Confie no seu lado sensitivo.
Todas as pessoas possuem dentro de seu íntimo a sensibilidade para definir, de maneira justa e compatível, aquilo que desejam em suas decisões, emoções, atitudes e pensamentos. É o nosso lado sensitivo, que mais sabe a respeito de nós mesmos, e que quase nada sabemos a respeito dele. O lado onde se hospeda o DNA do Universo Criador. Ele está em todas pessoas, mas as pessoas não estão nele, ele se manifesta a todo instante, mas as pessoas não percebem.
Diz-se que normalmente as mulheres são mais sensitivas que os homens. Este nosso lado sensitivo tem por função chegar primeiro a uma ocorrência e trabalhar para que não façamos parte dela, caso seja incoerente com aquilo que estamos construindo em nossa vida, ou, ao contrário para que façamos parte dessa concorrência, se for coerente com aquilo que estamos construindo em nossa vida.
Toda atitude gera uma energia e, na construção de nosso destino, geramos muitas energias, que buscam fontes para sua alimentação, objetivando continuar a progredir em nosso benefício. Essas energias sabem onde estão suas fontes e tentam avisar-nos toda vez que nos desviamos do caminho a seguir, mas nem sempre ouvimos ou nem sempre entendemos.
No lugar de desenvolver sua comunicação interna, a pessoa desenvolve a comunicação externa, esquecendo-se de que ela própria é a sensitiva de sua vida. Se existe alguém sensitivo para opinar em seu destino, ele não é melhor do que a sua própria intuição.
Não é a instituição do casamento pela igreja que lhe garante a felicidade no lar, mas sim a sua escolha pela pessoa correta e a conduta de ambos no decorrer da união. Uma empresa bem estruturada não é o motivo de sua ascensão profissional, mas sim aquilo que você investe em sua carreira.
Sua festa de casamento pode ser a festa do ano, mas caso seu lado sensitivo tenha lhe prevenido que a outra pessoa não era fonte de energia para construção de seu destino, e você não o ouviu, nada poderá impedir o rompimento nesse relacionamento e será difícil evitar as adversidades provenientes de tal fato.
Pessoas certas unidas com pessoas erradas; profissionais ótimos em carreiras erradas; gente feliz vivendo com gente infeliz; pessoas boas sofrendo maldades; gente sadia acometida de doenças; vencedores no pódio da derrota; empreendedores arrastados pelo fracasso… Apenas e tão somente por total surdez às manifestações do lado sensitivo ao longo de sua vida.
Em alguns momentos de sua vida, você passou por cenas do tipo:
“Algo me dizia para não fazer aquilo!”;
“Algo me avisou para não vir por aqui!”;
“Algo me preveniu para não deixá-lo ir!”;
“Algo me dizia para não acreditar naquela pessoa!”;
“Algo me dizia para não continuar nesse negócio!”;
Assim como o Algo havia dito, prevenido e avisado para não fazer, mas você fez, as coisas não aconteceram bem como você queria.
Em outros momentos, você deve ter passado por algumas outras cenas assim:
“Quando eu a vi, algo me disse que ela era mulher de minha vida!”;
“Ao ver aquela casa, algo me disse que já era minha!”;
“Algo me disse para fazer aquele negócio!”;
“Algo sempre me disse para nunca desistir!”;
Você ouviu esse Algo que disse, preveniu e avisou e, se assim fez, as coisas devem ter acontecido melhor do que você esperava.
Esse Algo é sua manifestação sensitiva. Respeitá-la significa encontrar fontes que vão manter sua energia rumo a benefícios para sua vida; ignorá-la é deixar sua energia de vida sem fonte, sem reabastecimento.
Certa vez, três sufis, muito observadores e experientes a respeito da vida ficaram conhecidos como Os Três Homens Sensitivos.
Em uma determinada ocasião, numa de suas viagens, encontraram um cameleiro, que lhes perguntou:
– Vocês viram meu camelo? Eu o perdi!
– Ele é cego de um olho? – perguntou o primeiro sensitivo.
– Sim! – respondeu o cameleiro.
– Falta-lhe um dos dentes da frente? – perguntou o segundo sensitivo.
– Sim, sim! – disse o cameleiro.
– É coxo de uma pata? – investigou o terceiro homem sensitivo.
– Certamente! – reconheceu o cameleiro.
Os três sensitivos aconselharam o bom homem a caminhar na direção que eles tinham seguido até então, porém em sentido contrário, que poderia encontrar seu camelo.
Pensando que eles o tinham visto, o cameleiro apressou-se a seguir seu conselho. Mas ele não encontrou o seu camelo.
Então, voltou a toda pressa para encontrar-se mais uma vez com os sensitivos, a fim de que lhe dissessem o que deveria fazer.
Ao entardecer, chegou ao lugar onde descansavam e disse-lhes que não o havia encontrado.
– Seu camelo carrega mel de um lado e milho do outro? – perguntou o primeiro sensitivo.
– Sim, sim! – disse o cameleiro.
– Seu camelo carregava uma mulher de cabelos compridos esperando um filho? – perguntou o segundo sensitivo.
– Sim! – disse espantando o cameleiro.
– Não sabemos onde está! – disse o terceiro sensitivo.
