Com tantas amigas sendo mães de primeira viagem, vira e mexe resgato com elas – e na minha memória – , algumas experiências da gravidez e dos primeiros meses com um bebê. É engraçado como a gente sai tocando a vida e deixa de lado alguns assuntos, até mesmo sem querer.
Aí, vem a semana do Dia das Mães: sempre fico emotiva com as propagandas, procuro me esforçar para ver a minha mãe que mora no interior, preparo um programa com a família para o domingo e penso em como essa escolha mudou a minha vida completamente. No fim das contas, deu tudo certo e sou muito feliz com tudo isso.
Mas tem um ponto que nunca esclareci direito e, hoje, batendo um papo nada suave com uma amiga, percebi que ela também não. Por que o parto não foi como eu quis, como eu planejei?
Dar à luz é, certamente, uma das experiências mais marcantes na vida da mulher que é mãe. Eu, por exemplo, guardo lembranças de cheiros do dia em que dei entrada na maternidade e das horas que se seguiram lá. Como muitas de nós, quis e fiz de tudo para ter um parto normal. Não rolou!
Na hora, chorei muito porque não queria uma cesárea, mas não consegui suportar as consequências de uma decisão errada e segui as orientações médicas. E, lá fomos nós para o centro cirúrgico. Entreguei aquela decisão nas mãos do mesmo médico que, na primeira consulta pré-natal, disse o seguinte sobre a diferença entre o parto natural e a cirurgia: “é que a primeira opção estraga o brinquedinho”. Me lembro de rir, ainda barriguda, olhando para o meu marido, mas essa frase nunca me saiu da cabeça.
Naquela noite de lua cheia em que me preparava para finalmente ver minha filha pela primeira vez, entendi que aquela frase não era uma piada, era um ponto de vista. Preciso dizer que minha filha nasceu cheia de saúde apesar de duas voltas de cordão umbilical em torno do pescoço. Suspiramos aliviados, agradecemos o médico e bola pra frente!
Mais de uma década depois, minha amiga vem me falar sobre seu parto e vejo nela a mesma decepção. Durante as consultas, o médico chegou a medir seu quadril e dizer que ele era pequeno demais (visualmente, parece o oposto). “Eu queria fazer parto normal, mas, no fim de 39 semanas, a bolsa estourou, corri para o hospital e, apesar da minha expectativa, a enfermeira me informou na triagem que meu médico já estava me esperando para o parto. Já comecei a chorar e disse: ‘eu não saio daqui enquanto meu médico não falar comigo. Quero esperar o tempo que der pelo parto normal’. No fim, foi cesárea, chorei o parto todo, mas não de emoção, de ódio. Quando conto, as pessoas falam: ‘não reclame, ele fez o melhor’. Mas, no fundo, sempre achei que poderíamos ter esperado mais”, confidenciou minha amiga. Um dia, sem perceber, enquanto vê sua filhinha crescer, ela também vai deixar isso pra lá!
Claro que conheço mulheres que levaram a cesárea numa boa, outras que passaram mais de 18 horas em trabalho de parto e deram à luz de maneira natural. Elas também têm suas histórias de sucesso e decepção para contar sobre como foram tratadas ou sobre as sequelas da recuperação. Sabe o que penso, de verdade, como mulher? Queria ter perguntado mais, esclarecido todas as dúvidas possíveis, mas acho que, mesmo assim, teria outros grilos.
Quando dizem que “ser mãe é a melhor coisa do mundo”, que “é padecer no paraíso”, eu até acho bonito. Mas nada é tão verdadeiro pra mim quanto aquele momento em que a gente está ali… seja de cócoras, numa banheira ou na maca de um quarto coletivo. Só a gente sabe o que realmente passa pela cabeça e só a gente pode mensurar o conflito que acontece. É aquele momento que continua me definindo como mãe: alguns desejos são atendidos, algumas concessões têm de ser feitas, mas, se a gente entende a beleza disso tudo, valeu toda a experiência! Pra você também valeu?
Feliz Dia das Mães!