Renata Figueira de Mello:A Marielle viva dentro de nós…

ELAS.COM Não poderia deixar de falar da grande perda que tivemos com o covarde assassinato da vereadora Marielle Franco. Felizmente a imprensa se comprometeu com o acompanhamento das investigações até o fim. Estejam implicados o crime organizado, facções do narcotráfico ou até mesmo as milícias sejam da polícia civil ou militar, é importante antes de tudo descobrir os culpados e puni-los, exemplarmente.

Mas a nós, mulheres, tão bem representadas por essa guerreira que lutava pelos direitos das mulheres, cabe levar a bandeira que ela deixou tremulando. E não permitir que sua luta seja esquecida. E que ela se transforme, sim, num ícone daquilo que acreditamos e que não pode ser calado por balas encomendadas.

Tão linda e batalhadora, ela não foi abatida na volta de uma balada, mas de uma reunião de mulheres que discutiam exatamente como resistir… Porque ela vinha da favela, era mulher, negra e tinha história de vida para inspirar. Muitas mulheres, em situação de risco, simplesmente por morarem em favelas, hoje chamadas de complexos e comunidades, discutiam a violência e a intervenção do exército e da polícia de choque nestes morros do Rio, onde os traficantes se escondem e comandam, mas também onde vivem muitas famílias e gente do bem.

O Rio de Janeiro está doente. Todos nós sabemos. Acometido de uma doença crônica que já é detectada em vários pontos do país. A cura? Não será só o armamento pesado e a polícia com presença ostensiva nesses locais onde o crime virou negócio. Era sobre isso que Marielle tanto falava e tanto buscava apoio. O policiamento e a ocupação são medidas emergenciais para conter a sangria desatada dessa doença que se propaga. Mas é preciso combater o mal inicial. A falta de oportunidade de trabalho que leva adolescentes ao tráfico, a educação que os pode preparar para fugir da criminalidade, a saúde, para que ninguém justifique um furto por não ter como manter um filho em tratamento num hospital, ou pra lhe dar um prato de comida.

Marielle falava das desigualdades, das diferenças, da necessidade de um trabalho de base para formar cidadãos melhores. Sua morte incomoda tanto, que até os políticos desclassificados buscam notícias falsas, e as plantam em redes sociais, sobre essa pessoa tão honrada e trabalhadora, querendo comprometer seu passado.

Nós, mulheres, não permitiremos que manchem a história dessa guerreira, feminista, ativista pelas causas dos menos assistidos. Nós não vamos esquecer dessa morte brutal e vamos exigir uma explicação. Quem pode ter interesse em calar uma voz que briga pelas nossas questões mais legítimas? Quem atirou, quem mandou matar e por quê? Sim. Devemos exigir respostas e punição. É o que ela falaria.

Pensaram que estavam calando uma mulher humilde e seu sonho grande de justiça… Mas mexeram com todas nós, que hoje a trazemos viva, dentro de nós, no desejo de um país melhor onde a impunidade não tem mais lugar. Não adianta desejar apenas que ela descanse em paz. Tenho certeza de que ela não estará em paz enquanto crimes como esse que tirou a sua vida continuem a manchar a história de um país que não pode se render nem ao crime organizado, nem à corrupção e nem aos desmandos de governos e medidas que nos deixem cada vez mais vulneráveis.

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