Talvez a melhor palavra para definir ‘Gato de Botas 2: O Último Pedido’ seja crescimento. Quando o primeiro filme da franquia derivada de ‘Shrek’ foi lançado, em 2011, e o espectador teve a oportunidade de assistir a um filme solo do famoso gatinho – que ficou conhecido por seu fora da lei, sotaque espanhol e principalmente, pelo dom de manipular fazendo uma expressão fofinha – o que veio a público foi uma versão mais adultizada do herói, ainda que o cenário fosse um mundo de conto de fadas.
Claramente inspirado nos faroestes norte-americanos, a primeira versão do Gato de Botas, dublado por Antonio Banderas no inglês original, tinha um ar quase paródico de Zorro, mas sobretudo, um ar lendário. A animação lançada em 2011 entregou uma versão do personagem que se tornou uma lenda dentro daquele microcosmos de conto de fadas longe de Tão Tão Distante. Agora, com 11 anos de diferença, é uma surpresa ver que tudo aquilo apresentado no primeiro filme foi desvinculado da franquia e o resultado é uma continuação cuja história possui um ritmo completamente diferente. Tendo sido a quebra de expectativas proposital ou não, o acerto da Dreamworks não poderia ter sido maior.
O segundo filme da franquia traz, a princípio, um Gato de Botas completamente ególatra, obcecado por seus feitos lendários – como aquele apresentado no longa anterior – e pelo amor que recebe das multidões. No entanto, após morrer em mais uma de suas aventuras, o Gato, ainda dublado por Banderas, descobre que está na última de suas nove vidas. O único jeito de conseguir restaurar suas nove vidas é encontrar uma estrela mágica que realiza desejos, mas antes disso, ele precisará escapar de um assustador Lobo caçador de recompensas, que vai fazer de tudo para conseguir a cabeça do divertido gato.
Lidar com algo tão complexo quanto possuir apenas uma única vida para alguém que costumava ter nove é um processo que envolve muito medo, e o ponto mais forte do segundo filme é humanizar esse personagem, que é tão conhecido por sua personalidade arrojada, ao ponto de ele manifestar o medo como uma questão tão verdadeira e incômoda. Manifestando inclusive uma crise de pânico em uma das cenas, o protagonista se deixa abater e em todos os momentos fica muito claro que não existe fraqueza alguma nisso. Com tantos sentimentos conflitantes em jogo, pode-se dizer que essa nova versão do Gato desenrola seu crescimento pessoal e amadurecimento enquanto indivíduo, o que é realmente muito bonito de se ver tratando-se de um personagem tão querido.
Mas o crescimento mencionado não é apenas do herói. Há que se fazer uma menção honrosa à qualidade da animação que a Dreamworks entregou nesse segundo filme. Esse é o primeiro filme da franquia Shrek como um todo cujo estilo de animação diverge; com cores mais vibrantes, traços fluidos e até elementos 2D, que trazem realmente um quê de magia a mais, combinando com o universo de conto de fadas que está sendo exposto. Nesse sentido, essa é uma história que não só atesta o crescimento pessoal do gatinho, como também o crescimento técnico do próprio estúdio, que entregou uma das melhores animações de 2022 e cujo resultado faz jus ao universo de Shrek.
Em resumo, pode-se dizer que Gato de Botas 2 eleva o nível da franquia, sendo uma jatada de ar fresco no universo cinematográfico Dreamworks e uma excelente jornada de aprimoramento pessoal com muitas referências a contos de fadas conhecidos e amados. Ainda por cima, é o tipo de filme que pode agradar a gregos e troianos. Seja para ver sozinho, com seu amor ou com a família, essa história é versátil e atinge facilmente o coração de qualquer pessoa.
Por fim, uma vez que o segundo filme é totalmente descolado do primeiro, você não precisa necessariamente ter assistido o anterior para entendê-lo. Ou seja, é só correr para o cinema mais próximo e aproveitar essa animação surpreendente.
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Imagens: Foto divulgação – Filme O Gato de Botas: O Último Desejo – DreamWorks Animation