Sim! Estou falando bem disso que você está pensando… Aquele assédio velado, que não a força a nada, mas deixa bem claro as facilidades que você pode ter, se você se deixar sucumbir ao desejo alheio. Que mulher nunca passou por isso? Sei que alguns homens também viveram isso mas, historicamente, somos nós a “presa” preferencial.
Se você tem mais de 40 e pode dizer de boca cheia que nunca passou por essa situação constrangedora, acredite: você é uma exceção! Pode acontecer com um professor, para passar com nota A+, com aquele cara que podia te ajudar com aulas particulares sem cobrar nada (a não ser um beijinho inocente), com o organizador da festa de fim de ano da escola que te garantia que você tinha tudo pra ser a “rainha do baile”, com o amigo do seu EX, que prometia trazê-lo de volta com revelações mirabolantes, desde que fossem jantar juntos pra comemorar, ou o clássico: aquele chefe que te olha com um jeito sedutor e quase apaixonado, dizendo: “Olha você tem um talento incrível! Pode subir muito na carreira, se ouvir os conselhos de quem tem experiência para ensinar e influência para indicar…”
Quem sou eu para julgar as escolhas de cada uma, mas torço para que você não tenha cedido (nem um milímetro), quando aconteceu, porque coisas assim, não voltam atrás. Há quem consiga ir muito longe assim, na carreira, no convívio social, ou no caminho para virar celebridade.
E mesmo as que chegaram lá, com um “empurrãozinho generoso”, e não se arrependem, acredito que carreguem para sempre a pergunta interna: “Será que eu não teria conseguido chegar até aqui sozinha?… única e exclusivamente por conta da minha capacidade?” – e esta, sinceramente, é uma pergunta que demoliria a minha autoestima.
Trabalhei por mais de 20 anos em TV aberta e -é claro- que recebi dezenas de convites surpreendentes e muito “generosos” ao longo desse tempo. Em alguns casos, demorei um pouco (só um bocadinho) para perceber o que havia por trás deles. Mas bastava um mínimo “avanço de sinal” para eu pular fora e deixar bem claro que o meu futuro profissional só seria negociado a partir do que eu fosse capaz de cumprir com o meu trabalho e o meu potencial.
Acho que por ser filha de um procurador da justiça que transformava uma sutil tentativa de suborno em processo contra o “generoso” acusado (espero que o MP continue gerando funcionários assim), meus valores foram reforçados e meu instinto muito aguçado – para detectar esses falsos beneméritos de plantão – se desenvolveu mais facilmente.
O famoso “teste do sofá” (ainda que não seja explícito e se apresente de maneira convidativa e tentadora) é mais ou menos, para as mulheres, como hoje na política é o aliciamento para a corrupção, exibindo-a não como um delito, mas como uma bela oportunidade. Para muito(a)s, é difícil resistir.
Então, depois de 30 anos, quando chegamos à maturidade, podemos não ter fama, nem riqueza, nem o glamour de quem sucumbiu aos convites e presentes aparentemente inocentes e sedutores, mas posso garantir que ao deitar sua cabeça no travesseiro, você terá a recompensa de ter chegado onde podia, exclusivamente por conta do seu talento, esforço e capacidade. E isso não tem preço.
O sucesso depende da verdade no que se faz, de entrega, dedicação e da serenidade que o tempo traz. O sucesso é estar bem consigo mesmo, sua consciência e fazer o que se ama.
Acredite, você não fecha portas ao dizer “não”. O caminho fácil leva a conquistas sem o mesmo sabor daquelas batalhadas passo a passo e sem a liberdade de saber que a sua estrada foi construída pelas escolhas certas.
Respostas de 2
Renata Figueira de Mello, sempre muito coerente em suas colocações seus textos são coerentes, inteligentes e sempre um prazer ler seus comentários sinceros e maduros parabéns pelo talento nato, desses que com certeza nunca precisam de teste de sofá pois é uma profissional brilhante em tudo que faz. Sempre uma excelente aquisição para a contrata.
Obrigada, Vera. Nem tão inteligente nem brilhante, mas essa coerência com os valores que acredito e respeito, me norteia em tudo que faço. Obrigada pela leitura e participação!