhos ela tem 4 netinhos lindos.
Há 10 anos foi diagnosticada com artrite reumatoide, chegou a pesar 38 kgs e depender de cadeira de rodas.
que limita sua liberdade de ir e vir.
Todas as vezes que vou visitar a Lucy eu a encontro sorridente, no meio de fios, agulhas de crochê, máquina de costura, tecidos e muitas cores. Nenhuma reclamação ou queixa, só gratidão a tudo e a todos.
Olho para ela e penso que desde pequena ela parecia viver num outro mundo, sem vaidades, sem ego, sem necessidade de títulos ou cargos.
Com muita criatividade ela faz bichinhos, bolsas, mantas e gorros para a família e amigos.
A Lucy continua cuidando de todos com muito amor e dedicação, é um exemplo de protagonismo, uma mulher corajosa que escolheu ser feliz.