Em tempos de união sem fronteiras, num processo irreversível de globalização, a passagem de transferência do poder aos seus herdeiros, ou mesmo àqueles parentes que se tornaram respeitáveis acionistas simplesmente porque carregavam as bagagens, em empresas no Brasil, tem demonstrado que sabemos muito pouco de sucessão parental.
Jovens empresários de décadas passadas, que hoje já poderiam desfrutar de uma boa aposentadoria, têm tido de voltar ao trabalho, pelo menos nas preocupações, pois seus herdeiros, ainda com muito dinheiro a gastar, pouco pensaram em como ganhá-lo. Eles apenas fizeram dos negócios de seus “doadores” um laboratório para testar seus ensaios de economia e administração, obtidos com muita mordomia e motorista particular.
Alguns impérios, bem ao estilo brasileiro, que partiram do nada rumo ao sucesso empresarial, assistem hoje o espetáculo silencioso de ver seu transatlântico dividido em pequenos botes salva-vidas, numa navegação onde cada um quer ficar solitário em seu barco para seguir seu próprio destino.
Isso tem ocorrido, normalmente, pela luta do maior poder de decisão dentro deste mundo de negócios. Diga-se de passagem, que falo do poder de decisão em gastar mais, na maioria das vezes.
Um feito normalmente incentivado pelas suas mulheres “burguesas-jecas”, que acreditam que os respectivos maridos é que tudo fazem e seus respeitados sogros estão ultrapassados.
E aí a ciranda começa. Afinal, o que é um lindo investimento num apartamento em Miami, para passar apenas um final de semana num ano inteiro; um lindo iate, para ficar ancorado na Marina de Angra; um filhinho gastando os tubos em carros de corrida, só porque sua mamãe lhe disse um dia que guiava bem…
Tudo o que o ancião (nosso fundador de empresas) colocou, colher por colher, pela porta, termina saindo de pá carregadeira pela janela.
Enquanto o ancião atendia de avental atrás do balcão, desde a mais simples empregada até o gerente do banco, hoje, para se falar com o filho é necessário passar por três secretárias; enquanto o ancião guiava um caminhão, hoje o filho guia um Porschão.
Os fundadores de empresas têm se preocupado, seriamente, com seus herdeiros, pois as transferências de comando, em tempos atuais, têm sido tumultuadas. Neste momento de passagem de uma geração para outra pode estar escrito o destino da empresa, um destino promissor ou um destino destruidor.
No Brasil a maior parte das empresas tem características familiares, assim como os grupos privados que também tiveram suas raízes em procedimentos familiares. Atualmente uma das maiores dificuldades é evitar que o lado emocional dessas relações familiares dificulte ou impeça a perpetuação da empresa no mercado.
Entregar a direção, com atributos de funções, nas mãos de profissionais executivos de mercado pode também ser perigoso. Até mesmo nos EUA, quando temeroso pelos atos de Lee Yacocca, Henry Ford III, disse-lhe: “Olhe… é o meu nome que está na porta do edifício!”.
Certa vez um pai já cansado de ver seu filho com total desinteresse em sua tecelagem e percebendo que logo não poderia trabalhar mais, chamou o jovem e levou-o até o pátio fabril com um monte de contas a pagar e outros títulos nas mãos, assim como todos os pedidos cancelados, abraçou o jovem, deu um giro mostrando tudo a sua volta e disse-lhe:
– Um dia meu filho, tudo isto será seu!
Se não é essa a intenção que você tem, depois de ter construído seu pequeno ou grande império, prepare sua sucessão.
Mas, prepare mesmo!
Da mesma forma que teve os cuidados iniciais para começar seu empreendimento, inicie o processo de sucessão com quem tem as mesmas afinidades que você possuía à época da fundação.
Assim, você prepara uma transição e não deixa as portas abertas para uma futura transação.
E, mesmo que ache que tudo está pronto para a sucessão, volte atrás, refaça esse percurso e, se for o caso, tente outra vez!
Cesar Romão
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