Crítica: Brightburn: Filho das Trevas (Brightburn) | 2019

Brightburn

Você já viu esse filme: um bebê chega ao planeta Terra em uma cápsula espacial que aterrissa em uma fazenda no estado do Kansas, EUA. A criança é descoberta e criada por seus pais adotivos (que não podem ter filhos) que aos poucos, vão descobrindo que o moleque espacial é dotado de incríveis super-poderes, e quando ele se torna um adolescente, começa a trilhar o caminho para se tornar a maior esperança da humanidade. A questão é que não, você não viu esse filme.

Brightburn: Filho das Trevas (Brightburn, EUA, 2019), propõe uma curiosa alternativa em cima do mito do mais poderoso dos super-heróis, ao fazer o seguinte questionamento: e se esta criança alienígena que chega à Terra fosse na verdade o capeta em forma de gente? O que aconteceria se a grande esperança da humanidade fosse na realidade, maligna?

Com super-heróis saturando (ainda no bom sentido) a indústria cinematográfica e também a televisão, era tão inevitável quanto Thanos que o amado subgênero dos quadrinhos começasse a aparecer nos cinemas de outra forma: como uma história de realidade alternativa. Tanto os fãs da Marvel quanto os da DC já estão bem familiarizados com este tipo de história (pelo menos nos quadrinhos lançados à partir dos anos 90), que mostra situações em que personagens conhecidos do grande público são reimaginados, levando-se em conta pequenas variações em suas origens e surgimentos. E quem conhece sabe, há várias histórias incríveis nesta vertente dos quadrinhos, e não só nos da Marvel ou da DC.

Não é surpresa, portanto, que Brightburn seja ambientado em um destes (não-licenciados) mundos paralelos, onde um estranho visitante de outro planeta acaba mostrando-se um tanto… enlouquecido. À medida em que nosso visitante espacial cresce e amadurece, sua natureza revela-se cada vez mais sombria. E logo, o espectador constata que está na realidade assistindo a um filme de terror banhado de muito sangue ao invés de uma colorida história de fantasia.

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O filme com certeza tem algumas credenciais geek. JamesGuardiões da GaláxiaGunn é o produtor e seu irmão, Brian, e seu primo, Mark, são os responsáveis pelo roteiro. A direção ficou a cargo de David Yarovesky (do horror de baixo orçamento A Colmeia, 2014). A bela Elizabeth Banks, protagonista da estreia de Gunn na direção, Seres Rastejantes (Slither, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), interpreta sua versão da “mamãe” Martha Kent; e David Denman (da excelente série de horror Outcast), é o substituto do papai Kent.

O “Superman” em questão é interpretado por Jackson A. Dunn (o garoto na bicicleta de uma das cenas da sensação Vingadores: Ultimato, aquela onde o Homem-Formiga retorna do mundo quântico). Que tal isso como referência geek! E se tem algo que funciona realmente bem no filme, é justamente o garoto. Sua expressão quase angelical fornece um forte contraponto às atrocidades que ele comete ao longo da produção. Algumas delas revelam-se ainda mais perturbadoras após o término do filme, quando pensamos nelas um pouco mais. Dunn traz o nível exato de conflito e complexidade ao papel, convencendo o espectador de que ele é de fato uma figura volátil e assustadora, sem cair na armadilha de parecer como alguém que simplesmente não se importa com as consequências dos atos que seu personagem comete. Como Brandon Breyer (um nome espertamente criado como uma aliteração ao nome do filme), Dunn é o diferencial da produção.

Porém, o filme carrega um excesso de aspectos derivativos em sua composição. O mais incômodo deles sendo os personagens de Banks e Denman, que são tão estereotipados que parece que ambos proferem suas falas enquanto lêem o ABC dos Pais Adotivos do Cinema. O tempo gasto com a incredulidade, negação e ingenuidade deles com relação à natureza de seu filho, inclusive, faz um filme relativamente curto parecer muito mais longo do que necessário. Yarovesky e o clã Gunn poderiam ter focado mais tempo na dança de Brandon entre a sua natureza maligna e a criação carinhosa de seus pais, por exemplo. O garoto Dunn com certeza teria dado conta do recado no que diz respeito à dramaticidade de seu personagem.

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Além da excelente performance central, Brightburn: Filho das Trevas tem outros pontos à favor, como uma impactante concepção visual, além de algumas imagens realmente horripilantes (trata-se de um filme de terror, afinal), onde Yarovesky passeia lentamente com sua câmera mostrando detalhes do gore com o intuito de gelar a espinha do público, o que ele várias vezes consegue. E como comentei, não deixa de ser interessante acompanhar esta subversão dos mitos dos quadrinhos, mesmo que a ideia nunca seja explorada em sua totalidade de forma que desafie as convenções ou expectativas do gênero.

Ainda assim, os fãs dos quadrinhos, do cinema de super-heróis e principalmente do cinema de horror, têm bastante material para se deleitar durante os ligeiros 90 minutos da produção. Se você for fã das três vertentes então, assim como eu, dá para se divertir (e se assustar) um bocado.

Brightburn: Filho das Trevas estreia nos cinemas brasileiros no dia 23 de Maio.

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