Venho escutando bastante profissionais não assumirem seus cargos como sendo, por exemplo, gestor. No lugar de dizer que é um gestor, eles dizem eu estou gestor.
Uma diretora abriu uma sala de treinamento dizendo “eu estou diretora, amanhã talvez esteja outra coisa”. Essas frases me incomodam e me fazem pensar profundamente o que exatamente eles querem dizer com isso? O que essas pessoas estão sentindo e planejando quando elas sentem a necessidade de NÃO se identificar e reconhecer como SENDO alguma coisa. Por que vem sendo tão frequente essas afirmações? Qual a necessidade interna que precisa ser atendida e que está por traz dessa necessidade tão transitória que vem impossibilitando que as pessoas SEJAM. Será que é pelo simples fato de romper com uma lógica sempre existente ou as pessoas realmente acreditam que esse lugar indefinido de transitório é sustentável?
Eu entendo as fases de amadurecimento psíquico e biológico, como a adolescência, onde a maioria de nós teve a dificuldade de se encontrar e ter clareza do que gostávamos e o que queríamos ser. Essa é uma fase que buscamos grupos, experimentamos ambientes e tentamos nos encaixar. E muitas vezes nos surpreendíamos que novas mudanças sobre decisões que pareciam certas. Passamos por estilos musicais, formatos de cabelos, seguíamos tendencias de moda e as vezes até fora de moda, o mundo era um portifólio de possibilidades e queríamos viver cada um deles de forma intensa. Mas, mesmo esse momento precisa passar.
Além disso acredito que a vida é feita de ciclos, vamos agindo diante a vida, essas ações vão trazendo resultados, as vezes bons e as vezes ruins, faz parte, não tem como garantir que sempre teremos êxito em nossas ações. Essas ações vão gerando experiencias porque a cada resultado vamos fazendo interpretações e vamos dando significados a tudo que vivemos e até mesmo ressignificando algumas coisas. E cada uma dessas experiencias vão gerando crenças que vão pautar nossas próximas ações e tudo vai começando e recomeçando. A grande diferença desses ciclos são as consequências que eles trazem e em quais nós reinvestimos. Se temos ciclos positivos que nos trazem boas e saudáveis experiencias vivemos ciclos virtuosos que se retroalimentam gerando ainda mais abundância. Agora, se ficamos presos a ciclos negativos, vitimizados e cheios de queixumes, tornam-se ciclos viciosos e que também se retroalimentam, mas de energias ruins.
A vida é feita escolhas e eu entendo todas as novas escolhas e mudanças que muitas vezes somos levados a fazer pelo próprio ciclo do desenvolvimento. Escolher mudar nunca foi e nunca será um problema. A questão aqui é achar que para ter o direito de escolha não podemos SER mais nada e ESTAR para tudo. Olha o nível do paradoxo, as pessoas passaram a acreditar que para SEREM o que quiserem não podem mais SER e sim precisam ESTAR, como se o fato de dizer que ESTÃO algo fosse a única forma de ter a escolha de SER outra coisa. Mas ao escolherem SER outra coisa, irão dizer novamente que ESTÃO outra coisa. Ou seja, no final das contas nunca SERÃO nada. E é esse nada que as pessoas não estão medindo as consequências, porque SER nada significa um esvaziamento de si mesmo e que pode levar a decisões completamente equivocados a respeito da sua própria existência.
Eu realmente não sei o que está acontecendo que dificulta tanto aceitar o que SOMOS, mesmo que em algum momento eu decida SER outra coisa. Mas que me permita durante aquele espaço tempo eu realmente me sinta ALGO CONCRETO. Parece uma bobeira de linguagem, mas não é. A linguagem é estruturante que quando começamos a nos organizar mentalmente com uma linguagem desestruturante os reflexos em todas as nossas relações com o mundo externo e com o nosso universo interno mudarão drasticamente, a ponto de não nos reconhecermos mais em nada e a vida perder seu sentido.
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