Parece que a vida é uma eterna comparação.
Quando somos jovens buscamos desesperadamente nosso lugar no bando, experimentamos tribos, participamos de movimentos, chegamos a nos expor sem limites. A vida era o agora, tínhamos que nos encontrar para sermos reconhecidos. A adolescência chega junto com os hormônios e ao mesmo tempo que acreditamos que podemos tudo, quando caímos desabamos como um prédio sendo implodido, uma viagem que parece sem fim para dentro de nós, um buraco negro onde nos esforçamos incansavelmente para que alguma luz surja de uma dessas ações e nos mostre com um pouco de clareza o que realmente importa.
Me lembro com muita clareza das crenças que eu tinha na minha adolescência. Eu realmente podia tudo. Não via limites para tentar nada, o risco era atraente e a medida das consequências nem mesmo existia. Éramos jovens bebíamos um pouco mais da conta, ultrapassávamos algumas vezes os limites do corpo e da lei, o mundo era nosso.
Até que vinham os encontros com a realidade, um hospital, meus pais na sala no meio da madrugada, policiais numa blitz e o mundo parecia desabar. Naquele instante a criança surgia sem pedir licença, chorando e pedindo perdão. No momento seguinte ao flagrante vinha um silencio ensurdecedor e a mente infantil projetava uma fase sem sofrimento aos 30 anos, sim essa era a minha fuga e foi uma crença até que eu cheguei nos 30 anos de idade. Quando jovem desesperado eu acreditava que na minha fase adulta (30 anos) eu não sofreria mais de alguns anseios, nem imaginava o quanto eu estava enganado.
Mas, crescemos, chegamos a fase adulta, e aí outras tribos, novos grupos e novas cobranças, logo novas comparações.
Amigos se formando na faculdade e você ainda não, conhecidos em bons cargos em grandes empresas e você ainda naquela empresa pequena do seu amigo ou amigo do amigo. Os casais se formando, casando-se, tendo filhos e você ainda naquela vida semiadolescente (se é que essa palavra existe) e o mundo te cobrando um lugar que você ainda nem pensou.
O tempo bate a sua porta e uma certa tristeza vem acompanhando a dúvida, será que eu deveria? Será que sou capaz? Será que é isso que eu quero?
Naquele momento eu não sabia, nem mesmo entendia, mas sofria. Como sofro até hoje com questões que batem a minha porta sem ser convidadas e nem mesmo avisando que chegariam. Tudo aquilo que sou acometido a viver e que nunca pensei sobre mim, me levam a estados de dúvida. O autoconhecimento é o melhor remédio para não sofrer por nada.
Assim é no nosso dia a dia. Quando saberemos que estamos melhores? Como saberemos que aqui é o nosso lugar? De onde virá a percepção que estamos realmente evoluindo? Essas são ótimas perguntas, de verdade, eu acredito que a vida só será verdadeiramente percebida e valorizada quando respondermos essas perguntas sem usar ninguém como referência. Sim, essa é a minha grande questão dessa reflexão, só teremos tranquilidade em respondermos essas perguntas para nós mesmos quando não nos compararmos a nada e nem ninguém. Só saberemos se estamos melhorando quando estabelecermos nosso próprio referencial e buscarmos melhorarmos diariamente sobre este referencial.
Talvez o meu comportamento diante o olhar do outro ainda parece sem evolução, mas eu sei como eu me comportaria naquela situação há um ano atrás e o quanto eu gostaria de agido de forma muito pior e me controlei. Eu sei o quanto venho sendo melhor que mim mesmo em muitas situações e são esses momentos de autoconhecimento e percepção que me mostram o quanto estou no caminho certo.
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