O beijo era um toque de amor? Era uma língua desesperada atrás da última gota de iogurte no fundo do pote. Eu precisava sair daquela boca. Mas eu dizia que o amava. Eu achava que o amava. O iogurte estava talhando, o gosto era suportável, a consciência não. Como me livrar daquele quarto onde jurei ficar eternamente? Como ficar naquela cama onde prometi carinho e amor?
Aleguei dor de cabeça, no outro dia TPM, no outro cólica e mais adiante diarreias inexplicáveis. A única coisa constipada era o amor. Mas ele não sabia, nunca deixei que pudesse imaginar. Talvez não fosse verdade, mas talvez tudo também fosse mentira. Ou não.
Dois meses que não escutava sobre Roberto. Ao vaso sanitário, eis que surge uma notificação em meu celular. ‘Oi, tudo bem?’. A mensagem veio por cima da frase que acabara de ler em meu Instagram ‘O que a mente não resolve, o corpo transforma em doença’.
Roberto era algo nunca iniciado e muito menos resolvido. Nos vimos num bar na semana seguinte. Eu com meus três amigos, ele com duas amigas. Éramos muitos ali, no inconsciente apenas nós dois, ou somente eu na inconsequência.
Ele beijou minha bochecha, realmente foi no canto do lábio esquerdo. E num segundo de energia dissipada em meus lábios não consegui alcançar meus sentidos. Qual gosto aquela boca teria? Não saberia dizer e nem o cheiro poderia lembrar. O que a memória não guarda, a vida faz questão de endeusar. E aqueles lábios pareciam cheios de beleza, sabor e uma leve textura como um suave pudim de coco. Você nunca tocou levemente seus lábios num pudim de coco? Quando o fizer, ira lembrar de Roberto e da fome que ele me despertara aquela noite.
Eu o segui até o banheiro e esperei na porta. Mexi no celular para parecer ocupada, mas meu corpo tremia. Então lembrei das crises de diarreia, então lembrei de Paulo, então não lembrei daquele beijo. A ausência de lembranças lançava descargas de desejo. Seria a descarga esse barulho? Por que ele demorava tanto? Também tinha crises de diarreia? Também tinha uma Paula? Meu desejo aumentava. Entrei. Quando o vi, senti seu cheiro pela primeira vez e senti o toque do seu beijo. O gosto era doce, a língua deslizava suavemente, um gelato italiano servido na casquinha. Seu beijo alcançava meu corpo inteiro, não existiam mais os cantos. Agora somente encantos, daqueles lábios, daquele beijo, naquele banheiro, nós dois, encostados na privada.
Lost and Found Kisses
In the natural abyss of love
To which ladders of relief are hidden
No willing outside
Besides no salvation from inside
And we are going to jump anyway
Before kisses have already been made