Depois das perguntas e a resposta negativa o cameleiro ficou convencido de que os três sensitivos tinham roubado o seu camelo com a carga. Acusando-os de ladrões, levou-os perante um juiz.
O juiz achou que havia motivos para desconfiar deles e os deteve como suspeitos de roubo, a fim de fazer diligências que confirmassem a culpa deles ou os absolvessem.
Pouco mais tarde, o cameleiro encontrou o animal vagando pelo campo. Voltou à corte e pediu que os três sensitivos fossem postos em liberdade. O juiz, que até então não lhes dera oportunidade para se justificarem, perguntou como sabiam tanto a respeito do camelo se nem sequer o tinham visto.
– Vimos suas pegadas no caminho – disse o primeiro sensitivo.
– Uma das marcas era mais fraca que as outras e algo me disse que era coxo – disse o segundo sensitivo.
– Tinha mordiscado moitas de capim só de um lado do caminho, e, portanto algo me disse que devia ser cego de um olho – disse o terceiro sensitivo.
– As folhas de capim estavam rasgadas – continuou o primeiro sensitivo – algo me disse que tinha perdido um dente.
– Abelhas de um lado do caminho e formigas do outro se amontoavam sobre alguma coisa depositada no chão. Vimos que era mel e milho – explicou o segundo sensitivo.
-Encontramos também alguns cabelos humanos, tão longos que algo nos disse que eram de mulher. Estavam exatamente onde alguém tinha parado o animal e havia descido – declarou o terceiro sensitivo.
– No lugar onde a pessoa sentou, observamos marcas das palmas de ambas as mãos, o que nos fez pensar que tivera de apoiar-se tanto quando sentou quando levantou. Algo nos disse que devia estar grávida, em período bem adiantado – falou o primeiro sensitivo.
– Por que não pediram para serem ouvidos a fim de apresentar esses argumentos em defesa de vocês? – perguntou o juiz.
– Porque achamos que o cameleiro continuaria procurando e não tardaria a encontrar o animal – disse o primeiro sensitivo.
– Também contamos com a curiosidade natural do juiz, que o levaria a investigar – disse o terceiro sensitivo.
– Descobrir a verdade por seus próprios meios seria melhor para todos nós, em vez de insistirmos que nos julgassem precipitadamente – disse o segundo sensitivo.
– Sabemos, por experiência, que é melhor que se chegue à verdade através de seus próprios pensamentos – disse o primeiro sensitivo.
– Chegou a hora de partirmos. Espera-nos uma tarefa que precisamos cumprir – disse o terceiro sensitivo.
Os sensitivos sufis seguiram o destino que tinham traçado para si.
Nunca abandone seu lado sensitivo, ou você será presa fácil para os conselhos. As pessoas que não têm contato com o seu lado sensitivo acabam vivendo numa posição de insegurança, quer seja em suas atitudes ou decisões. Tais condições as tornam dependentes de opiniões de terceiros e logo seguidas de conselhos.
Existem poucas pessoas que realmente podem aconselhá-lo. A maior parte, no entanto são infelizes tentando ensinar a felicidade. Normalmente sempre nos aconselham tudo aquilo que jamais fizeram ou vão fazer em suas vidas. Conselhos podem ser remédio para uns e veneno para outros.
Conheço muita gente que por dar valor a conselhos fora de seu núcleo de energia, acabou trincando toda sua vida, e parede muito trincada tem de ser derrubada.
Quando alguém lhe disser:
“Vou dar-lhe um conselho!”, corra.
Mas se este mesmo alguém disser:
“Vou ensinar-lhe algo!”, espere.
Qualquer conselho não é muito bom de se ouvir, e muito pior de se dar.
Alguns macacos, durante uma noite muito fria, buscavam fogo para serem aquecidos. Quando avistaram um vaga-lume que os rodeava, logo deduziram que fosse uma faísca de fogo. Pegaram o vaga-lume, juntaram palha e galhos secos em cima dele e começaram a abanar para conseguir fogo.
Do alto de uma árvore, um pássaro olhava e não se conformava com o ato, pois aquilo que eles pensavam ser fogo, não era fogo, mas sim um vaga-lume.
Depois de tanto gritar seu ponto de vista aos macacos, decidiu aproximar-se para dar um conselho bem de perto.
Voou da árvore, aproximou-se e disse:
– Amigos macacos! Vou dar-lhes um conselho! Acho melhor libertarem este vaga-lume! Vocês não obterão fogo com ele!
Um dos macacos pegou o pássaro, atirou-o ao chão, matou-o, e eles o comeram em seguida.
Tentar endireitar, com conselhos, mentes que não podem ser corrigidas é o mesmo que cortar pedras com espadas ou fazer arcos com galhos inflexíveis. Conselhos podem levá-lo a situações perigosas e, às vezes, um bom conselho é não dar conselhos.
Se você não conhece o caminho que leva até o mar, o melhor é ficar na companhia do rio.
Confie mais em seu “Algo me disse…!”.
“Todos os grandes mestres afirmam que dentro deste corpo está a alma imortal, uma centelha Daquilo que tudo sustenta”.
Paramahansa Yogananda
César Romão
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