Bom dia meus amigos queridos!
O Natal está chegando.
A gente se ilude com o Natal do glamour, dos shoppings, das compras, do mercantilismo e do capitalismo selvagem.
Na realidade, este “Natal para fora” exacerba as diferenças sociais, produz a angustia de milhares de crianças que não têm, e faz com que milhares de pais se sintam culpados por não poder proporcionar o tal glamour da experiência de compra, e troca de presentes que carrega o “Natal para fora”.
Eu gosto muito do tradicional Marché de Noël na Europa, tomo sempre um bom chocolate quente, gosto de abrir e dar presentes aos meus amigos, familiares e tudo mais.
Não há nada de errado em toda esta descrição desde que a gente conheça o sentido do “Natal para dentro” e tenha o mínimo de sensibilidade para fazer do Natal de alguns que passam pela nossa jornada, um Natal digno do encontro humano, de surpresas, de chocolates quentes e troca de presentes também.
No entanto, o Primeiro Natal não tinha nenhum glamour e nenhuma magia do ponto de vista da relevância de tal acontecimento histórico na Palestina daqueles dias.
A gente se esquece que o Primeiro Natal não aconteceu em um confortável hospital, com assistência de enfermeiros ou doulas para sustentar Maria durante a dor do parto, mas em uma possível gruta, segunda a tradição dos pais da igreja.
Em uma manjedoura com um pouco de palha.
Alguns dirão que foi em uma estrebaria ao redor de muitos animais segundo a tradição do presépio. Seja como for, certamente não foi em um ambiente sereno para dar à luz.
Você pode imaginar uma estrebaria? Você pode imaginar o cheiro desagradável de esterco? Você pode imaginar os mosquitos voando?
Na realidade o contexto era de tensão, perigo, solidão e incertezas.
Dito isto, a gente se esquece que o “Primeiro Natal” não teve os holofotes de nenhum evento religioso. Jesus não nasceu em Jerusalém. Jesus nasceu em Belém. Ele não nasceu na capital da religião.
A gente se esquece que o Primeiro Natal não tinha a expectativa dos escribas da Lei, ainda que cada um deles conhecesse o texto de cor e salteado.
Isto posto, todos conheciam o texto do profeta Miquéias que dizia que seria na cidade de Belém onde nasceria o Messias, mas ninguém deu um passo em direção à Belém!
Jesus nasceu debaixo da fúria horrorosa e genocida de um rei chamado Herodes que tentou fazer uma “ação cirúrgica” para matar o chamado “rei dos judeus”, mas acabou matando centenas e milhares de bebês recém nascidos.
Se Herodes pudesse, ele teria usado um “drone” para seguir os reis magos, mas o tal rei Herodes foi escrupulosamente desumano, e acabou fazendo com que centenas e milhares de pais chorassem pela perda dos seus recém nascidos.
A gente se esquece que o Primeiro Natal não teve apenas o encanto dos chamados reis magos e da estrela que brilhava, mas a insegurança e temor dos mesmos que para retornar à Pérsia escolheram um outro caminho, pois provavelmente tomados de medo sabiam que Herodes poderia descobrir onde o menino Jesus se encontrava.
E mais ainda, olhem a profecia que Maria recebeu: “Ele, Jesus, será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma”.
Qual pai ou mãe gostaria de receber tal profecia para o seu filho ou filha?
Eu não! Jamais.
E a “pobre” da Maria dizendo “Eu estou grávida de Deus…”
Alguém se candidata a ser Maria?
E o “pobre” do José que recebeu um sonho para assumir tal paternidade.
O que você acha de ser um José? Deus me livre!
José não teve tempo nem de respirar. O privilégio do susto é dele, e só dele.
De modo que nunca aconteceu nada igual ou similar na história humana.
E jamais acontecerá algo da mesma natureza.
Dentro de uma sociedade machista de 2000 anos atrás. Dentro de uma sociedade que apedrejava mulheres. Dentro de uma sociedade com estes contornos parecia que um adultério tinha ocorrido.
E o que dizer da perseguição, perigo, e fuga para o Egito como refugiados?
O Primeiro Natal foi longe de um ambiente familiar. O Primeiro Natal foi longe de um ambiente aconchegante, tranquilo ou sereno do ponto de vista de qualquer grávida que espera o momento do parto.
E a relevância de Jesus no momento histórico?
Não há!
De modo que este cenário visto do ponto de vista humano deveria ser objeto de piada. Os religiosos não procuraram o menino Jesus mesmo tendo dito aos reis magos claramente sobre as profecias que eles conheciam.
Não há nenhum acadêmico ou teólogo que decide ir até Belém porque a visitação de Deus chegou na Terra.
De fato, Jesus vive na marginalidade da religião desde o início. A história de José e Maria está longe dos padrões da ética e moral.
Então você me pergunta: “Fábio, o que a gente aprende com o Primeiro Natal?”
A gente aprende que devemos nos calar diante de qualquer juízo e tentativa de interpretação do que está acontecendo na vida do outro.
Aliás, só Deus sabe o que acontece entre um homem e Deus debaixo do sol. Só Deus sabe o que acontece entre uma mulher e Deus nesta existência.
O fato é que a loucura de um megalomaníaco chamado Herodes fez com que a profecia fosse cumprida contra tudo e todos. E Deus sem pedir a validação da religião fez o seu filho Jesus nascer. Eu acho isto extraordinário.
Eles sabiam o texto. Eles conheciam o livro. Eles sabiam o endereço da “casa de Deus”. Eles conheciam a informação. Eles “viviam” dentro do templo. Mas Deus decidiu nascer fora do templo, numa gruta onde se revelou ao homem, tomando forma e tamanho do próprio homem.
Dito isto, eu termino esta coluna com o cântico de Maria. O cântico conhecido como Magnificat. O cântico da coragem de alguém que disse: “Sim, eis me aqui.”
O cântico de alguém que assumiu o risco do apedrejamento, mas viveu a experiência do Primeiro Natal para dentro e para além das circunstâncias.
Que Deus nos ajude a viver o Natal para dentro, fazendo com que as lindas e profundas palavras de Maria se tornem a realidade da nossa jornada espiritual neste Natal.
“Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais.” (Lucas 1:46-55)
Collonges-au-Mont-d’Or
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Uma resposta
Que Deus nos abencoe com a forca e coragem de Maria! Lindo texto Fabio!